Se se tivesse formado um bocadinho mais abaixo no Atlântico chamava-se Domingos e teria sido batizada pelos meteorologistas franceses. Mas nasceu entre o Canadá e a Gronelândia e os ingleses anteciparam-se: deram-lhe o nome de Ciarán. Para o que nos importa é que, sim, será mais uma tempestade com uma frente que vai afetar Portugal, sobretudo a zona Norte, com ventos muito fortes, ondas até 14 metros e chuva na quarta e quinta-feira. E que depois deixará frio e até neve.

Ondas até 17 metros, ventos de 150 km/h e neve. Marinha e Proteção Civil emitem alertas para as próximas 48 horas

Só que a Ciarán será mais do que isso: é a depressão mais grave e profunda da temporada, que se vai abater sobre o Reino Unido e parte da Europa e deixar, depois, entrar várias frentes húmidas e frias no nosso país. Ou seja, vamos entrar em novembro com o mesmo tempo das últimas semanas, mas agora com tempestades vindas de onde deveriam vir nesta altura do ano: da zona dos polos, com frio associado.

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Trocando por miúdos. Chamam-lhe um ciclone bomba, porque a forma como evoluiu o tornou raro, mesmo muito raro. Falamos de uma tempestade em que a pressão atmosférica deve cair 29 hPA num só dia, quando o limite de uma ciclogéneses já explosiva na nossa latitude costuma ser de 20/24 hPa em 24 horas. Ou seja, a intensificação vai acontecer de uma forma extremamente rápida, daí tornar-se tão violenta.

Ondas até 17 metros, ventos de 150 km/h e neve. Marinha e Proteção Civil emitem alertas para as próximas 48 horas

O centro da tempestade atingirá essencialmente o Reino Unido e depois mover-se-á para França e Países Baixos. Mas não ficaremos livres dos seus efeitos. Este sistema de baixas pressões (na sua génese é o que é) arrastará uma enorme frente extremamente ativa, que deverá atravessar Portugal logo na noite/madrugada do feriado do dia de Todos os Santos (1) e ainda apanhar o dia de Finados (2). Prevê-se que provoque um enorme temporal de vento (além de chuva), com rajadas acima dos 100 km/h, daí a agitação marítima.

Trata-se, contudo, de uma tempestade muito mais normal para esta altura do ano que o Aline ou o Bérnard, cujos núcleos eram quentes e arrastavam massas tropicais de ar quente e húmido e enorme volume de vapor de água que se transformava em rios atmosféricos, provocando os danos conhecidos.

O temporal entrará, como já se disse, no nosso país quarta-feira à noite, com vento muito forte e chuva na zona norte e uma costa muito agitada, com ondas de 7 metros, mas que podem atingir uma altura máxima de 14: sete distritos já estão sob aviso laranja para agitação marítima entre as 3h e as 6h da manhã de quinta (Porto, Viana do Castelo, Lisboa, Leiria, Aveiro, Coimbra e Braga). Mas a chuva, que começará também a norte (também há já avisos amarelos), acabará por afetar o resto do país, ainda que de forma fraca o Alentejo e Algarve.

Só que a frente associada à Ciarán traz também, além de chuva e vento, frio. Porque permitirá que desça sobre a zona da península uma massa de ar polar gelada, fazendo descer as temperaturas, sobretudo as mínimas, no interior norte e centro, onde podem cair abaixo dos 10ºC. Deverá mesmo cair alguma neve nas terras mais altas (Minho e Trás-os-Montes, além da Serra da Estrela).

E ao mesmo tempo que a Ciarán entra pela Europa central, outras tempestades vão continuar a chegar ao nosso país. Para não lhe continuar a chamar comboio, há quem lhe chame também rosário de tempestades, cujo fluxo constante e consecutivo está de facto a tornar-se anormal, apesar da época do ano. A próxima poderá chegar logo a seguir, no sábado, dia 4.