Quando estamos a cerca de cinco semanas das eleições do FC Porto, as ações de uma campanha que não tem propriamente esse nome “formal” continuam a adensar-se em especial do lado de André Villas-Boas. Assim, e na antecâmara de uma deslocação ao Luxemburgo onde estará num convívio com adeptos dos dragões no país, o ex-treinador passou na noite desta terça-feira por Cantanhede para mais uma sessão de apresentação das linhas mestras do projeto para os azuis e brancos. Contudo, e além desse propósito, foi um pouco mais longe do que tem sido habitual nas críticas a Pinto da Costa, mesmo assumindo que “o mais fácil seria não substituir o presidente mais titulado do mundo”. “Vamos estar eternamente gratos, usarei como pressão interna sobre mim”, reforçou, antes de apontar o dedo ao atual líder em assuntos financeiros.

“O FC Porto já está a ser vendido, vocês é que ainda não viram. Naturalmente, para vender parte da SAD haveria de lançar o tema à Assembleia Geral. O que esta Direção fez foi vender 30% da Porto Comercial. As receitas comerciais são de 40 a 50 milhões de euros. Desvaloriza o valor global do FC Porto, porque 30% das receitas já estão para outro lado. Isto são maus sinais e sinais para os quais olhamos com preocupação, pelo que na semana passada decidi, eu, como sócio, acionista e candidato, endereçar uma carta à Direção do FC Porto relativamente a questões que estão a ser tomadas sobre o FC Porto. O presidente terá oito dias para o responder, senão irei reunir acionistas e aí a comunicação será direta e institucional com a CMVM e a FC Porto SAD, obrigando a direito de resposta”, referiu André Villas-Boas, antes de recorrer a outros exemplos.

“Vender o FC Porto não é o caminho, o caminho é perceber a vantagem competitiva que tem enquanto clube de associados. Temos valores, temos cultura, temos história, temos legado. Um clube de um proprietário não tem este valor, esta cultura. O Inter foi de um tailandês, depois foi para um americano. Um exemplo: depois passa para um russo, para um fundo árabe e em dez anos podemos ter um clube com quatro proprietários diferentes. Estão lá, querem dinheiro, obtêm retorno e o clube segue com outros. Não ligam ao projeto desportivo, querem vertente financeira. Os clubes de associados, por falta de governança de anos anteriores, estão em situação limite e todos estão a recorrer a apoios da banca internacional para reestruturar dívida e reformatarem o projeto desportivo. Está a acontecer com o Real, com o Barcelona, com o Sporting, se bem que o perdão ajudou bastante, vai acontecer com o Benfica, tem de acontecer com o FC Porto. Ninguém quer ajudar, na banca dos fundos, quando os interesses são outros e estão ligados às comissões, há um esbanjar de dinheiro permanente”, prosseguiu o antigo técnico a esse propósito.

Antes de também José Pedro Pereira da Costa, CFO da candidatura, falar dessa vertente, Villas-Boas abordou ainda a questão da Academia na Maia e tudo o que aconteceu desde a aprovação da venda dos terrenos em hasta pública. “Quando soltei o que disse sobre a Academia da Maia, o FC Porto fez um comunicado dedicado a mim, que eu tinha dito que era um chorrilho de mentiras e eles iam provar que não. Agora falou o vereador [Francisco Vieira de Carvalho, do PS] e a coisa está quente. Parece que a Academia pode tornar-se um caso de polícia… O FC Porto, em comunicado, já veio desmentir Fernando Gomes [administrador da SAD], que disse que a construtora ia adquirir terrenos e o FC Porto pagaria renda. O comunicado dizia que FC Porto é que ficava detentor. Os comunicados desmentem-se uns aos outros, ninguém se entende”, frisou.

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“Vendo este imbróglio da Maia, o que ficará para nós contratualmente? O que estará ali? É ou não possível rescindir contratos? Que impacto terá? E os pareceres? Tudo isto são atrasos. Desta vez não fui eu que falei, foi um vereador que veio falar de interesses alheios. Os próprios vieram desmentir. Não me meto nisso. Chorrilho de mentiras foi dizerem que estavam lá tratores e não estavam. Só posso pôr tratores em algo que é meu e os terrenos são da ABB e os outros vão a hasta pública”, acrescentou sobre esse tema.

O treinador campeão em 2010/11 manteve sempre a tónica na vertente financeira, passando depois daí para a parte desportiva. “O FC Porto é de todos, não é de um proprietário. Parece que o clube tem um dono e a voz dos sócios não conta para nada. Há um novo acordar do dragão, uma nova forma de olhar o dragão. Temos um clube refém dos credores, a situação em que nos encontramos é limite. É um desafio enorme para o futuro do ponto de vista financeiro. A nossa sustentabilidade financeira passa por um modelo de gestão mais rigoroso, por um maior controlo de custos”, começou por reforçar, citado pelo jornal Record.

“O FC Porto não se livra de negociar com todos os agentes, do que se livra é de cometer barbaridades com comissões e intermediações, particularmente sempre com a mesma pessoa. Venho para o FC Porto envolvido neste espírito de missão. Qualquer pessoa que tenha lesado o FC Porto, serei intransigente com a identificação da mesma. Não se podem cometer atos bárbaros de gestão que privilegiem agentes, ano após ano, jogador após jogador, com contratos exclusivos de venda. O FC Porto tem de garantir sustentabilidade financeira na formação, aí estão as grandes mais-valias em termos de retorno. Temos de formar mais, melhor e não ter medo de os chamar precocemente, sendo que, para os sócios, haverá sempre uma dúvida. Há que dar margem para crescer. Um projeto parecido com o do Brugge, do Barcelona, do Ajax, do Athl. Bilbao. O mais alarmante é que em 12 anos, enquanto ganhámos alguns títulos, o passivo dobrou. Estamos reféns dos credores. Não quero que seja cavalo de batalha mas que entre na cabeça dos sócios: o custo desportivo desse sucesso foi enorme. Causa agora sombra enorme de sustentabilidade financeira”, salientou Villas-Boas.