A Federação Nacional da Educação reconheceu a dificuldade de substituir professores de baixa apontada num estudo esta segunda-feira divulgado, sublinhando que a falta de docentes é o principal problema e que os que estão a ser formados não são suficientes.
“Importa perceber o problema e as causas. Efetivamente, há dificuldade em substituir professores, por um lado, em virtude da abstenção, das doenças e do que está relacionado com os fatores que levam a esse mesmo absentismo. Mas há um outro aspeto que tem que ver com a falta de professores e isso o estudo não refere”, afirmou Pedro Barreiros, secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE).
O responsável falava a propósito do estudo “A realidade demográfica e laboral dos professores do ensino público em Portugal 2016/2017 — 2020/2021”, lançado pelo think tank da Fundação Belmiro de Azevedo direcionado para a área de Educação (Edulog) e, esta segunda-feira, divulgado.
Neste trabalho, os investigadores concluem que não há falta de professores para as colocações permanentes e anuais, mas sim dificuldade em substituir docentes de baixa.
A este respeito, em declarações à Lusa, Pedro Barreiros insiste na falta de professores, afirmando: “Este ano vão acabar as suas licenciaturas 1.200 professores, espalhados pelos mais diversos grupos de recrutamento. E para o ano (…) esta falta de professores (…) vai continuar, porque não há professores a ser formados em número suficiente para dar resposta às necessidades do sistema”.
O responsável destaca igualmente a falta de atratividade da carreira e aponta também à tutela a falta de programação dos anos letivos, sublinhando que a falta de professores não se faz sentir de igual forma nas diversas disciplinas.
Apontando os dados do último relatório do Estado da Educação diz que é possível perceber que, em 2030, o que está a acontecer na zona da Grande Lisboa e do Algarve, nalguns grupos disciplinares, vai estender-se ao Norte do país.
“Combater a falta de professores no imediato, torna-se difícil”, disse.
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O estudo estima ainda que, para acabar com os casos de alunos sem aulas, seria preciso criar uma bolsa com cerca de 20 mil professores, disponíveis para substituir os docentes que faltam.
Em relação a este aspeto, Pedro Barreiros diz que há “algum desconhecimento histórico” por parte dos autores desta investigação, justificando: “Podemos falar numa bolsa de recrutamento, e essa já existe, não tem que ser criada, ou então poderemos falar em algo que foi criado precisamente para estas situações, como os quadros de zona pedagógica e os quadros distritais de vinculação”.
“Quando foram criados foi com um objetivo muito concreto, que era o de criar uma bolsa de professores, para cada um dos distritos, para fazer com que, quando existe uma baixa médica, uma gravidez de risco, um acidente em trabalho ou qualquer que seja a situação, esses quadros de zona pedagógica tinham professores em número suficiente para fazer face a essas faltas”, explicou.
Considerou ainda que estes quadros de zona pedagógica, ao longo dos tempos, se foram desvirtuando do objetivo inicial.
“Todas estas medidas já existem, basta querer aplicá-las”, acrescentou o responsável, insistindo: “Quando estamos a falar em concreto que há milhares de alunos sem professores, não podemos apontar o dedo exclusivamente à questão das faltas”.