A notícia caiu como uma bomba dentro do futebol europeu: Zvonimir Boban, até aqui diretor de futebol da UEFA e homem de absoluta confiança de Aleksander Čeferin, demitiu-se. O antigo jogador croata de 55 anos, figura crucial na mecânica do organismo, saiu em total desacordo com uma proposta de alteração de estatutos que pretende que o presidente fique no cargo mais um mandato.
“A UEFA anuncia a saída de Zvonimir Boban da organização por mútuo acordo. Boban juntou-se à organização em 2021 como diretor de futebol e iniciou vários projetos importantes de desenvolvimento técnico, incluindo o estabelecimento do UEFA Football Board e do Fórum de Futebol Juvenil. A UEFA estende o seu agradecimento pelo seu dedicado serviço e deseja-lhe a melhor das sortes nos seus futuros projetos profissionais”, pode ler-se na nota da UEFA, que fica sem diretor de futebol a meses do Euro 2024 e da mudança de formato da Liga dos Campeões.
Today, we announce the departure of Zvonimir Boban from the organisation by mutual agreement.
We extend our gratitude for his dedicated service and wish him the best of luck in his future career endeavours.
Full statement: ⬇️
— UEFA (@UEFA) January 25, 2024
Ora, numa carta enviada à comunicação social, Zvonimir Boban confirmou que decidiu sair por não concordar com a proposta de alteração de estatutos que Aleksander Čeferin vai levar ao próximo Congresso da UEFA, já no próximo mês de fevereiro. O esloveno, eleito em 2016 para suceder a Michel Platini, foi o impulsionador da implementação da atual regra de que o presidente da UEFA não deveria cumprir mais de três mandatos — ou seja, pela lei atual, deveria afastar-se em 2027. A nova regra indica que qualquer eleição anterior a 2017 ainda não é válida para essa contabilidade, ou seja, que Aleksander Čeferin pode recandidatar-se em 2027 e liderar o organismo até 2031.
“Falei e discuti com o presidente da UEFA um problema que surgiu durante a última reunião de Direção, em Hamburgo. Trata-se de uma proposta que vai ao Congresso do próximo mês de fevereiro para modificar os estatutos da UEFA e permitir que o próprio presidente possa recandidatar-se novamente depois do atual mandato, que se pensava ser o último. Depois de expressar a minha maior preocupação e o meu total desacordo, o presidente respondeu-me que para ele não existe nenhum problema ético, jurídico ou sequer moral”, começa por referir Zvonimir Boban.
Mais à frente, o croata que conquistou uma Liga dos Campeões com o AC Milan recorda que foi o próprio Aleksander Čeferin a limitar os mandatos. “Paradoxalmente, em 2017, foi o próprio Čeferin quem propôs e iniciou um pacote de reformas que claramente negavam esta possibilidade: regras que supostamente iriam proteger a UEFA e o futebol europeu da ‘má gestão’ que tinha sido durante anos o modus operandi de todo o antigo sistema. Foi algo extraordinário para o futebol e também para o próprio Čeferin. Este desapego a esses valores, ao cancelar as reformas mais importantes, é surpreendente e incompreensível, especialmente neste momento”, acrescenta.
“Sei bem que nada disto é ideal e sei bem que devemos aceitar a lógica do compromisso. Mas se aceitasse isto estaria a ir contra os princípios e valores comuns em que acredito veementemente. E não sou um fenómeno, porque certamente não sou o único a pensar assim. Nestes três anos, a relação e colaboração com Aleksander e todos os seus colegas na UEFA tem sido excelente. Agradeço-lhes e desejo-lhes o melhor. Lamento muito, e de coração pesado, não tenho outra opção que não deixar a UEFA”, termina.