O investigador norueguês Kristian Berg Harpviken considera um mistério que os temas anti-imigração não tenham mais eco em Portugal, por comparação com outros países europeus.

Comparado com outros países da fronteira sul da Europa, Portugal “também recebe um número significativo de imigrantes e destaca-se por ser um país onde a mobilização anti-imigrante está praticamente adormecida” e “não tem grande apelo no debate político”, afirmou o investigador do Instituto de Pesquisa da Paz de Oslo.

Falando à Lusa no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, onde foi apresentada esta terça-feira a posição portuguesa no mapa anti-imigração da Europa, Harpviken comentou os dados recolhidos pela socióloga Thaís França e considerou que “continua a ser um pouco misterioso o facto de a questão ser tão discreta no debate político em Portugal”.

Para esse sentimento de maior abertura ao exterior contribuiu a presença de muitos imigrantes de países de língua portuguesa e o “facto de Portugal raramente ser um país de destino, mas sim mais país de trânsito, o que reduz o potencial de conflito” social, afirma.

Além disso, a pressão migratória é menor: “se olharmos para os países mediterrânicos que recebem um número bastante significativo de imigrantes, Portugal não está no topo da lista, liderada pela Grécia e Itália”.

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No seu entender, o discurso anti-imigrantes na Europa tem hoje menos visibilidade, “não tão elevada como há alguns anos, no contexto da chamada crise migratória de 2015 e nos anos que se seguiram”.

“Agora, é um pouco menos, mas é uma questão que ainda gera muita energia política em muitos países, e isso é notório porque muitos governos na Europa tentaram chegar a um acordo com a questão, tentaram, de certa forma, minar a mobilização anti-imigrante, tentar minar a extrema-direita e os partidos extremos que tiveram uma forte apropriação da questão”, introduzindo “pelo menos partes dessa agenda” na gestão política.

Apesar dessas alterações legais, condicionando o acesso de imigrantes e refugiados, “isso não ajudou realmente a enfraquecer o apelo do ativismo anti-imigrante”, para o qual contribuiu “uma polarização crescente” que diminui o centro político.

“No entanto, é interessante verificar que, em termos de atitudes em relação à imigração na população europeia em geral, vemos que as pessoas estão a tornar-se cada vez mais positivas, e quanto mais jovens são as pessoas inquiridas mais positivas são”, salientou o investigador, destacando a maior abertura das novas gerações.

Com “o passar do tempo, à medida que a velha geração, mais cética, vai morrendo e os jovens começam a ter uma palavra a dizer na política, uma parte cada vez maior da população total é positiva em relação à migração” e é menos sensível aos discursos xenófobos.

Contudo, apesar de, em média, “as pessoas estarem a tornar-se mais positivas em relação à imigração”, existe um movimento extremista crescente que é muito negativo, é muito vocal e é notado” no plano mediático, o que contribui para condicionar o discurso dos partidos tradicionais”.

E deu o exemplo sueco: “a Suécia era um país tão tolerante e provavelmente o mais tolerante da Europa em termos de imigração, e agora é exatamente o oposto, com um debate público extremamente duro sobre estas questões”.

A investigadora Thaís França alertou que os movimentos anti-imigrantes existem em Portugal e estão cada vez mais organizados, aproximando-se dos congéneres europeus, embora sem um impacto social equivalente.

Financiado pela EEA Grants Portugal, o trabalho de Thaís França incluiu 20 entrevistas a ativistas portugueses que se apresentam como anti-imigrantes e as conclusões apontam que a agenda é semelhante a outros países europeus, onde decorre o projeto, que integra estudos semelhantes realizados na Noruega, Itália, Alemanha, França e Áustria.