O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, qualificou esta quarta-feira o surto de dengue no Brasil como um “desafio significativo” e relacionou-o com o fenómeno climático El Niño.
“O atual surto de dengue foi alimentado pelo El Niño”, disse Adhanom durante um evento em Brasília, enquadrando o aumento de casos no país sul-americano como parte de uma expansão global da doença, que matou 5.000 pessoas em todo o mundo em 2023.
O El Niño é um fenómeno climático natural associado ao aumento das temperaturas da superfície no centro e leste do Oceano Pacífico tropical, mas que tem efeitos em todo o mundo.
Os efeitos do fenómeno promovem um aumento da temperatura nas Américas, o que acaba por facilitar a proliferação dos mosquitos Aedes aegypti, transmissores da dengue.
Segundo o diretor-geral da OMS, que está está desde segunda-feira numa visita de três dias ao Brasil, “todas as regiões, exceto a Europa, são afetadas” pela onda de dengue, que é transmitida por mosquitos e causa febres altas e fortes dores musculares, entre outros sintomas.
Ao mesmo tempo, Adhanom felicitou o governo brasileiro pela sua resposta ao surto e pela introdução da vacina contra a dengue nos protocolos do sistema de saúde pública.
“O surto destaca a necessidade de fortalecer ainda mais o sistema de saúde”, disse, antes de pedir uma “resposta holística que coloque as pessoas no centro” dos cuidados.
Na segunda-feira, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, e o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) reuniram-se para discutir uma possível parceria na produção da vacina contra a dengue.
No dia seguinte, a ministra da Saúde do Brasil apelou à união de todo o país “contra a dengue“, numa altura em que os casos aumentam exponencialmente em 2024, depois de 2023 ter registado números nunca antes vistos.
Rio de Janeiro decreta estado de emergência em saúde por causa da dengue
Dados do Ministério da Saúde do Brasil indicam que o país registou 345.235 casos prováveis de dengue este ano, com 36 mortes e outras 234 em investigação. O número de casos triplicou entre os dias 21 e 27 de janeiro, comparando com o mesmo período do ano passado. Os estados do Acre, Minas Gerais e Goiás, além do Distrito Federal, decretaram situação de emergência em saúde pública.
Em 2023, o país sul-americano registou mais de 1,6 milhões de casos da doença, mais de um quinto de todos os notificados no mundo, e 1.094 mortes, um recorde histórico.
A ministra da Saúde brasileira afirmou ainda ter já transferido 280 milhões de euros para os estados e municípios atuarem em medidas de prevenção e de cuidados de assistência médica. Quanto às vacinas disponibilizadas do serviço de saúde público estas serão dadas progressivamente, “dado o número limitado de doses produzidas pelo laboratório fabricante”, justificou.
O Brasil começará uma campanha de vacinação pública contra a dengue este mês. O país já divulgou a lista de cerca de 500 cidades que vão receber a vacina contra a dengue, que num primeiro momento deverá dar prioridade a crianças e adolescentes com idade entre dez e 14 anos por estarem entre o público com maior número de internamentos devido à doença.
O Brasil prevê receber até 6,2 milhões de doses de uma vacina japonesa contra a dengue em 2024. Porém, por se tratar de uma vacinação que requer duas doses de vacina, esse valor abrange apenas 3,1 milhões de pessoas e é insuficiente para enfrentar a atual explosão de casos.