O penúltimo fim de semana foi terrível para o FC Porto, que perdeu em casa com o Estoril e viu Sporting e Benfica cumprirem nos seus compromissos com Estrela da Amadora e Desp. Chaves, o último fim de semana virou essa realidade com um triunfo dos dragões em Guimarães e uma vitória dos encarnados no dérbi com os leões que deixou a formação de Sérgio Conceição apenas a três pontos da liderança do Campeonato e em boa posição para assegurar a passagem aos oitavos da Liga dos Campeões. Significa isto alguma coisa numa antecâmara de Assembleia Geral Extraordinária dos azuis e brancos? Não, mas sim. Não porque a mudança de estatutos nada tem a ver com o rendimento desportivo de futebol e modalidades. Sim porque todos os atos do clube na antecâmara das eleições serão avaliados também perante aquilo que a equipa fizer, algo que nas últimas décadas se viu no Benfica e no Sporting e pode agora chegar também ao FC Porto.

“Pinto da Costa não precisa de achincalhar adversários tão alto está o seu pedestal”, diz Villas-Boas (que ainda não decidiu se avança)

E pode porque, essencialmente, passou a existir uma oposição a Pinto da Costa. A entrada de José Fernando Rio e Nuno Lobo nas eleições de 2020 acabou por não ter nos anos seguintes a expressão que o resultado nas urnas alcançou (juntos tiveram mais de 30%, com 26,44% para o primeiro) mas o anúncio de André Villas-Boas em relação ao próximo sufrágio, mostrando-se disponível e preparado com uma candidatura contra o atual líder dos azuis e brancos, acabou por agitar o universo portista como há muito não se via. Pinturas das paredes da moradia do antigo treinador à parte, até em pequenos detalhes se notava aquilo que antes nunca existia (pelo menos em termos públicos) com trocas de palavras mais azedas entre sócios mais “conhecidos” entre os pedidos de comparência na reunião magna na noite desta segunda-feira.

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“O que mais me choca é a forma leviana e de cavaqueira com que se apresentam 50 milhões de prejuízo”, critica André Villas-Boas

“Caros sócios do FC Porto, realiza-se amanhã [segunda-feira], dia 13 de novembro pelas 21h, no Estádio do Dragão, a Assembleia Geral Extraordinária com vista à mudança dos Estatutos do FC Porto. Um momento de elevada importância para o futuro do nosso clube, onde a comparência de todos os sócios é fundamental tendo em conta as propostas apresentadas pelo Conselho Superior. Não falte! A sua participação é essencial. Eu marcarei presença para dar o meu contributo”, escreveu André Villas-Boas este domingo sobre uma reunião magna para sufragar várias mudanças nos Estatutos do clube, as principais com a colocação das eleições até junho (e não abril) e a passagem do direito de voto para dois anos de filiação sénior (e não apenas um), entre mais mudanças como a obrigatoriedade de o clube deter “sempre, direta ou indiretamente (…)” a maioria do capital social da SAD ou os 15 anos em vez de dez de associado para os presidentes da Direção (os vice-presidentes também passariam dos atuais cinco para dez).

A aprovação necessitava de 75% de votos a favor dos associados, sendo que as últimas semanas também foram quase “anunciando” uma enchente muito maior do que é normal numa Assembleia Geral do clube azul e branco. Uma enchente que se calhar nem nas melhores expetativas se esperasse que fosse tão grande, a ponto de haver um espaço para 400 pessoas quase repleto quando estavam cerca de 3.000 à espera numa longa fila que já ia pelo interior do túnel rodoviário, entre alguma agitação policial depois de terem sido rebentados petardos e deflagrados potes de fumo no P1 que provocou movimentações e pouco mais. Além de José Fernando Rio, Nuno Lobo ou o ator Pedro Teixeira, André Villas-Boas também era um dos associados na fila e foi recebido com muitos aplausos, entre cumprimentos, fotografias e autógrafos.

De forma natural, o presidente da Mesa da Assembleia Geral, Lourenço Pinto, adiou o início dos trabalhos durante 45 minutos para que os trabalhos fossem alterados para o Dragão Arena, que tem capacidade para 2.200 espectadores nos habituais jogos das modalidades. Entretanto, no interior da sala no Estádio do Dragão, ouviam-se cânticos dos Super Dragões por Pinto da Costa (e que se alargaram depois ao pavilhão); cá fora, Villas-Boas tinha a primeira intervenção pública da noite, criticando a falta de condições para a realização da Assembleia Geral Extraordinária para alteração de alguns pontos dos estatutos.

“Lamentavelmente, fica registada hoje a falta de organização da Assembleia Geral Extraordinária. Quero agradecer a todos os associados aqui presentes, que sentem o FC Porto de uma maneira muito intensa, que marcaram presença e que esperavam uma outra organização. Foi-nos dada a informação de que o presidente da Mesa da Assembleia Geral queria mudar para outro local, tendo em conta as filas que se propagam até à rotunda da VCI. Não há condições para se tomar qualquer decisão nesta AG, por isso peço ao presidente da Mesa que reconsidere, que remarque esta AG para um local e uma hora apropriadas para que todos os sócios possam votar livremente”, destacou o antigo treinador dos azuis e brancos na época de 2010/11.

A Assembleia Geral começou mesmo já depois das 22h30 marcadas após o adiamento, com Lourenço Pinto a explicar que, caso as alterações aos Estatutos fossem aprovadas, as eleições em 2024 seriam sempre no mês de abril, fechando com isso a possibilidade de ficarem para junho. No entanto, alguns minutos depois, algumas agressões entre associados fizeram com que os muitos sócios deixassem o local numa fase em que os trabalhos da reunião magna foram interrompidos. Mais: essas mesmas pessoas foram depois fazer queixa à polícia, que estava nas imediações da Dragão Arena, mas as autoridades explicaram que, tratando-se de um evento privado, só poderiam entrar no recinto caso o próprio clube chamasse as mesmas (algo que já se viu também em Assembleias Gerais do Sporting e do Benfica). As explicações prosseguiram, sendo que a segurança privada foi chamada para serenar os ânimos numa das bancadas onde tudo aconteceu.

“Na votação final optei pela abstenção para poder estar aqui como presidente mas também como associado dar a minha opinião. Não estou a apegado ao lugar, por isso peço a todos que me ouçam. No artigo 51 do período eleitoral diz que a eleição pode ser até junho, quando era até abril. Os senhores associados votarão com a certeza de que se votarem até junho, eu tenho um acordo com o presidente da AG de que o ato eleitoral será em abril. Acho que deve ficar como estava e não se deve acrescentar para que não haja dúvidas. No artigo 26 B, quando diz que é necessário dois anos de associado, sendo um na categoria sénior e outro júnior, eu entendo que isto está mal. Se aos 18 anos os nossos jovens podem votar para o Presidente da República também devem poder votar no FC Porto”, tinha dito antes o presidente do clube, Pinto da Costa.

A Assembleia Geral voltou depois à ordem dos trabalhos para discussão dos pontos dos Estatutos que seriam sufragados pelos associados (necessitando dos tais 75% de aprovação) mas nova altercação quando um sócio estava a usar da palavra a criticou o que estava a ser discutido motivou mais uma vaga de agressões, nova debandada de centenas de pessoas e a suspensão com cancelamento da reunião magna por parte do líder da Mesa da Assembleia Geral, José Lourenço Pinto, para a próxima segunda-feira, dia 20. Em que condições, onde e como, ainda está por definir. No entanto, tudo aquilo que aconteceu, que não acontecia há décadas no universo azul e branco, vai levantar várias ondas, até pelos vários relatos que foram sendo feitos de sócios que deixavam o Dragão Arena a queixarem-se do condicionamento e das agressões quase gratuitas a qualquer pessoas que tivesse intenção de manifestar uma opinião que não fosse a favor de Pinto da Costa.

“Assembleia Geral Extraordinária Suspensa. Um dos dias mais negros da história do FC Porto. Sem vergonha, sem escrúpulos, sem respeito nenhum pelos associados deste grande clube. Dia 20 de Novembro os Sócios marcarão de novo presença. O FC Porto precisa de se encontrar nos seus princípios, nos seus valores e nas suas bases. O que se passou hoje não poderá nunca voltar a repetir-se”, comentou de seguida André Villas-Boas através da sua conta oficial no Instagram, que teve depois várias mensagens de apoio. Antes, Nuno Lobo, candidato derrotado no último sufrágio, já tinha assegurado que iria impugnar qualquer decisão que saísse da Assembleia Geral tendo em conta que existiam ainda várias dezenas de associados sem possibilidade de entrar no recinto apesar de serem sócios. Uns minutos depois, tudo acabou suspenso.