Por direito, Maria João Salgado podia recusar prestar declarações, por ser mulher de Ricardo Salgado, um dos três arguidos deste processo, mas mesmo assim quis falar esta segunda-feira em tribunal, como testemunha. E deixou a descrição do estado de saúde do antigo administrador do BES, que foi diagnosticado com Alzheimer: “Sou casada há praticamente 60 anos, sou eu que vivo com ele, sou eu que sei o que é que ele era. Ele está doente. A doença infelizmente tem progredido. O Ricardo tem dificuldade em fazer tudo sozinho”.
“Custa-me imenso dizer isto do meu marido, mas ele não tem independência nenhuma hoje em dia. Dependência quando acorda, quando vai comer, quando vai à casa de banho. Às vezes perde-se em casa.”
Maria João Salgado, uma das dezenas de testemunhas deste processo, respondeu às questões do advogado do marido, Francisco Proença de Carvalho, que quis deixar claro o estado de saúde de Ricardo Salgado. “Muitas vezes não se lembra do nome dos netos”, exemplificou Maria João Salgado. “Tinha um marido fantástico e hoje em dia tenho um bebé grande para tratar.”
Depois de um primeiro relatório de peritos independentes da delegação de Lisboa do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) ter atestado que Ricardo Salgado estava no terceiro de quatro estágios da doença de Alzheimer, uma segunda perícia, com médicos diferentes, confirmou o diagnóstico, deixando, no entanto, que podem existir dúvidas sobre a existência de “exagero” ou “simulação” por parte do ex-presidente executivo do Banco Espírito Santo.
Já durante a tarde foi a vez de Vítor Escária, antigo chefe de gabinete de António Costa e agora arguido no processo Influencer. Vítor Escária foi chamado a testemunhar, uma vez que foi também o principal assessor de José Sócrates entre 2005 e 2011, período que coincidiu com a pasta de Manuel Pinho como ministro da Economia.
Ainda durante a manhã desta segunda-feira, o tribunal ainda ouviu o padre Avelino Alves, que descreveu que “o que lhe fazia doer a alma eram os lesados”. “Era um homem forte e firme e agora está bastante debilitado. A pancadaria foi tanta que acabou por o levar… Ele sentia esse peso de não resolver o problema dos lesados.
Manuel Pinho está acusado pelo Ministério Público de dois crimes de corrupção passiva, um deles para ato ilícito, um crime de branqueamento de capitais e outro crime de fraude fiscal e o tribunal decidiu manter todos os crimes, tal como constam na acusação. Sobre Alexandra Pinho recaem os crimes de branqueamento de capitais e de fraude fiscal — os dois em co-autoria material, em concurso efetivo, com o ex-marido. Já Ricardo Salgado está a ser julgamento por dois crimes de corrupção ativa e um crime de branqueamento de capitais.
Segundo o Ministério Público, Manuel Pinho terá sido corrompido por Ricardo Salgado, na altura em que era o responsável pela pasta da Economia no Governo de José Sócrates, e terá recebido uma avença mensal de 14.963,94 euros através da sociedade offshore Espírito Santo Enterprises — o conhecido saco azul do Grupo Espírito Santo (GES). No total, o antigo ministro da Economia terá recebido um total de 3,9 milhões de euros do GES e Ricardo Salgado terá dado ordem para efetuar esses pagamentos. O objetivo do ex-líder do BES seria favorecer, alegadamente, o grupo da família, nomeadamente na aprovação das herdades da Comporta e do Pinheirinho como “Projeto de Interesse Nacional”.