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O pequeno João é grande e tem tudo. Sobretudo cabeça (a crónica do Benfica-Desp. Chaves)

Este artigo tem mais de 6 meses

Benfica criou pouco de bola corrida e atirou-se para uma lei de Murphy na bola parada, num jogo onde falhou três penáltis. Sobrou a vitória. E sobrou sobretudo um miúdo que conhece tudo do jogo (1-0).

João Neves marcou o único golo do jogo de cabeça, na sequência de um livre lateral marcado por Di María, e deu a vitória ao Benfica frente ao Desp. Chaves
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João Neves marcou o único golo do jogo de cabeça, na sequência de um livre lateral marcado por Di María, e deu a vitória ao Benfica frente ao Desp. Chaves

Carlos Rodrigues

João Neves marcou o único golo do jogo de cabeça, na sequência de um livre lateral marcado por Di María, e deu a vitória ao Benfica frente ao Desp. Chaves

Carlos Rodrigues

Começou a temporada com confiança reforçada pelo título, teve depois uma acentuada queda na perceção geral pela má campanha na Liga dos Campeões, voltou a subir com uma série de triunfos consecutivos, está nesta fase e mais do que nunca “refém” daquilo que ditarem os resultados. Roger Schmidt, eleito Treinador do Ano numa gala do 120.º aniversário do Benfica que disse ter mostrado “o quão grande é o clube e toda a história que conseguiu construir”, até pode ser o campeão em título mas, de forma genérica, foi perdendo alguma empatia com os adeptos. Às vezes chega a ser complexo perceber o porquê disso, tendo em conta que os encarnados têm aberto todas as possibilidades nas competições em que estão inseridos e são agora a única formação nacional ainda nas provas europeias, mas é uma realidade que se vai sentindo sempre que existe o mínimo abanico nas exibições ou nos resultados. E era essa realidade que tentava começar a desconstruir, no início de dois meses de loucos em termos de calendário onde chegarão todas as decisões da época.

Benfica vence Desp. Chaves num jogo em que falhou três penáltis e mantém distância para o Sporting antes do dérbi

“Tivemos uma clássica preparação após jogos de seleções. Foi uma boa oportunidade para descansar um pouco e estivemos bem. Estou feliz por jogar de novo depois da pausa e jogar em casa é bom. Os jogadores das seleções vieram sem lesões. Estão em boa forma. É sempre exigente mas estamos prontos para este jogo. É uma fase decisiva da época que está a começar e temos de estar prontos. Estamos em três provas, é uma época especial em que temos de usar esta oportunidades para acelerar o nosso nível de topo. Tudo é possível”, referira na antecâmara da receção ao Desp. Chaves, num dos duelos teoricamente mais acessíveis tratando-se do último classificado do Campeonato. “Vai ser difícil porque como estão em perigo de descer, não têm nada a perder. É uma boa equipa, com um bom treinador”, elogiou o técnico germânico.

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E se da paragem para seleções havia apenas dois jogadores que poderiam gerar um maior cuidado no plano físico pelas viagens que tiveram (Otamendi e Di María), Schmidt acabava por ganhar um “reforço” para o jogo com os transmontanos chamado Orkun Kökçü, internacional turco que voltou a explicar o sentido da entrevista que deu ao De Telegraaf sem pedidos de desculpa mas prometendo máxima dedicação ao clube e que resolveu a questão no plano interno com uma conversa com o treinador alemão que o recuperava para o regresso às competições depois de ter ficado de fora da convocatória no jogo com o Casa Pia em Rio Maior.

“Foi melhor deixá-lo de fora nessa partida. Falámos sobre isso hoje [quinta-feira]. Foi a conversa que esperava, não foi intenção dele criar este ruído negativo à volta da equipa. Sempre me convenceu como jogador e pessoa. Cometeu um erro, a entrevista não foi boa. Talvez para vocês seja assunto ainda para terem algo que falar. Para nós, para o Benfica, não foi bom. Até os jogadores cometem erros e temos de apoiá-los nos momentos difíceis. É tempo de responder e falar em campo. É tempo para nós mostrarmos uma boa mentalidade. Agora é tempo de olhar em frente, ele está de volta às opções”, apontou o técnico dos encarnados sobre o tema, sem explicar se o médio voltaria à titularidade ou se começava o jogo no banco.

Questões internas à parte, essa era outra dúvida em torno do Benfica que iria defrontar o Desp. Chaves. A última imagem da equipa não foi a melhor, com um encontro que teve sobretudo uma primeira parte aquém do esperado e que só foi resolvido apenas nos 20 minutos finais com um golo de Arthur Cabral, mas havia em paralelo a preparação para dois dérbis que serão decisivos frente ao Sporting para a Taça de Portugal (já na terça-feira) e para o Campeonato (dia 6) num calendário que terá essa maior densidade pela presença nos quartos da Liga Europa e que nestes dois últimos meses de época não apresenta grande margem de erro. O avançado brasileiro foi mesmo uma das novidades no onze, a par de Tiago Araújo (por castigo de António Silva) e David Neres. No entanto, não foram essas alterações que mudaram muito aquilo que foi o jogo.

Os assobios que se ouviram no final apesar do triunfo pela margem mínima diante do Desp. Chaves são um espelho daquilo que se viu da equipa de bola corrida. De canto, de livres laterais ou de livres diretos, houve perigo. Até de penáltis, com essa coisa quase de “apanhados” de haver três grandes penalidades falhadas por Di María e Arthur Cabral, uma na sequência de repetição. Hugo Souza parecia um guarda-redes impossível de transpor até que, mais uma vez, apareceu aquele que é sempre a chave do jogo do Benfica. João Neves não tem o talento de um Di María, que só precisa de uma bola e um par de metros para fazer magia e o que quer a assistir ou a arriscar o golo que teimou em não aparecer, mas é um pêndulo de tudo o que de bom a equipa consegue fazer com e sem posse. Tem pulmão e pernas que nunca mais acabam, tem um coração sem fim, tem sobretudo muita cabeça para perceber os momentos de jogo e para entender as zonas de ataque de bola em cantos e livres mesmo que nem sempre com a finalização de hoje. E foi isso que resgatou o Benfica.

Ficha de jogo

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Benfica-Desp. Chaves, 1-0

27.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Benfica: Trubin; Bah, Tomás Araújo, Otamendi, Aursnes; Florentino Luís, João Neves; Di María (Kökçü, 82′), Rafa, David Neres (João Mário, 82′) e Arthur Cabral (Marcos Leonardo, 74′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Álvaro Carreras, Morato, Juan Bernat, Rollheiser e Tengstedt

Treinador: Roger Schmidt

Desp. Chaves: Hugo Souza; Ygor Nogueira, Vasco Fernandes, Júnior Pius; Rúben Ribeiro (Pinho, 72′), Dário Essugo (Sanca, 72′), Guima (Paulo Victor, 82′), Benny (Jô Baptista, 82′); Carraça, Raphael Guzzo (Morim, 72′) e Héctor Hernández

Suplentes não utilizados: Rodrigo, Habid Sylla, Steven Vitória e Kelechi

Treinador: Moreno

Golo: João Neves (68′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Júnior Pius (25′), Hugo Souza (31′), Héctor Hernández (45′), Otamendi (45+3′), Rúben Ribeiro (56′), Guima (63′), Benny (65′), Raphael Guzzo (66′) e Vasco Fernandes (90+2′)

Como seria de prever, não só pela necessidade de resolver cedo dos encarnados mas também pela fragilidade de um conjunto transmontano sem vitórias nos últimos quatro jogos e com apenas um triunfo nos últimos 14 encontros, a partida teve um início de sentido único onde o objetivo não era aquele habitual de marcar em cada uma das balizas mas sim de o Benfica marcar cedo e o Desp. Chaves tentar adiar ao máximo esse golo madrugador das águias. Quase só se jogava no meio-campo dos flavienses, sendo que o primeiro lance de (muito) perigo acabou por surgir pelo inevitável Di María, num livre direto em posição frontal quase em cima da linha da área para grande defesa de Hugo Souza para canto (5′). Pouco depois, em mais uma bola parada, Florentino Luís apareceu da melhor forma ao primeiro poste após livre lateral na direita de Di María mas o desvio de cabeça por cima (12′). Havia perigo mas não em jogo corrido como seria expectável.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Benfica-Desp. Chaves em vídeo]

Nem mesmo de penálti e de canto, as bolas paradas que faltavam, o Benfica conseguiu destruir a muralha dos transmontanos. Na sequência de um castigo máximo por falta sobre Júnior Pius sobre Bah na área, Di María voltou a assumir a cobrança mas confiou em demasia na possibilidade de queda antecipada de Hugo Souza antes da marcação, permitindo a defesa do brasileiro (26′). Logo de seguida, numa saída rápida, David Neres assistiu o argentino na direita que fletiu para o meio, rematou mas viu a bola ficar nas malhas laterais após sofrer um desvio num defesa contrário. E na sequência do lance, o esquerdino assumiu a marcação no lado direito, arriscou um golo olímpico e por pouco não marcou de novo de canto direto (30′). A pressão estava a ser acentuada mas o Desp. Chaves, entre visíveis limitações, sentia-se mais confortável só a defender.

Ainda haveria mais um lance de muito perigo até ao intervalo, com Florentino Luís a surgir mais uma vez ao primeiro poste a desviar de cabeça um canto de Di María mas a fazer passar a bola muito perto do poste da baliza de Hugo Souza (39′). A par de João Neves, o miúdo que não sabe jogar mal, eram esses os dois nomes em maior foco nos encarnados, com o médio a ser um autêntico monstro do meio-campo com nove ações defensivas na primeira parte (sete no meio-campo contrário) mais cinco desarmes e o esquerdino a estar em todos os momentos de perigo ofensivo da equipa. No entanto, e apesar de toda essa insistência que na bola corrida não trazia tanto perigo pela capacidade que os transmontanos mantinham de “secar” Rafa e tirar a Arthur Cabral lances de possível finalização, o nulo mantinha-se com o Desp. Chaves sem conseguir soltar as unidades mais rápidas na frente mas a contar com um Dário Essugo que era um autêntico “polvo”.

Ao intervalo, e apesar dessas dificuldades em conseguir criar verdadeiras situações de perigo de bola corrida, Roger Schmidt optou por manter as mesmas unidades pedindo outro tipo de dinâmicas. Mais combinações pelas laterais para dar largura ao jogo e abrir mais espaço ao meio, mais velocidade de execução, uma maior verticalidade nos momentos em que a equipa recuperava bolas no meio-campo contrário. E foi isso que foi acontecendo, nomeadamente num lance em que Aurnes combinou com David Neres, o cruzamento ficou à mercê de Arthur Cabral mas Hugo Souza voltou a fazer bem a “mancha” (54′). Estavam a aproximar-se os minutos que iriam definir a partida da forma mais inesperada possível e quase para os “apanhados”: Júnior Pius fez falta sobre Di María assinalada primeiro fora da área e depois como penálti por intervenção do VAR, Arthur Cabral falhou o penálti (63′), a conversão foi repetida porque houve uma invasão da área, Hugo Souza defendeu pela terceira vez um castigo máximo (66′) mas o Benfica acabaria por chegar à vantagem, com Di María a marcar um livre lateral na direita e João Neves a fazer o desvio de cabeça (68′).

A barreira estava derrubada mas, ao contrário do que aconteceu em muitos outros jogos na Luz com Schmidt onde depois do primeiro golo existe uma enxurrada de golos logo de seguida, o Benfica continuou a ter os mesmos problemas em criar em bola corrida, com as substituições de ambos os conjuntos a travarem ainda mais o ritmo e a deixarem tudo adiado para os minutos finais. Aí, já com Kökçü em campo a ouvir assobios quando foi lançado na partida, o Desp. Chaves conseguiu a primeira oportunidade do jogo com Jô Baptista a cabecear a rasar a trave após cruzamento de Carraça (83′) e os encarnados responderam quase de imediato com Marcos Leonardo a atirar para nova defesa de Hugo Souza (84′) e Rafa a aproveitar uma segunda bola para visar a baliza de fora da área mas a sair ao lado (86′). Héctor Hernández, de cabeça, ainda tentou de novo o empate mas o 1-0 iria perdurar até ao final antes de ser ouvirem… mais assobios.

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