O Sporting conseguiu ser desconcertante. Como se a generalidade das pessoas dormisse de dia e trabalhasse à noite. Como se fizesse frio no verão e quente no inverno. Como se se ouvisse com a boca e se falasse com os ouvidos. Em resumo, os leões, desprovidos de manual de instruções, funcionam ao contrário, ainda que dominem na perfeição a arte de tornar difícil o que parece fácil.

Imbuídos pelo regresso dos Morangos com Açúcar, os rapazes de verde e branco fizeram por merecer um papel principal na série, tal a fidelidade que tiveram para com o enredo tradicional. Existe sempre um rapaz cool que respeita as regras da contemporaneidade da moda e, cheio de estilo, chora se perde seguidores no Instagram para os concorrentes diretos pela miúda com quem quer ter um amor de verão. Depois, há o certinho que conquista a rapariga mais bonita da escola com os seus bons modos. Habitualmente, é uma espécie de ser humano solitária e que possui uma relação de amizade com o silêncio. Esse foi Coates.

Logo nos primeiros minutos deste episódio, a exuberância de Gyokeres no contacto físico com os adversários deu demasiado nas vistas. O árbitro, guionista de tudo isto, mostrou o cartão vermelho e o sueco foi mais cedo ver como estava o bar da praia. A tragédia parecia ter acabado com as esperanças do Sporting alcançar a vitória no jogo com o Raków na Liga Europa. Só que lá apareceu Coates (14′), qual cavaleiro andante, para, assim que o avançado saiu de cena, fazer a equipa verde e branca sonhar com a vitória (a tal rapariga mais bonita da escola). A verdade é que acabou por ir tudo por água abaixo e, como na série, ninguém se ficou a rir de ninguém.

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Já era de esperar algumas dificuldades no jogo. Afinal, passar de uma eliminatória da Taça de Portugal contra o Olivais e Moscavide, equipa da distrital de Lisboa, para um jogo da Liga Europa é uma maneira inovadora de apanhar uma constipação. O choque, não sendo térmico, é de uma dimensão substancial, propício a causar problemas graves na saúde de uma equipa, principalmente quando se teve dificuldades para ultrapassar o primeiro nível e se avança para o próximo. É de igual modo compreensível que o Sporting, em condições de motivação normais, esteja num nível acima daquilo que era apresentou no último encontro, onde não fosse a inspiração de Geny Catamo e o abalo podia ter sido ainda maior.

Uma vitória na visita ao Sturm Graz (1-2) e uma derrota em casa com a Atalanta (2-0) deram, à entrada para a terceira jornada, três pontos ao Sporting no grupo D. Era importante melhorar o registo para não deixar escapar ainda mais os italianos no primeiro lugar, o único que vale o acesso direto aos oitavos de final. Para arrastar as decisões até Bérgamo, os leões tinham que cumprir na viagem à Polónia, país onde, nos dois únicos encontros disputados, a equipa de Alvalade também não tinha conseguido vencer.

Pela frente, os jogadores treinados por Rúben Amorim tinham o Raków, uma espécie de Leicester à moda polaca. Em 2019, pela primeira vez em 21 anos, a equipa da cidade de Częstochowa subiu à primeira divisão e há sete anos o clube ainda estava no terceiro escalão. Na temporada passada, este emblema conseguiu ser campeão pela primeira vez na história e garantiu o direito a participar na qualificação da Liga dos Campeões onde foi eliminado pelo Copenhaga após ter superado o Qarabag e o Aris Limassol.

Rúben Amorim já tinha anunciado que Morita e Pedro Gonçalves iam ser titulares. Depois de um jogo contra um adversário de nível inferior, podia-se esperar que, desta vez, o técnico leonino apostasse no melhor onze para defrontar o Raków até por causa das declarações que teve antes do encontro. “Queremos jogar com a melhor equipa porque o jogo é crucial”. Apesar do reconhecimento feito pelo treinador, Adán, habitual titular, ficou no banco se suplentes, sendo Franco Israel a assumir a baliza leonina pelo segundo encontro consecutivo. Hjulman fez dupla com o japonês no meio-campo, sendo que Gyokeres recuperou o lugar na frente. Quanto ao corredor esquerdo, Matheus Reis ocupou a posição que foi de Pedro Gonçalves (de forma improvisada) contra o Olivais e Moscavide. Do lado oposto, Esgaio levou a melhor em relação às opções – Fresneda e Geny Catamo – testadas na Taça.

O técnico do clube de Alvalade optou por não fazer nenhuma substituição quando Gyokeres viu o cartão vermelho após pisar Arsenic, defesa croata que saiu lesionado, tal a dureza da entrada. O Sporting esteve relativamente confortável em inferioridade numérica. Só nos minutos finais da primeira parte é que os leões cederam ligeiramente. Plavsic, sérvio do Raków, começou a ser efetivo pela esquerda e cruzou para Rundic e Yeboah criarem perigo.

De qualquer forma, nenhum dos dois atacantes da equipa polaca ficou tão perto do golo como Jean Carlos, que rendeu Arsenic. O brasileiro, a meias com Matheus Reis, acabou por atirar ligeiramente ao lado quando Franco Israel estava batido. O empate acabou por chegar dentro dos dez minutos finais. Piasecki (79′) tinha acabado de entrar e desviou ao segundo poste um passe de Kochergin. Estava feito o empate que podia ter ficado desfeito logo a seguir, mas o lance que daria a vantagem ao Raków acabou anulado por fora do jogo. A partir daí, foi sempre a sofrer. No entanto, o empate (1-1) acabou por permanecer no marcador. Os polacos conquistaram o primeiro ponto na prova enquanto que os leões cedem pela segunda jornada consecutiva e perdem uma oportunidade para se aproximarem do lugar de acesso direto aos oitavos de final, pois o Sturm Graz e a Atalanta também empataram (2-2)

Fabian Piasecki empata para o Rakow. #sporttvportugal #EuropanaSPORTTV #LigaEuropa #Rakow #Sporting pic.twitter.com/B62ZHz5gmI

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