Era literalmente um debate superficial aquele que opunha a relva natural e a relva sintética. Por muito que fosse difícil fazer nascer algo a partir da borracha, o Sporting teve na Suíça terreno fértil para se colocar em vantagem na primeira mão do playoff de acesso aos oitavos de final da Liga Europa e praticamente cortar pela raiz a possibilidade do Young Boys em seguir em frente.

Não fosse o único jogo que o emblema verde e branco não venceu esta época no Estádio de Alvalade e o Sporting até teria sido poupado a esta eliminatória. A derrota contra a Atalanta ditou que os leões terminassem o grupo D no segundo lugar. O Young Boys fez um caminho diferente. Os campeões helvéticos ficaram em terceiro lugar no grupo G da Liga dos Campeões, onde também estavam Manchester City, RB Leipzig e Estrela Vermelha. O percurso dos dois emblemas cruzou-se num relvado sintético onde até os mais autênticos tiveram que se adaptar.

Lia-se no corpo de Gyokeres as vontades, mas o campo retardava-lhe os movimentos. Além disso, a oposição que se lhe apresentava pela frente estava à altura do sueco. Os possantes Amenda e Camara mostram que pior para eles seria defrontar um jogador que não procurasse o contacto nos apoios frontais. Por isso, o avançado raramente serviu os interesses do Sporting quando a equipa de Amorim foi forçada a recuar face à obrigação imposta pelo Young Boys.

Ficha de Jogo

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Young Boys-Sporting, 1-3

1.ª mão do playoff de acesso aos oitavos de final da Liga Europa

Stade de Suisse

Árbitro: Benoit Bastien (França)

Young Boys: Von Ballmoos, Lewin Blum, Mohamed Camara, Aurèle Amenda e Jaouen Hadjam, Lukasz Lakomy (Males, 81′), Sandro Lauper, Filip Ugrinic (Niasse, 45′), Ebrima Colley (Joel Monteiro, 61′), Cedric Itten (Ganvoula, 61′) Joel Mvuka (Elia, 61′)

Suplentes não utilizados: Racioppi, Marzino, Persson, Lustenberger, Deme e Seiler

Treinador: Raphael Wicky

Sporting: Adán, Esgaio, Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Matheus Reis, Nuno Santos (Rafael Nel, 85′), Hjulmand, Bragança (Koba Koindredi, 85′), Edwards, Pedro Gonçalves (Geny Catamo, 74′) e Gyokeres (Francisco Trincão, 74′)

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Francisco Silva, Morita, Luís Neto e Rafael Pontelo

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Amenda (na própria baliza, 31′), Gyokeres (41′), Ugrinic (42′) e Gonçalo Inácio (48′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Camara (22′ e 89′), Colley (41′) e Lakomy (54′); cartão vermelho a Camara (89′)

Melhores conhecedores dos caminhos para aquela baliza, os erros técnicos dos suíços eram menos. Mesmo que a conquista territorial ainda não fosse muita, Lakomy aproveitava para afinar o remate longo. Adán aparecia com preponderância, mas nunca tanto como na hora em que a mão esquerda do espanhol deixou tudo direito quando o cabeceamento de Amenda ameaçava fazer a balança pender.

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Gyokeres ia percebendo que dar-se à marcação não era a melhor forma de colaborar, pelo que investiu em ataques à profundidades, passando o Sporting a usar Edwards e até Esgaio como referências de saída. Da combinação entre os dois nasceu o golo que os leões não estavam necessariamente a merecer: num raro estado de prontidão do pé direito do inglês surgiu um cruzamento que o central do Young Boys, Amenda (31′), colocou dentro da própria baliza.

Marcus Edwards foi uma das quatro alterações que Rúben Amorim apresentou no encontro face à vitória por 5-0 contra o Sp. Braga para o campeonato. Apesar do técnico ter colocado Daniel Bragança no meio-campo (no lugar de Morita) e Esgaio na direita (em detrimento de Geny), os leões mantiveram o núcleo duro do onze — exceção feita a Coates que foi poupado a pisar o sintético e ficou em Lisboa — pelo que se podia esperar um domínio maior do clube de Alvalade.

Dez minutos depois do marcador ter sido inaugurado, Gyokeres (41′) colocou no resultado uma maquilhagem que o deixou bem mais bonito do que era na verdade. O sueco usou o passaporte que Edwards lhe deu para ir para a marca de grande penalidade quando o extremo foi derrubado pelo guarda-redes adversário, Von Ballmoos. A ideia de conforto não passou ao papel. O Young Boys rendilhou uma triangulação pela esquerda que o Sporting não conseguiu aliviar. Ugrinic (42′) apareceu embalado para impedir que a segunda parte fosse perspetivada com um vencedor encontrado.

Ugrinic lesionou-se no lance do golo e saiu ao intervalo e mais magoado ficou quando, já alheado do encontro, assistiu ao momento em que Gonçalo Inácio (48′), impondo-se ao poder aéreo do Young Boys, colocou o livre lateral de Pedro Gonçalves dentro da baliza e voltou a oferecer uma vantagem de dois golos. O Sporting estava perto de fazer o que o Manchester City e o RB Leipzig tinham feito na Liga dos Campeões, ou seja, vencer no Stade de Suisse.

A equipa verde e branca estancou qualquer possibilidade do Young Boys criar perigo, ao contrário do que tinha acontecido na primeira parte. Com essa estabilidade, a jogar com mais um elemento depois da expulsão de Camara após duplo amarelo, e com o resultado favorável, Rúben Amorim deu descanso a Gyokeres e Hjulmand e estreou Koba Koindredi, médio vindo do Estoril no mercado de inverno, e Rafael Nel, jovem formado em Alcochete. Num ritmo baixo que ainda permitiu aos suíços verem um golo anulado, o segundo no encontro, o Sporting fechou o jogo com uma vantagem de dois golos (1-3) que leva para a segunda mão.