No salão nobre da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), a conferência “Sustentabilidade e Competitividade nas Empresas” trouxe a debate a importância de incorporar a sustentabilidade nas empresas portuguesas, numa altura em que a transição energética marca a agenda mundial. Um evento totalmente dedicado ao apoio das organizações que reuniu mais de uma centena de pessoas na plateia, para partilhar estratégias, formas de as colocar em prática e encontrar soluções para os desafios.
“Promover iniciativas como esta, que capacitem as empresas e que lhes permita uma melhor concretização da sustentabilidade através de debates, troca de experiências e partilha de melhores práticas, é dar-lhes ferramentas para ultrapassar este desafio e transformá-lo em oportunidades”, destaca Luísa Soares da Silva, administradora do Novobanco.
Também o presidente da CCIP, Rui Miguel Nabeiro, destaca esta conferência como inspiração para outras organizações adotarem medidas sustentáveis, e anuncia: “A CCIP está disponível para ajudar, nomeadamente, no que diz respeito à regulamentação. Temos, inclusive, um gabinete para esse propósito – esclarecer as dúvidas das entidades que se queiram iniciar neste caminho”. E é uma transição para a qual as pequenas e médias empresas não estão excluídas. A necessidade de se adaptarem a esta nova realidade impulsiona o Novobanco e a CCIP a gerar e a partilhar conhecimento sobre os passos necessários para se iniciar a jornada – que é longa, desafiante e exigente.
Um valor, dois benefícios
Com as alterações climáticas, as empresas têm sido cada vez mais pressionadas a diminuir os seus impactos, nomeadamente pela União Europeia. Por isso, há que convidar as empresas a ponderar os efeitos no meio ambiente e procurar esta transformação.
A sustentabilidade tem duas vertentes: a ética e a estratégia. Com recursos naturais finitos, a ecologia torna-se urgente. Além de ser uma necessidade, permite gerar competitividade e valor. Ao incorporar a transição energética, as organizações podem “destacar-se no mercado ao concretizar na atividade estas práticas de ESG”, recorda Luísa Soares da Silva. Além de contribuir para a transição ecológica, gera-se maior competitividade – no fundo, são dois benefícios simultâneos.
É um valor fundamental a ser adotado, até porque o mercado está atento – a sociedade e os desafios do futuro assim o exigem – e o cliente procura, exige, e acaba por escolher investir em negócios com os quais partilha os mesmos princípios. “Os clientes cada vez mais demonstram interesse por aplicar os seus recursos em produtos com critérios de sustentabilidade . Os investidores também têm cada vez mais em consideração critérios de sustentabilidade na seleção dos produtos em que investem”, revela a administradora do Novobanco.
Mitigar riscos sociais e ambientais é, assim, uma forma de aumentar as probabilidades de atrair novos clientes e encontrar novos mercados, incluindo o internacional.
Valores éticos no salão nobre
Foi Rui Miguel Nabeiro a fazer as honras e a inaugurar a apresentação do evento. As boas-vindas foram anunciadas como “uma transição urgente, complexa, que requer investimento e que tem, sobretudo, a pressão do mercado”. Destacou o público mais jovem como o mais exigente – por estar mais desperto para a crise climática – e sublinhou a sustentabilidade como critério a estar “no topo de todas as empresas”. É um caminho que o mundo já começou a percorrer e as empresas portuguesas não podem deixar de acompanhar.
Termina a intervenção com um pedido: “Sejam criativos, ambiciosos e corajosos. Quanto aos desafios, contem com a CCIP para vos apoiar e para que juntos possamos ultrapassar todos os obstáculos”.
O início da conferência, que se insere no programa de literacia ESG do Novobanco, ocorreu com o discurso de Luísa Soares da Silva. “Este encontro é uma oportunidade para partilharmos ideias e práticas. Tem em vista permitir uma melhor aplicação de temas de sustentabilidade, da transição energética e da economia circular”. E o novobanco quer ter um papel relevante no apoio à formação das empresas suas clientes e aos desafios do financiamento sustentável”. Não é fácil, exige a implementação de estratégias orientadoras, recorda a administradora, mas “nos desafios há benefícios”.
Depois das boas-vindas, deu-se início ao primeiro painel. “Acelerando a Sustentabilidade – A Regulamentação como Motor de Mudança”. Abordou-se uma legislação densa e exigente, mas tendo sempre presente a consciência de que há um objetivo de transformação. Porque afinal, o que é “ser-se verde”? Não basta dizê-lo. Há normas a cumprir e condições técnicas relacionadas com a eficiência energética e descarbonização. Foi este o contributo e esclarecimentos de Cláudia Coelho, partner da PWC.
“As Oportunidades e os Riscos da Sustentabilidade para as Pequenas e Médias Empresas” foi o tópico que se seguiu. Luís Rochartre, Partner&Head of Sustainability da Unobvious Solutions e professor da Universidade Católica e do ISEG, falou num conjunto de riscos associados de acordo com a forma como a entidade se posiciona. Convidou-nos a olhar para as oportunidades de outra perspectiva, indo além do obrigatório e pensando em novas soluções – “é o fator distintivo”, garante.
À conversa com as empresas
Paulo Ferreira, jornalista e host do painel das manhãs 360 da Rádio Observador, moderou a sessão de mesa-redonda do evento. O painel “Exportações Sustentáveis e a Competitividade Global” contou com os oradores Clara Moura Guedes, CEO do Monte do Pasto; Nuno Maia, head of communications da Secil; Dimas Antunéz Moreno, CFO da Bolschare e Luís Almada, administrador-delegado da Casa Santos Lima.
Os representantes apresentaram as suas empresas e partilharam como desenvolveram o seu caminho da transição energética. A Bolshchare, que se insere no mercado da agricultura internacional, perspetiva continuar a poupança e redução de recursos naturais, bem como implementar a sustentabilidade económica em toda a cadeia do negócio.
A Secil reconhece um período de grande mudança, o que é “um desafio muito grande”, uma vez que a produção de cimento é um processo emissor de dióxido de carbono para atmosfera, “mas vamos conseguir fazer a adaptação”, acredita Nuno Maia. A entidade está no caminho da descarbonização da indústria cimenteira e não está a fazer a transição sozinha – conta também com a mudança de mentalidade dos clientes e dos fornecedores, além do apoio das novas tecnologias.
Já o Monte do Pasto, que opera nos setores agroalimentar e da agropecuária, aposta desde cedo em projetos de investigação e desenvolvimento, como a agricultura regenerativa, que permitiu à empresa receber certificações de baixo carbono e Welfair de bem-estar animal. A ecologia, criação ao ar livre e manutenção da biodiversidade são parte de um conjunto de medidas já implementadas na empresa. “Com animais envolvidos no centro do negócio, as exigências são elevadas”, reforça Clara Moura Guedes.
Na Casa Santos Lima, a sustentabilidade também é um assunto primordial, ainda que, no setor do vinho “é um tema bastante embrionário, um processo que ainda está no início”. Luís Almada garante que a empresa está a trabalhar na redução das emissões carbónicas para tentar cumprir com as metas estabelecidas. À Rádio Observador, o administrador-delegado alerta: “se não se transformam, ficam de fora”.
No final da conferência ainda houve espaço para o público colocar questões ao painel.
A sustentabilidade e a competitividade estão interligadas nesta que é uma exigência do mercado e de uma sociedade justa e ecológica. Nesta matéria, o Novobanco está na linha da frente com o compromisso de uma sociedade mais sustentável.