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As suspeitas criminais do Ministério Público (MP) e da Polícia de Segurança Pública (PSP) sobre o clima de medo e de intimidação para impedir que os apoiantes do candidato à liderança do FC Porto André Villas Boas falassem de forma livre na Assembleia Geral portista de novembro de 2023 envolvem um alegado acordo entre elementos do próprio clube e a claque dos Super Dragões liderada por Fernando Madureira.
Ao que o Observador apurou, o MP apenas identifica nos mandados de detenção e busca que levaram esta quarta-feira à detenção de Madureira, conhecido como ‘Macaco’, da sua mulher Sandra, mais outros nove elementos ligados aos Super Dragões e dois funcionários do FC Porto (Fernando Saúl de Sousa e Tiago Pais) que todos estes agiram em conluio com Adelino Caldeira, administrador da SAD do FC Porto.
Apesar de referirem no plural “elementos do FC Porto” no contexto da alegada concertação com os Super Dragões para silenciarem os apoiantes do candidato Villas Boas, o Observador sabe que as autoridades apenas referem Adelino Caldeira, administrador da SAD do Porto historicamente próximo de Jorge Nuno Pinto da Costa.
Sendo certo que Caldeira terá agido alegadamente através do oficial de ligação aos adeptos do FC Porto, Fernando Saúl de Sousa, para comunicar com o grupo liderado por Fernando Madureira. Saúl de Sousa e Madureira foram detidos esta quarta-feira.
Contudo, é certo que a candidatura de Pinto da Costa ou outros elementos da sua futura candidatura — que será ser anunciada este domingo dia 4 — não são referidos nos mandados de busca.
Ligação de Adelino Caldeira à venda de bilhetes igualmente sob suspeita
O MP e a PJ estão igualmente a investigar a venda de bilhetes e a alegada ligação de Adelino Caldeira, de Saúl de Sousa, de Fernando Madureira e da mulher deste a alegados ganhos com a venda de bilhetes de jogos do FC Porto.
Ao que o Observador apurou, os mandados de detenção fazem uma referência explícita à ligação de Caldeira a esta prática e dizem mesmo que, além da aprovação da alteração estatutária desejada pela direção de Pinto da Costa, Adelino Caldeira e Fernando Madureira pretendiam igualmente manter a sua esfera de influência no clube, nomeadamente ao nível da bilhética do jogos do FC Porto.
Caldeira diz que vai agir judicialmente contra quem “inventou suspeitas nos autos”
Em comunicado enviado ao Observador, Adelino Caldeira repudia “veementemente qualquer associação que se pretenda fazer entre a minha pessoa e os factos ocorridos na Assembleia Geral do FC Porto do passado dia 13 de Novembro de 2023.”
“É falso que tenha instruído seja quem for a fazer fosse o que fosse na dita Assembleia Geral. Porque nunca tive com as pessoas detidas” esta quarta-feira “quaisquer conversas acerca dessa Assembleia Geral – seja antes ou depois, de forma direta ou indireta – ou sequer de outros assuntos relacionados com a vida institucional do FC Porto”, garante.
Adelino Caldeira diz ainda que “só por maldosa especulação e efabulação se terá envolvido o meu nome nos reprováveis acontecimentos daquela Assembleia Geral.”
Caldeira lamenta ainda que “a Justiça dê crédito e palco a quem, sem qualquer suporte, tenha no processo levantado suspeições absolutamente infundadas contra mim e sem contraditório algum. A seu tempo por certo tomarei conhecimento de quem enlameou o meu nome nesta vergonhosa fabricação e agirei de forma a que o falso testemunho prestado seja exemplarmente punido.”
Ou seja, Adelino Caldeira deverá agir judicialmente contra eventuais testemunhas que tenham falado sobre si nos autos do processo do DIAP Regional do Porto.
Fonte próxima garante ao Observador que o histórico dirigente do Porto se vai afastar dos órgãos sociais do clube e não fará parte das listas da candidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa. “Como é sabido, o dr. Adelino Caldeira não se vai candidatar aos órgãos sociais do FC Porto. Está de saída”, garante a mesma fonte que coloca mesmo a hipótese de estar a existir um eventual aproveitamente da saída de Caldeira para o “transformar em bode expiatório do ocorrido.”
‘Macaco’ terá levado não sócios para ameaçar e expulsar sócios do FC Porto. “Quem não está com Pinto da Costa vai morrer”
Os mandados de detenção e de busca referem igualmente, ao que apurámos, que o clima de intimidação e medo visava fazer com que a Assembleia Geral (AG) de novembro permitisse a aprovação da proposta da direção de Pinto da Costa para a alteração dos estatutos na altura em curso.
O MP e a PSP dizem ter prova testemunhal de sócios do FC Porto presentes na AG, mas também prova documental de conversações em grupos de WhatsApp e outras redes sociais, mensagens escritas e conversações digitais que indiciarão o alegado conluio entre Adelino Caldeira e Fernando Saúl de Sousa, por um lado, e os Super Dragões liderados por Fernando Madureira.
Do grupo liderado por Madureira fará parte a sua mulher Sandra Madureira, que é também vice-presidente dos Super Dragões e que foi igualmente detida.
A estratégia terá sido simples e dividida em duas fases:
- numa primeira fase, Madureira terá distribuído, pelas 20h30, cartões de sócios a um número elevado de cidadãos que não eram sócios do FC Porto. Os 10 membros dos Super Dragões hoje detidos, farão parte desse grupo. Tudo para que entrassem na AG para a desestabilizar, tendo alegadamente ameaçando apoiantes de André Vilas Boas.
- Numa segunda fase, a desestabilização começou pelo auditório com capacidade para 400 pessoas — e que estava sobrelotado. Após a deslocação da AG para o pavilhão do Estádio do Dragão, a desestabilizou continuou. Hugo Carneiro, conhecido como ‘Polaco’, terá sido outro elemento dos Super Dragões em destaque e que também é visado pelas autoridades.
Foi já no pavilhão que, entre as 22 horas e as 24 horas, o grupo liderado por Fernando Madureira terá, segundo as autoridades, começado a insultar os sócios afetos a André Vilas Boas mas também outros sócios que até eram simpatizantes de Jorge Nuno Pinto da Costa.
Sob um clima de intimidação, terão batido palmas a Pinto da Costa e começado a gritar:
- “BATAM PALMAS FILHOS DA PUTA”;
- O FC PORTO É NOSSO, QUEM NÃO ESTÁ COM PINTO DA COSTA VAI MORRER”;
- “NÃO ESTÃO A BATER PALMAS ESTÃO FODIDOS”;
- “ÉS VILLAS BOAS, DESAPARECE DAQUI SE NÃO LEVAS MAIS”;
- “VOCÊS VÃO MORRER”, ”VÃO TODOS LEVAR NOS CORNOS SEUS FILHOS DA PUTA”;
- “INGRATOS DO CARALHO”.
Ao mesmo tempo que gritavam estas palavras, terão arremessado várias garrafas de vidro na direção dos sócios presentes, tendo provado ferimentos em pelo menos uma pessoa.