Por vezes há males que até podem vir por bem. Depois daquela derrota que foi um balde de água fria logo na primeira partida da ronda inicial do Campeonato, o Sp. Braga conseguiu levantar-se, conseguiu ganhar em Chaves num encontro onde ainda permitiu uma reviravolta pelo meio, conseguiu o primeiro grande objetivo da temporada que passava pela terceira entrada de sempre na fase de grupos da Champions, conseguiu ainda resgatar um empate na receção ao Sporting e conseguiu mais um triunfo ao cair do pano com o Moreirense. Conseguiu muito. Tanto que pareceu ser demais na primeira parte do último jogo no Algarve, onde o Farense encaixou a atitude positiva em campo com sinais de deslumbramento dos minhotos para voltar a vergar os bracarenses. Agora, em dia de estreia na Liga dos Campeões, surgia uma possibilidade de redenção.

“Temos nove jogos e ganhámos seis, o arranque da Liga é que não tem sido coincidente com o que são as nossas ambições. Temos que olhar para esta competição com a mesma ambição mas não obrigação, e isso pode aliviar a carga emocional dos jogadores. Mas desfrutar não é jogar por jogar. A competição não pode ser um problema mas a solução para o nosso crescimento enquanto equipa e clube. É necessário haver equilibro face às expectativas e vamos ter um Sp. Braga que vai procurar não se encolher e ganhar o jogo, é o ADN desta equipa. Reflexões sobre o jogo em Faro? A reflexão é normal e natural, faço sempre em cima de vitórias ou derrotas. Este jogo em nada alterou o nosso trabalho diário. Tivemos quatro dias para trabalhar e não tenho qualquer dúvida sobre o onze. Apresentaremos a melhor equipa”, garantira o técnico Artur Jorge.

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“Nas competições internas temos um contexto ligeiramente diferente deste, não na ambição e determinação, mas na mais-valia do nosso oponente. Estamos num grupo com três equipas extremamente fortes, vamos ser postos à prova com uma exigência máxima, e isso obriga a uma readaptação na abordagem ao jogo, muito mais rigorosa e comprometida, estrategicamente mais bem desempenhada para estarmos ao nível do que o jogo nos possa trazer. Vamos jogar frente ao campeão italiano, uma equipa fortíssima, mas temos a possibilidade de discutir o jogo até ao fim. Um dos aspetos fundamentais é ter a ambição de ganhar e nunca nos podemos cansar de ganhar. Sabemos do contexto em que estamos, é importante a gestão das expectativas, não ser uma competição que nos castre no gozo de disputar. Queremos ser leves e desfrutar da competição, mas com uma mentalidade ganhadora que queremos passar da teoria à prática”, acrescentara.

Mesmo partindo em desvantagem naquilo que eram as previsões realísticas (tal como acontecia com a equipa Sub-19, que acabou por ganhar por 1-0 aos italianos na Youth League), havia razões para o Sp. Braga não ter vergonha de acreditar. Porque a equipa já mostrou momentos de futebol que se coadunam com um plantel com mais e melhores soluções ente oito internacionais portugueses. Porque o próprio Nápoles agora com Rudi García no comando está longe daquilo que apresentou com Luciano Spalletti não só no último ano do título mas também há duas épocas quando deixou um primeiro “aviso” para a conquista da Serie A, algo que depois da derrota com a Lazio e do empate frente ao Génova (após ter estado a perder por 2-0) colocou algumas dúvidas na imprensa transalpina sobre as razões para a quase mesma equipa jogar menos.

“É um adversário que tem muita qualidade individual e que se traduz na força do coletivo. Mudou de treinador, foi dominador no ano passado, mas mantém a mesma força e que teremos de contrariar, sempre com ambição para sermos competitivos e discutir o jogo. O Nápoles joga em 4x3x3, com dois alas muito abertos e no ataque à profundidade. Tem largura com bola, tem médios muito móveis e procura alterar a sua construção. Tem a sua variabilidade mas mantém a largura através dos laterais ou alas, procurando o ponta de lança para finalizar as suas jogadas. É uma opinião generalizada que será mais difícil para o Sp. Braga, há esse sentimento. Em termos teóricos, há uma equipa favorita, que é o Nápoles, mas isso não invalida a nossa ambição e, para uns, surpreender o adversário”, referira Artur Jorge, recordando também as alterações que foram promovidas na última ronda pelo campeão italiano já a pensar no jogo na Pedreira.

No final, escreveu-se o texto previsível mas por linhas tortas. Se é certo que, em termos globais, o Nápoles foi superior frente a um Sp. Braga que nunca virou a cara à luta, a reação que os minhotos conseguiram ter nos 20 minutos finais mostrou que a possibilidade de conseguir pelo menos um ponto era mesmo real. Aliás, só não aconteceu por dois lances de azar como os que os transalpinos tiveram na primeira parte: após o empate de Bruma, que fez um jogo fabuloso do início ao fim e merecia mais na noite de regresso da equipa arsenalista à Liga dos Campeões, os campeões transalpinos chegaram de novo à vantagem com um autogolo e ainda viram Pizzi acertar com estrondo no poste no quinto e último minuto de descontos na Pedreira.

Ficha de jogo

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Sp. Braga-Nápoles, 1-2

1.ª jornada do grupo C da Liga dos Campeões

Estádio Municipal de Braga

Árbitro: Serdar Gözübüyük (Países Baixos)

Sp. Braga: Matheus; Víctor Gómez, José Fonte, Niakaté, Borja (Adrian Marín, 85′); Al Musrati, Vítor Carvalho (Zalazar, 67′); Álvaro Djaló (Banza, 77′), Ricardo Horta, Bruma e Abel Ruíz (Pizzi, 85′)

Suplentes não utilizados: Hornicek, Saatçi, André Horta, Paulo Oliveira, Mendes, Rony Lopes, João Moutinho e André Castro

Treinador: Artur Jorge

Nápoles: Meret; Di Lorenzo, Juan Jesus, Rarhmani (Östigard, 13′), Olivera; Anguissa, Lobotka, Zielinski (Natan, 90′); Politano (Elmas, 66′), Kvaratskhelia (Raspadori, 66′) e Osimhen (Simeone, 90′)

Suplentes não utilizados: Contini, Idasiak, Mário Rui, Zanoli, Gaetano, Lindstrom e Zerbin

Treinador: Rudi Garcia

Golos: Di Lorenzo (45+1′), Bruma (84′) e Niakaté (88′, p.b.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Anguissa (19′), Osimhen (41′), Álvaro Djaló (44′), José Fonte (55′), Politano (56′), Borja (66′), Raspadori (79′), Olivera (86′) e Juan Jesus (90+3′)

O encontro começou com as duas equipas ligadas à corrente e com as duas defesas a fazerem por mais do que uma vez curto-circuito perante a capacidade dos ataques. Ricardo Horta, na sequência de uma jogada de envolvimento, teve um remate à entrada da área naquilo estilo de passe à baliza para grande defesa de Alex Meret para canto (3′) e logo de seguida foi Osimhen a aproveitar um atraso mal medido de José Fonte para surgir isolado numa situação de 1×0 travada de forma superior por Matheus (5′). Não iria ficar por aí: após um lance em que Bruma adiantou em demasia a receção na área antes do remate, o Nápoles aproveitou um livre lateral na esquerda para acertar no poste de cabeça por Osimhen antes de Di Lorenzo, na insistência, obrigar Matheus a mais uma grande defesa para canto (11′). Golos nem um para amostra.

Parecia ser uma questão de tempo mas os deuses pareciam estar com o Sp. Braga (quase a 100% mas já explicamos o porquê). Álvaro Djaló teve um livre direto para voltar a arriscar uma gracinha como a que tinha feito frente ao Sporting mas o remate, passando a barreira, bateu no poste que segura as redes para lá da linha de fundo (20′). Logo a seguir, Politano trabalhou na direita, cruzou para a zona a pedir matador na área mas o desvio de Osimhen de cabeça saiu ao lado, sendo que o avançado de quem Aurelio Di Laurenttis disse ao Al Hilal que por 200 milhões só conseguiam levar um pé voltou a brilhar uns minutos depois com um remate à entrada da área que bateu com estrondo na trave (25′). Abel Ruíz, num desvio na sequência da melhor transição ofensiva dos minhotos, também deixou um aviso mas a melhor chance viria de Östigaard, que rendera o lesionado Rrhamani, que quase fez autogolo a cortar um passe que iria isolar Ruíz (30′). Só mesmo nos descontos surgiria o 1-0, com Di Lorenzo a aproveitar bem uma segunda bola na área (45+1′).

Nunca existem alturas boas para sofrer, existem alturas piores para sofrer. Foi isso que aconteceu à formação minhota, que depois de resistir ao assédio ofensivo dos transalpinos, acabou por sair em desvantagem para o intervalo permitindo que o Nápoles entrasse numa zona de conforto na partida a gerir o avanço sempre a ver o jogo de forma vertical em busca de transições que pudessem arrumar de vez a questão como aconteceu por mais duas vezes pelo inevitável Osimhen, com dois remates que passaram muito perto do poste a seguir a uma ameaça de cabeça de Anguissa após bola parada que Matheus conseguiu defender para o lado (49′). Era isso que Artur Jorge começava a analisar no sentido de poder promover mudanças que trouxessem uma outra acutilância ofensiva e permitissem que o campeão italiano tivesse de descer as suas linhas a seguir ao primeiro lance de perigo dos minhotos na segunda parte com Horta a atirar perto do poste (62′).

Zalazar entrou para o lugar de Vítor Carvalho sem que a troca tivesse alterado muito. Aliás, o próprio jogo já tinha mudado perante um Nápoles que tinha menos capacidade de saída e começava a tentar fazer períodos de posse mais largos para gerir a vantagem perante um Sp. Braga que ia subindo linhas assumindo a maior exposição à profundidade em busca de um momento que pudesse permitir resgatar pelo menos um ponto, que seria importante nas contas do grupo. Ele acabou mesmo por aparecer, com Bruma a desviar de cabeça na área sem hipóteses para Alex Meret e a fazer o empate (84′) que colocou a Pedreira ao rubro mas apenas por quatro minutos, altura em que Zielinski apareceu na esquerda, cruzou tenso e Niakaté já não foi a tempo para corrigir a posição e evitar o desvio para a própria baliza (88′). Ricardo Horta, em cima do minuto 90, ainda teve um remate a rasar a trave da baliza dos transalpinos mas o 2-1 não mais seria revertido apesar de uma bola ao poste de Pizzi no quinto e último minuto de descontos após assistência de… Bruma.