O Millennium BCP obteve lucros de 234,3 milhões no primeiro trimestre de 2024, continuando a beneficiar do aumento da margem financeira – em termos simples, a diferença entre os juros cobrados nos créditos e aquilo que o banco paga para se financiar (nomeadamente através dos depósitos dos clientes). Os resultados trimestrais subiram cerca de 8,4% em relação aos 216 milhões do período homólogo.

A atividade em Portugal deu ao banco 203,5 milhões de euros, um lucro que aumentou mais de 18% em relação ao período homólogo. O restante foi obtido pela atividade internacional do grupo, sobretudo na Polónia.

O banco vem de um ano (2023) em que, na operação consolidada do grupo, mais do que quadruplicou os resultados, para 856 milhões de euros, a beneficiar do aumento súbito das taxas de juro iniciada pelo BCE no verão de 2022.

Na operação doméstica o banco está, atualmente, com uma taxa de margem financeira de 2,34% – o que espelha a tal diferença entre aquilo que o banco paga para se financiar e os juros que cobra. Essa taxa, porém, reduziu-se ligeiramente (em duas décimas) na comparação homóloga da operação em Portugal, depois de o banco já ter sinalizado que o “pico” da margem financeira aconteceu no terceiro trimestre do ano passado. A nível consolidado, no entanto, a taxa de margem financeira aumentou 4,8%.

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Neste primeiro trimestre, a margem financeira aumentou 4,8% para 696,2 milhões, uma rubrica crucial para o desempenho dos bancos que continua a subir embora já não ao mesmo ritmo que no ano passado. A margem financeira e as comissões (que subiram 1%) levaram os chamados “proveitos core” a subirem 3,8% para 892,6 milhões.

Porém, o banco aumentou os custos operacionais em quase 15% para 308,1 milhões, segundo a informação transmitida nesta quarta-feira. A maior variação, nesta rubrica, foi nos custos com pessoal nas operações internacionais, já que em Portugal os custos operacionais (totais) aumentaram 5,5%.

A rentabilidade dos capitais próprios (ROE), que ao longo de vários anos era destacada pelos bancos por ser de apenas um dígito, já está em 15% neste primeiro trimestre de 2024.  Ainda assim, o presidente da comissão executiva salienta que o ROE médio dos últimos 10 anos é de apenas 1,1%.

O BCP está, também, com um rácio de capital (CT1) “muito robusto”, disse Miguel Maya na conferência de imprensa, no Tagus Park (Oeiras): 16%. “Não temos capital em excesso, tenho rácios muito robustos”, afirmou o presidente do BCP, acrescentando que “é importante para o BCP que, depois de uma década em que pagámos poucos ou nenhuns dividendos, façamos uma coisa que não fizemos durante muito tempo que é remunerar adequadamente os acionistas”.

BCP vê com “entusiasmo” medidas para ajudar jovens a comprar casa

Miguel Maya garante não conhecer como a medida será operacionalizada, mas não esconde que vê “com entusiasmo” a intenção de o Estado garantir as entradas iniciais a jovens (até 35 anos) na compra de casa. “O tema da habitação é um problema sério, não é um tema inventado e, se calhar, veio para o debate público tarde demais”, diz Miguel Maya, comentando que as novas medidas parecem ser “desenhadas por quem teve a consciência e teve o cuidado de perceber a origem do problema e conceber soluções”.

Essas soluções passam por medidas “do lado da oferta” mas, também, o banco diz ver “com satisfação que, sabendo-se que a maioria dos jovens não têm os 10% dos fundos próprios para comprar a primeira casa, se esteja a criar um modelo que ainda não sabemos como vai funcionar”. Miguel Maya salienta que para os jovens, “se não tiverem pais com essa capacidade de ajudar”, enfrentam uma situação de “estrangulamento”.

Mas “não conhecemos o que é que vai ser feito. Reconhecemos que existe um problema, um problema do lado da oferta e da procura”. Por isso, o banco vê “com entusiasmo” esta intenção, embora falte conhecer “os detalhes”, já que “detalhes podem transformar uma boa ideia numa péssima solução”.

Novo aeroporto: “Banco vai estar particularmente ativo”

Questionado pelos jornalistas na conferência de imprensa sobre o novo aeroporto, Miguel Maya diz que o banco vê “com satisfação que se tenha, finalmente, tomado uma decisão” sobre este equipamento.

O banco “vai estar particularmente ativo a apoiar na construção do aeroporto e não só o aeroporto mas todas as infraestruturas associadas”, disse Miguel Maya, que garante que “não são oportunidades para o BCP, são oportunidades para muitos dos seus clientes e o banco estará ao lado desses clientes”.

Já sobre as intenções governamentais de descer o IRC, Miguel Maya diz que “a competitividade fiscal é um tema relevante. Se queremos um Portugal mais próspero temos de ter empresas com capacidade de se capitalizar”. Porém, ressalva o banqueiro, “na banca, isso passaria por eliminar os impostos extraordinários que já se tornaram ordinários, que são algo que o BCP carrega às costas e que equivale a cerca de 60 milhões de euros, incluindo um imposto sobre uma crise que já foi há não sei quantos anos”.

“Antes de mexer no normal, faria sentido retirar-se aquilo que é extraordinário”, pede Miguel Maya, salientando que são contribuições que não são exigidas noutros países europeus com os quais o BCP compete diretamente no âmbito da união bancária.