A defesa de 1.992 lesados do Banco Espírito Santo manifestou-se esta quinta-feira indignada com o adiamento para setembro do julgamento do processo BES/GES, criticando uma “justiça que parece paralisada por loucuras processuais”.

“Após mais de uma década de factos, desculpas e inércia, estamos exaustos e indignados com a realidade crónica da justiça portuguesa, que parece paralisada por loucuras processuais, enquanto continua, de forma desmascarada, a desamparar as pessoas que perderam a sua dignidade patrimonial – as verdadeiras vítimas disto tudo”, afirma o advogado Nuno da Silva Vieira numa nota enviada à agência Lusa.

Em causa está um um despacho da juíza Helena Susano, do Juízo Central Criminal de Lisboa, que adiou esta quinta-feira de 18 de junho para setembro o início do julgamento do processo BES/GES, devido à dificuldade de notificação de arguidos.

Nuno da Silva Vieira adianta que, “face a este cenário de loucura judicial, que só tem beneficiado os arguidos, e com um julgamento que só recomeçará em setembro”, os lesados “sentem-se compelidos a adotar medidas drásticas e inéditas para ir ao encontro da justiça que as pessoas merecem”, sem, contudo, referenciar quais.

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“Vamos aumentar a nossa atividade processual e vamos querer colecionar todos as respostas negativas, todos os ‘não’ e todas as dificuldades. Porque essa será a prova derradeira da revitimização infligida às pessoas”, argumenta na nota escrita à Lusa.

O advogado alude ainda a uma possível troca de juízes no movimento anual de magistrados, em setembro, o que poderia suscitar novos atrasos. “Seria o cúmulo rodarem cadeiras em setembro e serem, mais uma vez, alterados alguns atores”, refere.

O julgamento do processo-crime Universo Espírito Santo vai arrancar uma década após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES), em agosto de 2014, e tem como principal arguido o ex-presidente do BES Ricardo Salgado, acusado de 65 crimes, entre os quais associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documento, burla qualificada e branqueamento.

Considerado um dos maiores processos da história da justiça portuguesa, este caso agrega no processo principal 242 inquéritos, que foram sendo apensados, e queixas de mais de 300 pessoas, singulares e coletivas, residentes em Portugal e no estrangeiro.

Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.