O presidente da UEFA considerou que a declaração do Tribunal de Justiça da União Europeia sobre a Superliga não é um sinal de luz verde para que a nova competição avance. Aleksander Ceferin garantiu que “o futebol não está à venda” e “nada pode mudar isso”. O dirigente garante que o futebol europeu permanece unido. “Estamos protegidos de projetos separatistas”.
“O Tribunal de Justiça da União Europeia não deu luz verde ou aprovou a Superliga. Foi reforçado o sistema de pré-autorização que a UEFA tem como órgão organizador e de autoridade. O facto é que a Superliga nunca teve autorização para o projeto. O que quer que digam de diferente não é verdade”, disse Ceferin em conferência de imprensa.
“Sem qualquer dúvida, é importante reforçar que o Tribunal de Justiça da União Europeia concordou com o modelo desportivo europeu baseado no mérito desportivo que pode ser garantido apenas e para equipas que se juntem a um certo nível de igualdade de oportunidades. Também é importante que clubes de vários países, como Inglaterra, Itália, França, saibam que estão impedidos de se juntarem a um projeto fora do sistema. Ou se é parte do sistema ou não se é parte do sistema, é uma escolha. Nunca dissemos que alguém não podia sair do sistema, mas alguns querem sair do sistema, mas jogar no sistema. É difícil entender o que eles querem. A UEFA é livre de organizar as suas próprias competições e vender os direitos comerciais”, continuou.
Qual o formato proposto da Superliga
A A22, a empresa responsável pela proposta da nova competição, sugere um modelo competitivo com 64 equipas com três divisões (Star, Gold e Blue) com promoções e despromoções. Cada equipa realizaria 14 jogos por época (sete em casa e sete fora). A prova contaria com uma fase em formato campeonato e, posteriormente, as equipas qualificar-se-iam para o playoff.
A A22 propõe também que todos os jogos sejam transmitidos gratuitamente. Além disso, a empresa garante que a Superliga se baseia no mérito.
Our proposed new men's ESL competition is a league structure based on a true pan-European pyramid: It will consist of 64 participating clubs in three tiers. Watch the video to learn more about the key elements. #BetterForFootball pic.twitter.com/yHfhVaPTFt
— A22 Sports (@A22Sports) December 21, 2023
A luta entre o “Ganha em Campo” e o “Melhor para o Futebol”
As redes sociais começam-se a encher de manifestações em relação à Superliga Europeia. Em Espanha, a La Liga (e a maioria das equipas do país) tem divulgado a mensagem “Ganha em Campo” por considerar que a Superliga não tem em conta o mérito desportivo. Por outro lado, a A22 tem usado nas suas publicações o slogan “Melhor para o Futebol”, defendendo a necessidade de melhorar a modalidade.
#EarnItOnThePitch pic.twitter.com/gII9inQtvk
— LALIGA (@LaLiga) December 21, 2023
Os clubes espanhóis envolvidos no processo, Real Madrid e Barcelona, já reagiram à decisão da União Europeia impedir o monopólio do controlo das competições desportivas por parte da FIFA e da UEFA. O presidente merengue, Florentino Pérez, considerou que “a partir de hoje, os clubes serão os donos do seu destino” e vão ser capazes de “impulsar as competições que quisermos considerar”. Já Joan Laporta, presidente do Barcelona, também deixou um comentário. Devido à necessidade de “garantir o presente e o futuro sustentável” do futebol chegou “o tempo dos clubes” terem “um melhor controlo sobre o seu destino”. Ceferin ironizou o discurso dos rivais espanhóis. “Podem criar o que quiserem. Espero que criem a sua fantástica competição com dois clubes”.
O presidente da La Liga, Javier Tebas, considera que as pessoas por trás da Superliga “levaram à intoxicação e a um relato que não é verdade” e aposta “25 jantares como em dois anos não há Superliga, nem em seis, nem em oito”.
O Atl. Madrid, que, no projeto inicial, fazia parte dos 12 clubes fundadores da Superliga, acabando por se retirar mais tarde, pronunciou-se contra o avanço da mesma. “Somos a favor de proteger a grande família do futebol europeu, de proteger a ligas domésticas e de que através delas se consiga a qualificação para as competições europeias no terreno de jogo a cada temporada”.
O Manchester United foi o primeiro clube inglês a tomar uma posição sobre as novidades da Superliga. Os red devils, que também faziam parte dos 12 emblemas que começaram a montar a ideia da criação de uma nova prova, dizem-se “plenamente comprometidos com a participação nas competições da UEFA e com a cooperação positiva com a UEFA, com a Premier League e com outros emblemas da Associação de Clubes Europeus para o desenvolvimento do futebol europeu”. Por sua vez, a Premier League comunicou que “reitera o seu compromisso com os princípios claros da competição aberta que sustentam o sucesso das competições de clubes nacionais e internacionais”.
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, também se posicionou contra o desenvolvimento da Superliga. “Já em 2021 manifestei a minha total discordância e repúdio pela criação de uma Superliga. Três anos depois mantenho a minha opinião. Acho que é uma péssima ideia para o futebol, pois viola todos os princípios do mérito desportivo”, disse em comunicado. “A concretizar-se, prejudicaria muito o futebol como um todo e os clubes portugueses em particular. Por isso, a Federação Portuguesa de Futebol foi, é e será convicta e frontalmente contra competições organizadas fora das federações e ligas e apoia de forma firme o modelo desportivo europeu”.
Entretanto, na esfera do futebol português, o Benfica tornou-se o primeiro clube a posicionar-se. “O Sport Lisboa e Benfica esclarece, em face da decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia, que a Superliga Europeia continua a não ser uma prioridade ou alternativa e que um crescente entendimento e forte cooperação entre a UEFA e a ECA são o modelo que melhor defende os valores, a tradição e os pergaminhos do futebol europeu”, começam por referir os encarnados.
“Ainda que a decisão hoje proferida venha a colocar um ponto final no monopólio da UEFA no que respeita à organização de competições — e que se abram novos horizontes e desafios futuros –, há um pressuposto a salvaguardar: a permanência e defesa das Ligas internas e das competições nacionais”, pode ler-se no comunicado divulgado.