Ano após ano, a empresa de consultoria norte-americana J.D. Power produz um relatório para esclarecer os consumidores acerca da fiabilidade dos automóveis novos colocados à venda nos EUA, concentrando-se no número e no motivo das queixas reportadas pelos condutores ao fim de três anos de utilização do veículo. E no seu mais recente estudo confirma-se o que já se suspeitava: quanto mais sofisticados são os veículos, do ponto de vista tecnológico, mais chatices e aborrecimentos dão a quem os conduz. Esta é a principal conclusão, mas não faz de regra geral para os veículos do Grupo Toyota, que se destacaram pela positiva. A Lexus mantém-se na liderança, logo secundada pela Toyota, que ascendeu ao 2.º lugar da tabela, impondo-se assim como a marca mais fiável entre os construtores ditos generalistas. Há, porém, marcas consideradas de luxo cujos veículos desapontam os consumidores e isso reflecte-se nos lugares mais baixos do ranking da fiabilidade.

A análise da J.D. Power utiliza uma métrica que reflecte o número de problemas reportados por cada 100 veículos (PP100), pelo que quanto mais baixa é a pontuação, melhor é a qualidade percepcionada pelos condutores. A Lexus obteve 135 (PP100) e a Toyota 146 (PP100), dois excelentes resultados atendendo a que o estudo envolveu um total de 30.595 viaturas do ano 2021. Tal permitiu não só que mais de metade dos 17 modelos da Toyota e da Lexus elegíveis ficassem em 1.º lugar nos respectivos segmentos (ver Infobox abaixo), como estas duas marcas se destacassem claramente da concorrência, superando reputadas marcas como Porsche (175), BMW (190), Mercedes (218), Volvo (245). Isto apesar de os dois construtores de Estugarda se terem destacado nesta análise pela evolução, face ao ano passado, respectivamente com uma melhoria de 33 e 22 de PP100. Juntamente com a Toyota (melhoria de 21), Porsche e Mercedes compõem o trio que mais incrementou a fiabilidade dos seus veículos.

Continuando a considerar as marcas que são igualmente comercializadas deste lado do Atlântico, não há como não mencionar a má pontuação obtida pela Audi (275), Land Rover (268) e Volkswagen (267), fabricantes cuja qualidade de construção geralmente não é posta em causa, pelo que a explicação para este mau desempenho no ranking de fiabilidade da J.D. Power poderá, em parte, radicar no infoentretenimento, que tem sido uma dor de cabeça (publicamente assumida) para o Grupo Volkswagen e que surge, nesta pesquisa, como o principal motivo de queixa por parte dos clientes.

Ao fim de três anos de utilização, constatou-se que os sistemas de infoentretenimento, em particular a conectividade com os sistemas Android Auto e Apple Carplay, bem como o reconhecimento de voz, constituem o principal motivo de “desentendimento” entre o proprietário e o seu veículo. Para se ter uma ideia, as “chatices” relativas ao infoentretenimento acumularam mais do dobro da segunda queixa.

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Os chamados sistemas de assistência à condução (ADAS) constituem outro ponto susceptível de deixar os condutores à beira de um ataque de nervos, pese embora se destinem a facilitar a sua tarefa e a incrementar a segurança. Os avisos sonoros, a vibração no volante sempre que o veículo sai das linhas que delimitam a via em que segue são uma “chatice” para alguns e, por mais que o tempo passe, há quem não se adapte às advertências e as considere um incómodo. “Seria de esperar que, ao fim de três anos, os proprietários já estivessem habituados aos alertas dos ADAS. Mas não é esse o caso”, apontou o director sénior de benchmarking automóvel da J.D. Power, Frank Hanley.

Lexus e Toyota lideraram nos seguintes segmentos

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  • Lexus 
    ES (automóvel médio de gama alta)
    IS (automóvel premium compacto)
    NX (SUV premium compacto)
    RX (SUV premium de tamanho médio)
  • Toyota 
    4Runner (SUV de tamanho médio)
    Camry (automóvel médio)
    Corolla (automóvel compacto)
    Tacoma (pick-up de tamanho médio)
    Tundra (pick-up ligeira grande)

Outra das conclusões é que os veículos 100% eléctricos (BEV) e híbridos plug-in (PHEV) são alvo de mais queixas do que os outros, com os modelos híbridos e a gasolina a satisfazerem mais os respectivos condutores. “Os BEV são os mais problemáticos (256 PP100), seguidos pelos PHEV (216 PP100). Os veículos híbridos (191 PP100) e a gasolina (187 PP100) apresentam resultados significativamente melhores”, realça a J.D. Power.

Sabe-se que a escolha dos pneumáticos é determinante para o desempenho dos BEV, constituindo por si só um elemento que favorece ou penaliza a autonomia. Sucede que as respostas recolhidas permitiram, ainda, constatar que os condutores de modelos a bateria se vêem obrigados a ter de mudar mais vezes de pneus do que os seus congéneres que conduzem modelos a combustão. A J.D. Power notou que “os pneus são um ponto sensível para os BEV, com 39% dos proprietários a afirmarem que substituíram os pneus nos últimos 12 meses – 19 pontos percentuais a mais do que os proprietários de veículos movidos a gasolina”.