O Tribunal do Porto condenou Marco “Orelhas” Gonçalves, adepto do FC Porto com ligações à claque Super Dragões, a uma pena de 18 anos de prisão pela morte de um adepto do clube, Igor Silva, em maio de 2022. O cunhado de “Orelhas”, Paulo Cardoso, viu o tribunal decretar a mesma pena, condenando ambos pelo crime de homicídio qualificado. A Renato Gonçalves (filho de “Orelhas”) foi aplicada uma pena de 20 anos de prisão, a mais pesada dos três. O Ministério Público tinha pedido pena máxima para estes arguidos a 21 de março deste ano.

Tribunal atribui indemnização de 165 mil euros à mãe de Igor Silva

A sentença foi proferida na tarde desta quarta-feira no Tribunal Criminal de São João Novo, no Porto. O Tribunal do Porto absolveu os arguidos Diogo Meireles, Miguel Pereira, Rui Costa e Sérgio Machado. Cassandra da Costa, Marisa dos Santos e Iara Gonçalves (filha de Marco Gonçalves) foram condenadas por ofensas à integridade física. Marisa dos Santos foi condenada a uma pena de 1 ano e 8 meses, Iara e Cassandra 1 ano de prisão, todas com pena suspensa.

O Tribunal fixou ainda uma indemnização de 165 mil euros à mãe de Igor Silva e 12 mil de indemnização a Elisabete Pinto, uma testemunha que tentou prestar ajuda à vítima e acabou por ser agredida. A juíza considera que os arguidos “não souberam refrear os impulsos”, agindo motivados pela vingança.

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A juíza decidiu aplicar o regime especial a Iara e Cassandra, embora diga que as jovens agiram com agressividade e movidas pelo mesmo desejo de vingança. A juíza sublinha que a recolha de depoimentos e a averiguação das provas, entre as quais imagens de videovigilância e a análise da roupa, foram importantes para apurar os factos.

De acordo com os factos apurados, Marco Gonçalves, o filho e o cunhado mantinham um clima de conflito com a vítima, já tendo havido anteriormente uma agressão numa discoteca no Porto. Durante a tarde de 7 de maio, houve confrontos entre estes três arguidos e a vítima mortal no Estádio da Luz, e as testemunhas afirmam que Marco Gonçalves ameaçou Igor Silva de morte: “Vou-te matar.”

O Tribunal apurou que, à chegada ao Porto, iniciou-se uma “perseguição desenfreada” a Igor Silva. Marco Gonçalves, Paulo Cardoso e Renato Gonçalves foram atrás do jovem adepto, chegando Marco Gonçalves e Paulo Cardoso a segurar Igor Silva pelas pernas para que Renato Gonçalves conseguisse agredi-lo com facadas. Houve um momento em que a vítima mortal conseguiu fugir dos agressores, mas foi novamente apanhado e esfaqueado, acabando por morrer.

A magistrada considera ainda que Cassandra da Costa, Marisa dos Santos e Iara Gonçalves não tiveram uma intervenção direta no homicídio, mas ajudaram a que este acontecesse ao impedir que outras pessoas pudessem prestar auxílio a Igor Silva.

A juíza afirmou que a perseguição e o ataque a Igor Silva“foi um acontecimento rápido, fugaz, as testemunhas estavam em locais diferentes e aquilo que se viu por vezes confunde-se, mas apesar de tudo conseguiram transmitir aquilo que se passou”.

Arguidos manifestaram “desejo de vingança”

Os arguidos assumiram como defesa a negação do factos. Renato Gonçalves admitiu apenas uma facada. Porém, Igor Silva recebeu 18 no total e o seu sangue estava no casaco do arguido, o que levou o tribunal a considerar que o seu depoimento não era credível.

O tribunal considera que os elementos demonstraram que foi Renato Gonçalves quem desferiu os golpes na vítima, e foi o único que teve a preocupação de esconder-se e ao casaco que trazia no dia dos incidentes. A juíza acrescentou que várias testemunhas assistiram ao crime e que declaram ter medo de falar em tribunal.

Apesar de todos os arguidos terem um grau de conhecimento deste “desejo de vingança”, a juíza afirmou que não foi possível concluir se quatro dos arguidos sabiam que a intenção seria matar Igor Silva. São eles Rui Costa, Sérgio Machado, Miguel Pereira — que estão em liberdade — e Diogo Meireles, conhecido como “Xió” — que se encontra a cumprir pena de prisão por outro crime. Além disso, a magistrada disse que não existem depoimentos que os coloquem no local do crime.

A sessão estava prevista começar às 14h mas começou pelas 16h. Antes do início, familiares e amigos de Igor Silva reuniam-se à porta do tribunal com tshirts com o rosto jovem estampado. À entrada dos arguidos no tribunal, o grupo gritou “assassinos”, num momento seguido de perto pelos elementos das forças de segurança que montaram um forte aparato policial no local.

A 21 de março, o Ministério Público tinha solicitado ao Tribunal do Porto que aplicasse a pena máxima a Marco Gonçalves,  a Renato Gonçalves; e Paulo Cardoso – que tem a alcunha de “Chanfra”.

Para outros quatro arguidos, homens, a representante do Ministério Público tinha pedido “penas exemplares”, sem precisar a medida das mesmas, e prisão efetiva até quatro anos para três mulheres arguidas.

O advogado da família de Igor Silva considerou, em março, que os arguidos deviam ser condenados pelo crime de homicídio qualificado, argumentando que se alguns contribuíram diretamente para a morte do jovem, outros impediram que lhe fosse prestado socorro pelas equipas médicas.

Igor Silva, de 26 anos, morreu depois de ser agredido e esfaqueado 18 vezes, na madrugada de 8 de maio de 2022. A de 7 de maio, o FC Porto sagrou-se campeão nacional após vencer o Benfica no Estádio da Luz por 1-0. Já tinha havido confrontos entre o jovem e os agressores em Lisboa, mas foi à chegada, no Porto, entre as celebrações junto ao estádio do Dragão, que aconteceu o crime.

Renato Gonçalves encabeçou uma perseguição a Igor Silva, que sofreu uma emboscada feita por oito homens, entre os quais Marco “Orelhas” e Paulo Cardoso, cunhado de “Orelhas”. Igor Silva foi socorrido por outros adeptos que se encontravam no local, mas não sobreviveu aos ferimentos provocados pelas agressões.

Ao que tudo indica, na origem do ataque estiveram disputas pessoais entre a vítima e os arguidos, que se arrastavam há meses.

Marco “Orelhas” Gonçalves é conhecido por ser o número dois da claque portista, Super Dragões. Quando era jogador do Canelas FC, chocou o mundo ao partir o nariz a um árbitro. Jogou grande parte da sua carreira futebolística no Futebol Clube Cerco do Porto.

No processo foram constituídos 12 arguidos. Diogo Meireles assistiu à sessão por videochamada.