Poderão ter sido cometidos crimes de guerra durante a operação levada a cabo no sábado pelas forças israelitas com o objetivo de libertar quatro reféns, considera a agência das Nações Unidas para os direitos humanos, que pede que os possíveis crimes de guerra — tanto da parte de Israel como do Hamas — sejam investigados.

Em causa está uma operação militar especial realizada no último sábado por Israel no campo de refugiados de Nuseirat, que resultou na libertação de quatro reféns israelitas que se encontravam nas mãos do Hamas desde o dia 7 de outubro do ano passado. A operação resultou, contudo, na morte de pelo menos 274 palestinianos, incluindo crianças — e mais de 600 ficaram feridos.

Como explica a Al Jazeera, o fluxo de pacientes que procuraram os hospitais de Gaza desde a operação aumentou significativamente — o que agrava ainda mais a situação daquelas unidades de saúde, que se têm visto com grandes dificuldades em manter-se em funcionamento devido à falta de medicamentos, combustível para a energia e até alimentos.

A operação consistiu numa incursão terrestre das forças especiais israelitas com apoio aéreo e visou múltiplos esconderijos que seriam usados pelo Hamas no campo de refugiados. As Nações Unidas, contudo, acusam Israel de ter usado uma “camuflagem humanitária” e de ter usado “os reféns para legitimar matar, ferir, mutilar, matar de fome e traumatizar palestinianos em Gaza”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Guterres envia mensagens de apoio a famílias dos reféns israelitas libertados

Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados, disse que a libertação dos reféns, sendo um facto positivo, “não deveria ter-se efetuado à custa de pelo menos 200 palestinianos, incluindo crianças”.

Agora, em comunicado, um porta-voz do gabinete do alto-comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, veio manifestar “profundo choque” pelo ataque israelita que vitimou mais de duas centenas de civis palestinianos. “A forma como o raide foi conduzido numa área de tal forma povoada coloca seriamente em causa se os princípios da distinção, proporcionalidade e precaução — tal como estão definidos nas leias da guerra — foram respeitados pelas forças israelitas”, lê-se na nota.

O comunicado diz ainda que o alto-comissariado está “perturbado” pelo facto de haver “grupos armados palestinianos” que continuam a “manter muitos reféns, muitos deles civis, o que é proibido pelo direito humanitário internacional”.

“Além disso, ao manter os reféns em áreas tão povoadas, os grupos armados que o fazem estão a colocar em risco as vidas dos civis palestinianos, bem como as dos reféns, aumentando o risco das hostilidades”, acrescenta o comunicado.

Israel respondeu a estas afirmações do alto-comissariado da ONU para os direitos humanos, dizendo que “finalmente” o alto-comissário “percebeu que o Hamas usa os palestinianos como escudos humanos”, mas lamentou que Volker Türk tenha “caído no hábito de caluniar Israel”. “Aqueles que continuam a proteger os terroristas do Hamas, incluindo o alto-comissariado, são cúmplices no sofrimento de palestinianos e israelitas.”

Esta segunda-feira, o conselho de segurança da ONU aprovou uma resolução apresentada pelos EUA para um cessar-fogo em Gaza, que já foi subscrita pelo Hamas. Também esta terça-feira, foi notícia que o Hamas já terá entregue uma resposta à proposta israelita para um acordo de cessar-fogo.