Sir Francis Cook, Baronete e Primeiro Visconde de Monserrate, nasceu em Clapham, nos arredores de Londres, em 1817, no seio de uma família abastada – a empresa do pai era uma das maiores do país na produção e comércio de têxtil. Apesar de se ter dedicado ao negócio da família e de o ter feito crescer ao ponto de se tornar um dos homens mais ricos do Reino Unido, Francis Cook foi mais do que um capitalista bem-sucedido: foi também um homem das artes, detentor de uma relevante coleção de pintura e escultura e o responsável pela construção de uma das mais singulares propriedades em Portugal: o Parque e o Palácio de Monserrate.

Mas a história de Monserrate não começa nem acaba com Cook, apesar do seu inevitável protagonismo. A sua origem remonta ao século XVI, mais precisamente ao ano de 1540, quando, vindo de uma peregrinação ao famoso Mosteiro de Montserrat, na Catalunha, o reitor do Hospital de Todos os Santos, Frei Gaspar Preto, manda ali edificar uma capela dedicada a Nossa Senhora de Monserrate – vem daí o nome que ficará, para sempre, associado à propriedade. À época, esta era conhecida por Quinta da Bela Vista e tinha propósitos essencialmente agrícolas, cuja produção se destinava, sobretudo, ao consumo no Hospital.

No século seguinte, já sob a designação Quinta de Monserrate, a propriedade é aforada a uma família da nobreza, os Mello e Castro, que passam a administrá-la à distância, por procuradores, a partir da sua residência em Goa. Não passavam, que se saiba, grandes temporadas na Quinta e ainda bem, já que o terramoto de 1755 se faz sentir, e de que maneira, em Monserrate, provocando estragos avultados nas estruturas existentes no local.

É no final do século XVIII, e apesar do mau estado da propriedade, que começa o chamado ciclo inglês de Monserrate. Em 1789, os Mello e Castro arrendam a propriedade a Gerard de Visme, um comerciante e banqueiro inglês radicado em Lisboa, que fizera fortuna com o comércio de pau-brasil e que era próximo da corte e do Marquês de Pombal. De Visme é o primeiro a habitar em Monserrate, sobretudo em período de férias, mandando para tal construir um castelo em estilo neo-gótico, com dois torreões, inspirando-se no revivalismo gótico inglês de meados de Setecentos.

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Em 1794, de Visme subarrenda Monserrate a outro britânico, William Beckford. Com Beckford, um aristocrata, escritor, músico, homem de talentos e interesses vários, Monserrate ganha fama e encanto entre a elite artística britânica. Beckford não faz alterações significativas à propriedade, mas há elementos desta fase que ainda resistem: um falso cromeleque, uma cascata artificial com o seu nome e o arco de Vathek, em pedra, batizado com o título de um dos seus romances. É durante esta época que o mais famoso dos poetas românticos britânicos, Lord Byron – amigo e correspondente de Beckford –, toma pela primeira vez contacto com Monserrate. Visitará a propriedade anos mais tarde, já em ruína, imortalizando essa visita no poema “Childe Harold’s Pilgrimage”.

O estado decadente de Monserrate não abala o seu estatuto, quiçá até acrescenta. Os visitantes, sobretudo ingleses, continuam a aparecer, atraídos pelo poema de Byron. Um deles, apaixona-se de tal forma pela propriedade que decide arrendá-la: Francis Cook.

Já como proprietário, a partir de 1863, Francis Cook encomenda ao arquiteto James Knowles Jr. o projeto de reconstrução do Pálacio, a partir da ruína da mansão de Gerard de Visme. O arquiteto faz jus ao ecletismo e rasgo da era romântica, evocando estilos de outros tempos e latitudes, combinando materiais e técnicas europeias e orientais para criar um Palácio singular, sem esquecer confortos raros à época, como as águas correntes, aquecimento nas salas, luz elétrica e até um elevador interno que ligava a cozinha e a copa.

O Parque não lhe ficará atrás. O paisagista William Stockdale, o botânico William Neville e o mestre jardineiro James Burt criam cenários mágicos ao longo dos mais de 30 hectares da propriedade, com espécies de todo o mundo em convívio com outras autóctones, a rodearem caminhos estreitos, ruínas e lagos. Destacam-se, por exemplo, o Jardim do Japão, e sua coleção de bambus e camélias, o Vale dos Fetos (arbóreos), o primeiro relvado plantado em Portugal ou a enorme Araucária de Norfolk, a maior árvore de todo o jardim, com mais de 50 metros de altura.

É neste cenário, abrilhantado no interior do edifício por obras de arte de todo o mundo, que Francis Cook e a família passam férias e organizam festas memoráveis. O seu trabalho e filantropia em prol da comunidade local, fundando escolas e apoiando a Misericórdia valem-lhe o título de Visconde de Monserrate, atribuído pelo rei D. Luís I.

Francis Cook morre no início do século XX, em 1901. Os seus descendentes mantêm a ligação a Monserrate até 1929, altura em que a família, seriamente afetada pela crise provocada pelo crash da bolsa de valores de Nova Iorque, decide desfazer-se da propriedade. Após várias tentativas de venda por parte dos Cook, o Governo Português adquire  o Parque e Palácio de Monserrate em 1949.

Em 2000, a Parques de Sintra passa a gerir Monserrate, reabilitando coberturas, fachadas e todas as infraestruturas necessárias à reabertura do palácio, que acontece em 2010. Os trabalhos continuam por mais alguns anos, focados, sobretudo, no interior do edifício. Hoje, Monserrate apresenta-se com o brilho de outros tempos e a Parques de Sintra está apostada na sua musealização, com a aquisição de peças que evoquem a coleção de arte e a vivência da família Cook.

Para ficar a saber mais histórias sobre o Parque e o Palácio de Monserrate, oiça aqui o episódio dedicado no podcast Sintra em Cinco Séculos, com os convidados António Nunes Pereira (diretor dos Palácios geridos pela Parques de Sintra), Mariana Schedel (conservadora da Parques de Sintra) e Elsa Isidro (arquiteta paisagista, responsável pelo Parque de Monserrate).