Dos 18 pilotos portugueses que iniciaram o Rali de Portugal, na quinta-feira, apenas sete resistiram ou optaram por continuar para o fim de semana, numa decisão que, para muitos, “tem mais de emocional, do que de racional”.
Isto porque as contas da ronda para o Campeonato Portugal de Ralis (CPR) fecharam no final de sexta-feira e, para aqueles que não tiveram problemas mecânicos ou acidentes, a opção de fazer o rali até ao final é motivada pelos compromissos com os patrocinadores ou, simplesmente, pela paixão pela modalidade.
“O meu principal motivo é porque gosto muito de ralis. Há dois anos que não fazia o Rali de Portugal e desta vez, como havia oportunidade de o fazer, e estava em quinto no CPR, achei que fazia todo o sentido. Além disso, a idade começa a avançar e temos de ir aproveitando”, disse Paulo Neto, à agência Lusa.
O piloto que tripula um Skoda, e que nas primeiras especiais da manhã de hoje até estava a rivalizar com adversários que participam na categoria WRC ‘masters’ até ter um problema mecânico, reconheceu que esta é uma prova exigente em termos financeiros, mas acredita que o esforço “vale a pena”.
“Diria que a maior parte dos custos já estão contabilizados. Para continuar são mais uns seis ou sete pneus e uns quantos litros de gasolina. A equipa está paga, a inscrição também, Para mim, faz sentido continuar, até porque damos visibilidade aos parceiros, pois este é um rali visto por muita gente”, completou Paulo Neto.
Já Hélder Mirada, que está ao volante de um Peugeot 208, não compete no CPR, mas tem uma presença habitual no Rali de Portugal, seguindo com o objetivo de levar ao carro até ao final.
“Quem gosta de ralis quer sempre fazer a prova toda. Mas o meu principal motivo é passar em Cabeceiras de Bastos, que é minha terra natal e onde estão os meus amigos e patrocinadores. Este ano é no domingo, e temos de levar o carro até lá”, disse o piloto minhoto.
Hélder Miranda reconhece que a tarefa não é fácil, não só porque apanha os troços já muitos desgastados, passando depois dos pilotos da frente, mas também pelos custos que quatro dias de provam acarretam.
“Continuar é sempre mais caro. Temos de somar a despesa com pneus, gasolina, logística, assistência e o desgaste da mecânica. Temos de trabalhar para dar visibilidade aos nossos parceiros. Já sabemos que é difícil aparecermos na televisão, mas mostrar o nosso carro nas especiais de Fafe, Cabeceiras ou Amarante é sempre especial”, completou.
Em sentido inverso, José Pedro Fontes (Citroën), que terminou como melhor português na sexta-feira, optou, desta vez, por ficar-se pelo segundo dia da prova, numa decisão que apelidou de “racional”.
“Se fosse emocional ficava, mas temos de gerir prioridades. Fazer mais dia e meio de rali representava cerca do dobro dos custos. Há outros compromissos”, disse, conformado.
Essa conta, de duplicar os custos, é também é feita por Pedro Neto, que foi o terceiro melhor piloto luso na sexta-feira, e quarto no fecho da contas do CPR.
“As pessoas [assistência] já estão cá, mas seria mais pneus, gasolina e, principalmente, o desgaste do carro, com mais 200 quilómetros de corrida. No nosso caso não compensava”, desabafou.
O piloto que participou na corrida ao volante de um Skoda considerou que se houvesse mais exposição mediática, mais marcas se juntariam à modalidade para apoiar projetos, apontando que ainda há algum trabalho nesse capítulo.
“Tantos nós, pilotos, como as organizações têm de promover mais os ralis, tentando ter mais tempo na televisão. Este é um produto vendável e pode ser mais bem aproveitando. Com mais apoios, talvez conseguíssemos fazer o Rali de Portugal até ao final e mostrar a qualidade dos portugueses competindo com adversários estrangeiros. E, quem sabe, revelarmos talentos nacionais para a modalidade”, completou Paulo Neto.