Parecia que estava escrito. Por mais que Sérgio Conceição e Pepe fossem pedindo à equipa para serenar, para jogar o seu futebol, para variar de forma rápida os corredores e para nunca deixar espaços para as transições ofensivas contrárias, havia sempre algo que ficava engasgado entre as intenções e a prática. Porque o passe não saía, porque a bola não entrava, porque a marcação não acertava. Foi assim que, em pouco mais de um minuto, se viveram emoções distintas, dos assobios após um golo falhado por Muja num remate que saiu a rasar o poste de Diogo Costa à euforia do 2-0 que sentenciou a partida. João Mário recebeu o prémio de MVP da UEFA, Pepê foi dos melhores em termos estatísticos mas a noite pertenceu ao capitão e ao técnico.

O eterno Pepe evitou a queda do Carmo e da Trindade (a crónica do FC Porto-Antuérpia)

Do lado de Pepe, vitória à parte, fez história. E fez história porque, aos 40 anos a caminho dos 41, voltou a ter mais uma exibição de gala e tornou-se mesmo o jogador mais velho a marcar na Liga dos Campeões, superando o registo que pertencia a outro eterno capitão mas da Roma, Francesco Totti. Mais: o central voltou aos golos mais de um ano e meio depois de marcar pela última vez ao Portimonense, naquele que foi o primeiro golo na Champions em 11 anos e ainda o primeiro pelo FC Porto na Champions… 18 anos depois.

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“É um dia especial para mim porque a minha mãe faz anos e tinha-lhe dito que ia fazer de tudo para conseguir marcar um golo, que se não conseguisse marcar, ia fazer de tudo para lhe dar uma vitória. É um sentimento incrível porque quem chega a esta idade a competir a este nível, poder representar um grande clube como o FC Porto… É muito trabalho, muito sacrifício, uma paixão tremenda por este desporto. É abdicar de momentos com a família, que são extremamente importantes. Tenho de desfrutar ao máximo, as minhas filhas sabem que sou muito feliz a fazer o que faço. Lembro-me de quando era um menino que sonhava a jogar futebol e fazer o que mais amo. Tenho de continuar com esta estrelinha e esta paixão. Sei que falta muito pouco para terminar mas no pouco que falta vou fazer os possíveis para honrar este desporto e o FC Porto”, comentou o internacional português em declarações à DAZN Portugal.

“Se vou festejar? Sinceramente não sou muito de festejar. Até tenho medo de festejar, não gosto muito… Mas é um dia especial, estou há muitos anos longe dos meus pais, optei por vir para Portugal, tentei sempre dar o meu melhor na Seleção, no FC Porto e por onde eu passei. Sou aquilo que sou, procuro defender o meu prato de comida, a cada hora, minuto e segundo. Muita das vezes falho, como todos os seres humanos o fazem, mas faço as coisas a pensar no amanhã. Respeito os meus companheiros, os meus adversários e tento sempre dar o meu melhor”, acrescentou ainda Pepe na zona de entrevistas rápidas.

Também Sérgio Conceição deixou palavras especiais ao central, no dia em que alcançou a 250.ª vitória pelo FC Porto (também ele um marco histórico no clube). “Palavrinha extra ao Pepe? De facto ao terceiro dia também lhe dou recuperação, aí é diferente dos outros… Como já disse algumas vezes, é talvez o jogador mais competitivo com o qual já trabalhei não só enquanto treinador mas também como jogador, tive muitos companheiros no futebol profissional e como costumo dizer ele é um animal competitivo incrível porque coloca o futebol e no fundo a família também acima de tudo o resto e faz verdadeiramente sacrifícios para estar assim com 40 anos”, comentou o técnico dos azuis e brancos, que esclareceu ainda a questão do marcador do penálti: “Se eu disse alguma coisa no momento? Não, tinha dito antes ao nosso capitão…”.

“Vitória difícil? Estamos na Champions, o quadro que pintaram é que leva as pessoas para pensamentos diferentes daqueles que temos após feita a análise e a prova disso é o Shakhtar, pelos dois jogos que fizeram com o Barcelona, quando antes desvalorizaram a nossa vitória mas é o que é, estamos em Portugal. O ano passado com o Club Brugge também tivemos dificuldades, estamos na maior prova de clubes do mundo e todos os jogos são difíceis. Gostei da primeira parte, os jogadores respeitaram aquilo que queríamos para o jogo. Com bola e sem bola estávamos bem. Na segunda parte, depois da expulsão, foi normalíssimo o Antuérpia baixar a equipa, mas continuámos com a mesma impaciência e a senda de falhar alguns golos cantados. O Muja falhou o empate aos 88′, depois pusemo-nos a jeito para sofrer um dissabor e depois fizemos o golo. Os jogadores estão de parabéns. Mas há um caminho a fazer, de uma equipa que tem muitos jovens e que está a evoluir diariamente”, comentou o técnico em relação ao jogo frente aos belgas.