Primeiro as imagens, depois os vídeos, agora alguns áudios. Naquele que foi o day after de uma Assembleia Geral Extraordinária do FC Porto que vai prosseguir na próxima segunda-feira, após ter sido suspensa pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube mas que não teve precedentes nas últimas quatro décadas, e entre condenações de todos pelas agressões e críticas feitas por André Villas-Boas à organização da mesma (apontando mesmo o dedo à passagem de credenciais que não deviam ser passadas a não sócios), ficou também a saber-se o motivo que inflamou a reunião magna pela segunda vez, neste caso na sequência da intervenção de um associado, Henrique Ramos, a propósito das Casas do FC Porto.
Henrique Ramos começou por enunciar dezenas de Casas do FC Porto não só em Portugal mas também espalhadas pelo mundo, ouvindo uns primeiros apupos e algumas “bocas” quando ia na parte final da lista, para depois dizer o seu ponto em comum: “Não têm qualquer espaço físico”. A partir daí, começou a parte do discurso que acabou por ser mais criticada por alguns dos associados presentes no Dragão Arena.
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“Basta ir ao site do FC Porto, das Casas do FC Porto, e ver que elas não obedecem aos estatutos. Então, como é que nós podemos estar aqui a discutir financiamentos de Casas quando elas não são. A única coisa para que servem é para pagar outras casas a funcionários do FC Porto”, apontou, ouvindo-se depois muitos aplausos nessa parte da intervenção entre críticas também elas audíveis no Dragão Arena. “Há poucas Casas que merecem respeito…”, continuou, sendo depois interrompido com uma resposta: “Se quiseres falar vens aqui, se fores sócio…”. Os ânimos começaram a aquecer, com alusões a conversas nas redes sociais e a mensagens que terão sido trocadas com alguns associados. “Cala-te, és um vira-casacas, vendido. Vai lá para as redes sociais dizer mal do clube, car****”, ouviu-se já com o ambiente muito crispado no pavilhão.
Henrique Ramos voltou a desafiar um sócio para “pegar no cartão” e ir ao palanque reproduzir o que estava a dizer. “O que eu queria dizer é que esta lista está desatualizada porque se vamos buscar nas listas que têm os espaços físicos, vamos ver a morada que lá têm e encontramos um snack bar na letra A. Se formos para a letra B temos Barcelos…”, prosseguiu antes de ser interrompido agora por Lourenço Pinto, presidente da Mesa da Assembleia Geral do FC Porto. “Gostava de saber como é que um clube como o FC Porto quer propor que haja eleições e semear urnas por Portugal inteiro, em Casas que não obedecem aos estatutos, que não têm tetos e só servem para pagar outros tetos e por não estarem dentro dos estatutos não podem receber mesas”, acrescentou, antes de ouvir as críticas de mais sócios. “Peço desculpa à meia dúzia de Casas do FC Porto que cumprem mas as Casas do FC Porto só servem para os funcionários”, referiu ainda.
“O ponto que despoletou a confusão foi falar das Casas do clube, numa alteração aos estatutos que permitia que se votasse nas Casas, Casas essas que, segundo os estatutos em vigor, têm que ter um espaço físico. No site do clube está lá a lista e muitas delas não têm espaço físico, outras têm moradas que estão alteradas. As Casas só servem é para compra do poder e para enriquecimento às custas das mesmas. Tudo isto foi desenhado por um administrador que lá está há décadas e a prova disso é que ontem os visados sentiram-se ofendidos”, comentou na noite desta terça-feira Henrique Ramos, em declarações à TVI.
“Não estava à espera daquelas reações, porque elas nunca acontecem em Assembleias Gerais do FC Porto. Infelizmente e para prejuízo do clube e da imagem do clube, não foi possível continuar os trabalhos, nem comigo fora da sala. Foi um momento sensível, que não devia ter acontecido, que envergonha o clube de uma forma na qual eu não me revejo… Mas é assim, eu não me revejo no condicionamento, não me revejo nessas reações, nem na organização que a Assembleia teve. Se houver outra assembleia amanhã podem contar comigo”, assegurou ainda o associado dos azuis e brancos na mesma entrevista.
“O FC Porto tentou antecipar o melhor possível o que seria esta Assembleia Geral. Tínhamos três locais preparados. O local onde decorrem habitualmente as Assembleias Gerais, que costumam ter pouco mais de 100 pessoas. Tínhamos a tribuna VIP do Dragão, que poderia acolher cerca de 700 pessoas e ainda, caso a afluência assim o justificasse, o Dragão Arena. Ao contrário do que é habitual, as pessoas receberam pulseira para permitir a transferência dos trabalhos para outro local caso fosse necessário. Não vejo que fosse possível preparar isto de outra maneira. O que foi muito mau e nós todos que gostamos do FC Porto, ficamos… Nós preferimos perder por 5-0 do que acontecer o que aconteceu. Indigna. Nunca mais pode acontecer, sócios coagidos, sócios agredidos. É quase a benfiquização do FC Porto. Gozávamos com estas coisas que aconteciam no Benfica… No FC Porto temos uma tradição de pluralismo. Discordar não é crime. Agredir é. Estas coisas não podem passar em claro, temos de ser muito severos na apreciação moral destes comportamentos para que não mais se repitam. O FC Porto é um espaço de liberdade”, comentou Francisco J. Marques, diretor de comunicação e informação dos azuis e brancos, no Porto Canal.