A cantora Teresa Silva Carvalho, 88 anos, intérprete, entre outros êxitos, de “Pescador da Barca Bela” e “Canção Grata”, morreu esta quinta-feira em Lisboa, disse à Lusa uma familiar.
Cantora, professora, compositora, Teresa Silva Carvalho, ao longo da carreira, a cantora participou no Festival RTP da Canção, em 1979, com “Cantemos até ser Dia”, de Pedro Osório, colaborou com José Afonso no álbum “Eu vou ser como a Toupeira” (1972), e do seu repertório constam, entre outros temas,“Ó Rama que Linda Rama”, do Cancioneiro Tradicional alentejano, “Pescador da Barca Bela”, um poema de Almeida Garrett, e “Canção Grata”, um poema de Carlos Queiroz que ela própria musicou.
A fadista desde a década de 1990 encontrava-se afastada dos palcos, tendo gravado o último álbum, “Canções Gratas”, em 1994, que incluiu alguns inéditos, além de temas do seu repertório e dos repertórios de José Afonso, como “Vejam Bem”, e da brasileira Dolores Duran, “A Noite do Meu Bem”.
Teresa Silva Carvalho cantou pela primeira vez em público, aos 18 anos, num espetáculo de beneficência, no âmbito do Cortejo dos Banhistas, em Fão, Ofir, no concelho de Esposende, distrito de Braga.
A intérprete participou, posteriormente, no programa “Nova Onda”, da ex-Emissora Nacional, dirigido por Maria Leonor (1920-1988), que apresentava revelações. Teresa Silva Carvalho cantou aí os temas “Sur ma vie”, de Charles Aznavour, e “O Fado do Castanheiro”, de João de Vasconcelos e Sá e Fado Pedro Rodrigues, popularizado por Maria Teresa de Noronha (1918-1993).
Teresa Silva Carvalho teve aulas de canto com Maria Amélia Duarte D’Almeida, e prosseguiu os seus estudos académicos na Escola de Hotelaria e Turismo.
Foi professora de música no Instituto Vaz Serra, em Cernache do Bonjardim, nas décadas de 1950 e 1960, tendo em 1965 partido para o Brasil para participar na Expo Portugal de Hoje, no Rio de Janeiro.
A sua estreia televisiva deu-se neste país sul-americano, onde atuou também em diversos restaurantes típicos portugueses.
De regresso a Portugal, o fadista João Ferreira-Rosa (1937-2007) convidou-a para fazer parte do elenco da casa de fados Taverna do Embuçado, no bairro lisboeta de Alfama, onde se manteve durante vários anos.
Em 1969, gravou o seu primeiro disco, um EP (Extended Play), com o título “Sol nulo dos dias vãos”, a que se seguiu outro EP, “Um pouco mais de sol” e o álbum “Teresa Silva Carvalho”.
Em 1970 recebeu o Prémio de Imprensa Revelação (Fado), atribuído pelo Sindicato dos Jornalistas.
Voltou aos EP, pela discográfica Valentim de Carvalho gravou com “Amor tornado momento”, onde incluiu o tema “Amar”, um poema de Florbela Espanca que musicou.
“Teresa Silva Carvalho alia a escolha rigorosa do repertório poético à sua extraordinária capacidade interpretativa mas, também, ao seu potencial enquanto compositora”, afirma o Museu do Fado no seu site.
A cantoura também musicou “Sonho de Incerteza”, de Antero de Quental, “Barca Bela”, de Almeida Garrett, “Árvores do Alentejo”, de Florbela Espanca, “Canção de Primavera” e “Lamento”, ambos de José Régio, entre outros, como “Canção Grata”, de Carlos Queiroz.
Em 1976, editou vários EP e o álbum “Fados”, pela editora Orfeu, de Arnaldo Trindade.
Em 1977, participou pela primeira vez no Festival RTP da Canção, com “As Sete Canções” e “Canção sem grades” (Rita Olivais/Manuel José Soares) que será editada em single, tendo como lado B o tema “Ícaro” (José Régio/José Luís Tinoco).
Voltou ao Festival em 1979, com o tema “Cantemos até ser dia”, de autoria de Pedro Osório, que contou no coro com as vozes de Maria do Amparo, Carlos Alberto Moniz e Samuel.
Nesta década Teresa Silva Carvalho atuou diversas vezes no Hotel Balaia, em Albufeira, onde desempenhava as funções de diretora de Relações Públicas.
O seu disco “Ó Rama, ó que Linda Rama” (1977), produzido por Vitorino foi um “estrondoso sucesso”, assinala o Museu.
O álbum inclui ainda as canções “Mas que Fresca Mondadeira”, de Francisco Martins Ramos, e “Litania para um Amor Ausente”, de Luigi Pignatelli (pseudónimo de Luís Oliveira de Andrade), ambas com música de Vitorino, e várias canções de José Afonso, como “Canto Moço”, “Redondo Vocábulo”, “Mulher da Erva” e “Verdes são os campos”.
A intérprete tinha, em 1972, colaborado com José Afonso, no seu álbum “Eu Vou Ser Como a Toupeira”.
Após o êxito de “Ó Rama, que Linda Rama”, Teresa Silva Carvalho realizou várias digressões, nomeadamente junto das comunidades portuguesas nos Estados Unidos e no Canadá, atuou na televisão, mas paulatinamente foi-se afastando do meio do espetáculo.
O seu último álbum saiu em 1994, em formato CD, com o título “Canções Gratas”, pela discográfica Strauss.
As exéquias da criadora de “A Minha Cruz” (A. Campos/J. Marques/Fado Menor) realizam-se no sábado, a partir das 16h30, na igreja de S. João de Deus, em Lisboa.
A missa de corpo presente será no domingo, às 11h00, no mesmo local, seguindo o funeral para o cemitério do Alto de S. João, onde se realiza a cerimónia de cremação, disse a mesma fonte.