Quando empatou o encontro frente ao Fortaleza a meia hora do final, os adeptos do Santos respiraram fundo pela primeira vez. O Bahia ganhava por 2-1 ao Atl. Mineiro mas a partida estava em aberto, o Vasco da Gama ganhava ao RB Bragantino por 1-0 mas a partida estava em aberto – tanto que, pouco depois, o conjunto de Pedro Caixinha chegou mesmo ao empate. Entre as três equipas que procuravam evitar a descida à Série B do Campeonato brasileiro, o Peixe beneficiava dos cenários mais “normais” para garantir a permanência. De nada valeu. Até a forma como os visitantes chegaram à vitória aos 90+6′ na Vila Belmiro ilustrou da melhor forma aquele que se tornou o ponto mais baixo ao longo de 111 anos de história com Juan Luceno a ver o guarda-redes João Paulo a preparar-se para ir à área contrária para marcar quase do meio-campo.

No primeiro ano sem o ídolo Pelé, que morreu a 29 de dezembro de 2022, e no pior ano desportivo do ídolo Neymar, que se transferiu para a Arábia Saudita depois de perder influência no PSG e sofreu de seguida uma rotura de ligamentos no joelho, o Santos teve um ano para esquecer e desceu de divisão pela primeira vez na história, algo que só nunca aconteceu com o Flamengo e com o São Paulo (e o Cuiabá, desde 2021).

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A partir daí, houve de tudo um pouco entre um completo desespero sentido por jogadores, equipa técnica e adeptos. Perante a tentativa de invasão do relvado em mais de um ponto do Vila Belmiro, que fez com que os jogadores da Fortaleza e os árbitros fugissem para os balneários, as autoridades conseguiram evitar males maiores no relvado com a equipa em campo entre o som de muitos petardos que iam rebentando e imagens de adeptos nas bancadas a chorar pela despromoção. Dez minutos depois, quando a formação do Peixe saiu do campo, foram também arremessados vários objetos na direção dos jogadores, sobretudo cadeiras.

O pior aconteceria cá fora, com inúmeros atos de vandalismo entre espaços comerciais partidos e várias viaturas incendiadas, entre dois autocarros e carros particulares incluindo o do jogador Mendonza. 11 agentes da polícia ficaram feridos no meio dos desacatos, não tendo sido feita até este momento qualquer detenção. De recordar também que o Santos, que ganhou por três vezes a Taça dos Libertadores e por duas ocasiões a Taça Intercontinental além dos oito Campeonatos, terá em breve eleições para escolher o novo líder.

“Foi uma noite histórica péssima. A primeira coisa que temos de fazer é pedir desculpa, com bastante humildade, porque somos um clube desse tamanho, com essa camisola, esse peso. Sabemos que é uma coisa que marca muito. Não esperávamos que isso fosse acontecer. Fizemos o possível e o impossível para que pudéssemos pontuar mais. Fizemos tudo dentro do possível mas a pontuação não foi no final a suficiente. Peço desculpa aos nossos adeptos. Sentimos uma mágoa muito grande porque estávamos à frente de um processo que já estava difícil, recuperámos pontos mas não chegou ter tudo nas nossas mãos na última jornada”, justificou Alexandre Gallo, coordenador do futebol do Peixe desde agosto depois da saída de Falcão.

“A equipa tem muitos problemas técnicos e não podíamos fazer nenhuma correção porque só podíamos contratar jogadores que estivessem sem contrato. Sem estar a transferir a responsabilidade para outros, isso é um facto. O Santos sempre pagou sempre os seus salários ao dia, nunca teve problemas e não entendia como não conseguia ter uma equipa melhor. A camisola do Santos é um atrativo gigantesco, o Santos sempre foi atrativo para qualquer atleta, voltando da Europa, pagando salários ao dia. Acho que é possível ter uma equipa melhor do que a que tínhamos neste momento. Foi a falta de qualidade que nos trouxe à situação que estamos agora a viver”, acrescentou ainda Alexandre Gallo, assumindo também que os problemas internos com atletas tiveram peso no ambiente interno que a equipa viveu nas últimas semanas.