Os maiores protagonistas do mundo do futebol têm a fama de fugirem às obrigações mais básicas. Sérgio Conceição desconstruiu essa ideia. “É melhor meter o carro no chão, eu estou aqui”. Foi assim que o treinador do FC Porto, mostrando que não é imune aos pecados sociais, abordou as pessoas que lhe estavam a rebocar o carro quando foi servir de testemunha no Tribunal de Instrução Criminal do Porto. O lugar onde Conceição tinha estacionado era destinado a pessoas com deficiência. Apesar do protesto, o técnico não fez uso do seu estatuto para conseguir uma benesse. Mister, já registámos a multa, vai ter de pagar”, responderam-lhe.

Quando Sérgio Conceição se preparava então para pagar o valor da multa não se livrou de ouvir palavras de incentivo como o próprio contou na conferência de imprensa que antecedeu o jogo com o Famalicão. “Resumindo: meto o cartão na máquina do polícia que me está a passar a multa e ele diz-me: ‘Portista, FC Porto, vamos lá FC Porto”. Resolvida a situação – ou não, porque o treinador vai protestar a multa – Conceição ficou com caminho aberto para seguir para o Minho onde se jogava a 12.ª jornada da Primeira Liga.

Os dragões entravam em campo a podiam, à condição, igualar Sporting e Benfica no topo da classificação. Os azuis e brancos chegavam com pouco descanso, pouca preparação e pouco moral. A derrota em Barcelona, na terça-feira, para a Liga dos Campeões (2-1) tornava este um encontro bastante particular na ótica do FC Porto. “Talvez seja das deslocações mais difíceis que vamos ter, não só pela qualidade do adversário mas pelo pouco tempo de recuperação e preparação. Não nos vamos agarrar a isso, no final do jogo não me vou desculpar com a falta de tempo, quem está num clube como o nosso tem de estar em todas as competições e ser competitivo dentro das mesmas”, disse Sérgio Conceição

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Taremi, tinha anunciado Sérgio Conceição, apesar de ter apenas dois golos no campeonato, ia ser titular. Mais surpreendentes foram as opções para as laterais. João Mário não entrou nas contas para o encontro devido a problemas físicos. Assim, o técnico dos dragões lançou Jorge Sánchez na direita. Mais surpreendente foi a utilização de João Mendes, pela primeira vez titular no campeonato, no lado esquerdo, pois Zaidu, que regressou de lesão em Barcelona, estava disponível para a visita a Famalicão, mas acabou por ficar no banco de suplentes. Até a realização televisiva foi apanhada desprevenida e não tinha uma fotografia do jogador disponível para usar no grafismo.

Ficha de Jogo

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Famalicão-FC Porto, 0-3

12.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Famalicão

Árbitro: António Nobre (AF Leiria)

Famalicão: Luiz Júnior, Nathan (Martin, 71′), Riccieli, Justin de Haas, Francisco Moura, Topic, Zaydou, Gustavo Sá (Chiquinho, 67′), Puma Rodríguez (Gustavo Assunção, 86′), Théo (Pablo, 67′) e Cádiz (Henrique Araújo, 71′)

Suplentes não utilizados: Zlobin, Ruben Lima, Lacoux e Dobre

Treinador: João Pedro Silva

FC Porto: Diogo Costa, Jorge Sánchez, Pepe, Fábio Cardoso, João Mendes, Alan Varela (Grujic, 73′), Eustáquio (Iván Jaime, 85′), Pepê, Galeno (André Franco, 85′), Taremi e Evanilson (Francisco Conceição, 73′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, David Carmo, Zaidu, Toni Martinez e Gonçalo Borges

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Evanilson (9′), Taremi (45+4′) e Francisco Conceição (87′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Zaydou (28′ e 80′), Fábio Cardoso (34′), Eustáquio (50′), Jorge Sánchez (90+1′) e Grujic (90+5′); cartão vermelho a Zaydou (80′)

O Famalicão não abdicou de tentar uma saída apoiada a partir de zonas recuadas do terreno. Para contrariar essa situação, antes de estar em vantagem, o FC Porto levou até às últimas instâncias a pressão alta. Uma vez que as referências eram maioritariamente individuais, Sérgio Conceição montou a equipa em 4x3x3 para igualar o número de homens que os minhotos, dispostos em 4x2x3x1, utilizaram no miolo. Taremi foi quem se juntou a Eustáquio como médio interior, dupla sustentada por Alan Varela alguns metros mais atrás.

Mais estaque na frente apareceu Evanilson (9′), mas acabou por ser num lance em que esperou pela bola à entrada da área que o avançado inaugurou o marcador. Num remate de ressaca, o brasileiro, com recurso à bomba, fez a bola entrar junto ao poste da baliza à guarda de Luíz Junior. O Famalicão não deixou os azuis e brancos sem reação. O FC Porto baixou a intensidade na pressão quando marcou e os famalicenses começaram a ter capacidade para desenvolverem jogadas de ataque que tinham Jhonder Cádiz como principal protagonista. O avançado venezuelano levou os centrais dos dragões, Pepe e Fábio Cardoso, ao limite e chegou a estar muito perto de marcar na sequência de uma arrancada de Puma Rodríguez pela esquerda, batendo Jorge Sánchez em velocidade.

O Famalicão começava a justificar o empate e o assédio à baliza de Diogo Costa era cada vez maior. Mesmo em cima do intervalo, os jogadores de João Pedro Sousa ficaram inclusivamente a pedir grande penalidade por considerarem que um dos vários remates em carambola que realizaram tinha batido no braço de Eustáquio. O árbitro, António Nobre, permitiu que se jogasse mais um minuto do que os três de compensação que tinha adicionado à primeira parte. Foi aí que Taremi (45+4′) marcou o segundo após uma arrancada de Galeno e complicou a vida do adversário.

Taremi, além do protagonismo tático que teve no jogo, tinha estado em evidência na conferência de imprensa de antevisão. Sérgio Conceição disse que mantinha a confiança no jogador apesar do escasso número de golos esta época. “As pessoas falam um bocadinho e pensam que os atacantes têm de marcar golos e assistências, não é assim. Pelo menos para mim, treinador, e para muitos outros. Dou-lhe o exemplo do último jogo. Vejam a origem do nosso golo em Barcelona. Uma perda de bola no nosso meio-campo, é o Taremi que vai recuperar a bola na nossa grande área, e na mesma jogada é ele que tenta finalizar, quando a bola sobra para o Pepê. O trabalho do Taremi é mais do que fazer o golo ou a assistência. Vai fazê-lo naturalmente porque está mais próximo da baliza adversária, mas todo o trabalho que ele faz, estou extremamente satisfeito”, comentou o treinador. Ora, parece que Taremi é um pouco como Cristiano Ronaldo: precisa de ser criticado para responder com golos.

De qualquer modo, era de salientar a resiliência do Famalicão que contribuía para um jogo aberto, onde os minhotos até estavam a ter ascendente. A expressão máxima dessa supremacia foi o remate de Topic no centro da área, respondendo a um cruzamento atrasado de Nathan. Diogo Costa voou para manter a vantagem azul e branca em dois golos. Os minhotos até podiam ter ficado numa situação mais favorável para reduzirem distâncias quando Evanilson pisou Gustavo Sá numa entrada a roçar a expulsão, mas onde o avançado nem amarelo viu.

A falta de um golo fez o Famalicão esmorecer um pouco. O jogo de substituições correu melhor a Sérgio Conceição. A equipa de João Pedro Sousa sofreu um revés que acabou com as esperanças de pelo menos marcar (o que tinha acontecido nos últimos nove jogos entre as duas equipas). Zaydou viu o segundo amarelo e o consequente vermelho, acabando por ser expulso. Na sequência disso, Francisco Conceição (87′), a toda a velocidade, acabou por sentenciar o jogo. No final, a vantagem conseguida na primeira parte foi suficiente para que o FC Porto conseguisse os três pontos e atingisse os 28, os mesmo que Sporting e Benfica, líderes do campeonato.