Portugal, em concreto Cascais, na zona do Guincho, foi o destino escolhido para a marca romena do Grupo Renault dar a conhecer aos jornalistas de todo o mundo a 3.ª geração do Duster, um SUV que dispensa apresentações, ou não tivesse sido ele o mais vendido a particulares, em todos os segmentos do mercado, em 2022.
Agora o best-seller da Dacia apresenta-se melhor que nunca, mantendo o argumento de sempre: “a melhor relação qualidade/preço da categoria”. É esta a promessa da marca, o que significa que apesar de todas as novidades e melhorias (e são muitas), o Duster vai continuar a ser acessível. Com a vantagem de, neste novo capítulo da sua história, perder aquele ar de modelo baratinho que começou por ser a imagem de marca da Dacia e que na mais recente iteração do Duster se atenua ainda mais, de forma inteligente e sustentável, como abaixo lhe explicamos.
Mas se, por esta altura, já está impaciente e procura o símbolo do euro para dizer de sua própria justiça se o novo Duster continua realmente barato, lamentamos informar que a tabela de valores para Portugal ainda não foi fechada. Tal não impediu, porém, de conseguirmos apurar um valor aproximado. Ao que tudo indica, o best-seller que sai da linha de produção de Pitesti, na Roménia, quase à razão de um por minuto (cerca de um milhar de unidades por dia), vai ter um preço de entrada garantidamente abaixo de 20.000€. Por enquanto, este valor é meramente indicativo e só em Janeiro, mais perto da abertura de encomendas, é que os cinco algarismos se vão arrumar pela ordem certa. A entrega das primeiras unidades está prevista para Abril, pouco depois de a comunicação social ter oportunidade de fazer os primeiros ensaios dinâmicos. Até lá, guie-se pelas nossas impressões num primeiro contacto com o Duster e fique a par do que muda (e não é pouco).
O Duster em números
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- 3 gerações
- 13 anos no mercado
- 40 prémios
- 2,2 milhões de unidades vendidas
- Cerca de 1000 unidades/dia saem da linha da fábrica de Pitesti, na Roménia
A plataforma muda e isso faz toda a diferença
Oferecer um produto melhor e com menores custos é o “sonho” de qualquer construtor de automóveis. É certo que a Dacia é conhecida por fazer alguns “milagres” no que respeita à factura fabril, mas se no passado isso foi conseguido à custa de plataformas antigas, agora é diferente. O Duster recorre à CMF-B, a base da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi que já conhecemos de modelos como o Sandero, o Logan e, por último, o Jogger. Esta não é uma mudança de somenos, já que é precisamente o recurso a esta plataforma moderna que permite ao novo Duster estar preparado para receber, pela primeira vez, mecânicas híbridas e novos sistemas de assistência à condução. No que toca ao 4×4, a marca garante que as capacidades do seu SUV também saem a ganhar com a troca (já lá iremos).
Em termos de medidas, face à geração anterior, o Duster continua a exigir o mesmo espaço para estacionar entre dois carros. O comprimento mantém-se praticamente inalterado (4,34 m) e a largura dilata apenas 1 cm (1,81 m), pelo que a principal diferença que notámos logo à primeira vista confirma-se: está mais baixo. Em concreto, são 3 cm a menos que despertam a curiosidade em como é que isso se reflecte na habitabilidade e na bagageira.
Rebuscado na simplicidade, simplesmente robusto
A Dacia tem vindo a melhorar a olhos vistos no design dos seus veículos e, na nossa opinião, o novo Duster é particularmente feliz nas opções tomadas pelos estilistas que, mantendo na receita os códigos essenciais do visual que sempre caracterizaram o popular modelo, conseguiram dar-lhe um aspecto tensamente gráfico, com as protecções em plástico a reforçarem-lhe o look robusto e aventureiro. A novidade é que estas protecções bebem a inspiração de um concept da Dacia que ainda está bem presente na memória, o Manifesto. Para a 3.ª geração do Duster, a marca romena revisitou esse laboratório conceptual e dele extraiu materiais mais sustentáveis. O antigo Duster incorporava cerca de 12% de plástico reciclado, percentagem que neste sobe para cerca de 20% e ganha direito a um selo próprio (Starkle®), para atestar a orientação eco-smart. Ao que nos disseram, a média da indústria na integração de material reciclado é de 8%.
Enquanto as protecções inferiores são tingidas na massa, o que é bom para o ambiente e para os clientes, que não têm que entrar em despesas com uns retoques na pintura se os riscarem ou arranharem; as protecções da zona traseira, guarda-lamas, cavas das rodas e nas laterais da parte inferior da carroçaria são no tal plástico reciclado (com umas pintinhas) que a marca optou por não pintar, simultaneamente poupando e tirando partido dos laivos próprios gerados pelas partículas que compõem este material. Inventada pela Dacia, esta solução resulta bem visualmente, restando saber como é que este plástico eco-friendly vai responder às agruras do tempo e aos maus-tratos numa utilização mais despreocupada, pese embora os responsáveis da marca nos tenham assegurado que esta opção “envelhece” bem, sendo fácil de limpar e resistente.
No exterior, nota ainda para a assinatura em “Y” nos faróis e luzes traseiras, com o design das jantes a seguir a mesma consoante. Alegadamente perseguindo uma maior sustentabilidade, as jantes são em liga leve, mas sem crómio, da mesma forma que o manual de utilizador do veículo passou a ser mais pequeno, poupando-se no papel. Não lhe pusemos a vista em cima, mas deduzimos que será tipo um resumo do essencial, já que o calhamaço completo só está disponível online, através da aplicação da marca.
No interior, procure um clip (ou mais)
As preocupações com o ambiente (e custos de produção contidos) estendem-se ao habitáculo. A Dacia não quer apenas que se derrubem menos árvores, economizando no papel, preocupa-se também em manter a pele dos animais nos ditos. No interior nada de couro de origem animal (o surpreendente seria o inverso), os cromados foram banidos e (quando) há tapetes, estes são 20% reciclados.
Do ponto de vista da funcionalidade e até da coerência em relação ao exterior, a configuração interna está mais assertiva. Prova disso são as saídas da ventilação em forma de “Y” e o pormenor de este também aparecer à volta do apoio para o braço nos painéis das portas.
É certo que o Duster nunca foi de oferecer grandes mordomias, cingindo-se ao essencial, mas nesta geração o essencial está um pouco mais burilado. Basta ver que ao centro do novo tablier surge um ecrã de 10,1 polegadas, onde corre um novo sistema de infoentretenimento. Este display central encontra-se ligeiramente apontado ao condutor (ângulo de 10º), que tem à mão novos controlos da transmissão automática e um volante igualmente de novo desenho, com topo e base planos, surgindo ao centro o logótipo da marca, ao invés do nome, como acontecia até aqui.
Sentados ao volante, pareceu-nos que os novos bancos oferecem uma posição de condução confortável, com a instrumentação colocada um pouco mais acima a facilitar a leitura. Os materiais vão ao encontro das expectativas do típico cliente Duster, ou seja, há muito plástico duro, mas a atmosfera a bordo não desagrada. Atrás, onde se sentam três ocupantes, o espaço para as pernas não requer contorcionismos (a marca refere um incremento de 3 cm) e a distância da cabeça ao tejadilho diminuiu, mas tal não compromete o conforto de indivíduos de estatura mais avantajada.
Entre as novidades, destaque ainda para uma solução que nos fez de imediato lembrar a Skoda, com as suas criações “simply clever”. Aqui aplica-se a mesma máxima com um… clip! Com um budget limitado e uma criatividade sem limites, os engenheiros da Dacia conceberam um sistema que de engenhoso tem pouco. Pelo contrário, é simples e prática a forma como com o YouClip se conseguem prender acessórios específicos, como suportes para o tablet ou para o smartphone e bolsas de arrumação, em pontos do habitáculo estrategicamente escolhidos.
Abrindo a tampa da bagageira, que agora é mais larga e mais alta, verificamos que a volumetria pode satisfazer sem problemas as necessidades de uma família. Como o piso está agora mais baixo, chega a existir 6% de espaço a mais face à anterior geração, com o Duster 4×2 a anunciar 472 litros de capacidade sob a chapeleira (antes 445 l). Mas é também o facto de o piso estar mais baixo que cria uma espécie de degrau em relação à embaladeira.
Gasóleo? Só para os marroquinos. Híbrido é que é
É sob o capot que se encontram as principais novidades do Duster que, pela primeira vez nos seus 13 anos de história, faz desaparecer o Blue dCi 115 (a opção diesel estará disponível apenas para os marroquinos) e passa a adoptar a mecânica híbrida que já conhecemos do Jogger, o Hybrid 140. Esta versão arranca sempre em modo eléctrico e combina um 1.6 a gasolina de 94 cv com dois motores eléctricos, uma bateria de 1,2 kWh e uma caixa de velocidades automática eléctrica, sem embraiagem, com quatro relações para o motor de combustão e duas para o eléctrico. Com uma potência combinada de 140 cv, esta motorização promete reduzir os consumos em cidade até 40% (face a uma mecânica a gasolina equivalente sem electrificação) ou 20% em ciclo misto.
Acoplado a uma caixa manual de seis velocidades, o TCe 130 mantém-se na oferta, mas, segundo a Dacia, não tem nada a ver com o antigo. O tricilíndrico 1.2 turbo é de “nova geração” e funciona sob o ciclo Miller para incrementar a eficiência. É também isso que o leva a apoiar-se num sistema mild hybrid de 48V, com uma bateria de 0,8 kWh, cuja intervenção se resume essencialmente às solicitações do acelerador. À semelhança do que acontece com outros fabricantes, esta ligeira ajuda eléctrica deverá traduzir-se numa ligeira poupança de combustível (por vezes, quase imperceptível).
Valor seguro e intocável é a alternativa bi-fuel, o ECO-G 100, que pode percorrer até 1300 km com os seus dois depósitos cheios (50 litros de gasolina e 50 l de GPL). Em 2022, esta opção representou 34% do mix de vendas da Dacia.
E em termos de equipamento, como é?
Se o Duster se quer afirmar pela simplicidade, simplifica a gama, que passa a ter três opções. A básica e menos procurada é a Essential e depois há a Expression, que inclui de série jantes de liga leve de 17 polegadas, painel de instrumentos digital de 7 polegadas, ecrã táctil central de 10,1 polegadas com sistema de infoentretenimento Media Display e replicação sem fios Apple CarPlay/Android Auto, câmara de marcha-atrás, entre outros itens. Sucede que a versão Expression serve de base para outras duas opções, uma mais radical (Extreme) e a outra mais virada para o conforto (Journey), que serão comercializadas por valores muito similares. O Extreme soma à dotação do Expression os tapetes (de borracha no habitáculo e na bagageira), barras de tejadilho modulares, estofos laváveis, o YouClip 3 em 1 e ar condicionado automático. Já o Journey monta jantes de 18 polegadas e tem faróis de nevoeiro. Lá dentro, além do ar condicionado, conte com travão de estacionamento eléctrico, navegação conectada (Media Nav Live), carregador para smartphone sem fios e sistema de som Arkamys 3D.
De referir ainda que as versões de topo têm quatro tomadas USB C (duas à frente e duas atrás, sempre retroiluminadas) e os sistemas Media Display e Media Nav Live são actualizáveis remotamente. Journey e Extreme fazem comutação automática médios/máximos e incluem de série cruise control.
Quanto às versões 4×4, unicamente associadas ao Hybrid 140, usufruem de cinco modos de condução (Auto, Snow, Mud/Sand, Off-Road e Eco) e recorrem ao display de 10,1 polegadas para exibir informações relativas ao todo-o-terreno, da inclinação à distribuição de potência pelos dois eixos. O Duster mais virado para o fora de estrada beneficia ainda do sistema de controlo de velocidade em descidas, anunciando melhores ângulos do que a geração anterior. Com uma altura ao solo de 21,7 cm, o Duster com tracção integral é o 4×4 que oferece a maior distância ao solo. Anuncia 31º de ângulo de ataque e 26º de saída, superando os anteriores 29º em ambos os casos. O ângulo ventral é de 24º (antes 22º).