A primeira-ministra do Bangladesh, Sheikh Hasina, classificou este domingo o principal partido da oposição de “organização terrorista”, em declarações aos jornalistas após votar para as legislativas.
“O BNP [Partido Nacionalista do Bangladesh] é uma organização terrorista”, disse.
“Estou a fazer o meu melhor para garantir que a democracia continue neste país”, acrescentou, assegurando que “as eleições serão livres e justas”.
A votação para as legislativas, que arrancou esta manhã, está a ser boicotada pelo BNP, que declarou que estas são “eleições fraudulentas”, e por outros partidos que foram alvo, nos últimos meses, de uma onda de detenções.
As assembleias de voto do oitavo país mais populoso do mundo vão estar abertas até às 17:00 locais (12:00 em Lisboa) e os resultados deverão ser conhecidos por volta da meia-noite (19:00 em Lisboa).
O país, outrora assolado por uma pobreza extrema, registou um crescimento acelerado sob a liderança de Hasina. Mas o Governo tem sido acusado de violações sistemáticas dos direitos humanos e de uma repressão implacável contra a oposição.
A Liga Awami, no poder, não tem praticamente adversários nos círculos eleitorais a que está a concorrer. No entanto, também não apresentou candidatos em alguns deles, numa aparente tentativa de evitar que o parlamento seja visto como o instrumento de um único partido.
Alguns eleitores afirmam ter sido ameaçados com a confiscação de documentos necessários à obtenção de benefícios sociais, caso se recusem a votar na Liga Awami.
“Disseram-me que, uma vez que o Governo nos está a alimentar, temos de votar nele”, disse à agência France-Presse (AFP) Lal Mia, 64 anos, que vota na região de Faridpur, no centro do país.
Na quinta-feira, o líder da oposição do Bangladesh no exílio, Tarique Rahman, denunciou à AFP as “eleições fraudulentas”, que diz destinarem-se a manter no poder a primeira-ministra.
Rahman é herdeiro de uma das duas principais dinastias políticas do país – a outra é liderada pela primeira-ministra – e está à frente do BNP desde a detenção, em 2018, da mãe, Khaleda Zia, duas vezes primeira-ministra.
Na primeira entrevista dada a um grande meio de comunicação ocidental em vários anos, o líder político de 56 anos disse que o partido que dirige não vai participar numa votação cujo resultado alega ser predeterminado.
“Participar em eleições sob a liderança de [Sheikh] Hasina (…) seria comprometer os sacrifícios daqueles que lutaram, derramaram sangue e deram as suas vidas pela democracia”, afirmou.
Tarique Rahman foi condenado à revelia a prisão perpétua, há seis anos, por orquestrar um ataque mortal com granadas num comício eleitoral de Sheikh Hasina. O político nega o crime e diz tratar-se de uma acusação forjada.
No ano passado, o BNP organizou uma campanha de protesto que durou meses, exigindo a demissão da primeira-ministra, durante a qual foram mortas pelo menos 11 pessoas e detidos milhares de opositores.
A polícia do Bangladesh deteve no sábado oito pessoas, incluindo um líder da oposição, por alegado envolvimento no incêndio de um comboio de passageiros na sexta-feira, que matou quatro pessoas.
As detenções foram anunciadas pelo chefe da polícia de Daca, Harun-or-Rashid, que detalhou que Nabiullah Nabi, do BNP, era uma das oito pessoas detidas numa série de rusgas efetuadas nesse dia.
O BNP acusa o Governo de levar a cabo uma onda de repressão e de ter detido mais de 24 mil dos dirigentes e ativistas do partido desde que organizou uma grande manifestação antigovernamental em 28 de outubro, que foi reprimida pelas forças de segurança.
Os Estados Unidos sancionaram as forças de segurança do Bangladesh em 2021, na sequência de alegações de violações dos direitos humanos. Outros países ocidentais também manifestaram preocupação com o desenrolar das eleições de hoje.