O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, disse esta terça-feira não compreender a atribuição de responsabilidades ao município pelos atrasos na obra do metrobus, defendendo que tal foi provocado pela falta de mão-de-obra nas frentes de obra.

“Não compreendo o facto de atribuírem a imposição do município do Porto (…) como causa dos atrasos na empreitada”, afirma Rui Moreira numa carta enviada esta terça-feira ao presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, Tiago Braga.

Na missiva, a que a Lusa teve acesso, esta terça-feira, Rui Moreira diz que foi a falta de mão-de-obra nas frentes em execução “o que manifestamente terá comprometido os prazos exigidos”.

“Até um leigo na matéria poderia atestar este como um dos motivos evidentes para o atraso na conclusão da empreitada”, considera.

Numa resposta escrita enviada ao grupo de trabalho da Assembleia Municipal do Porto que acompanha os investimentos no transporte público, Tiago Braga esclareceu que a “obrigatoriedade imposta pelo município de manter sempre em funcionamento duas vias de circulação rodoviária em cada sentido na Avenida da Boavista” levou a uma reformulação do projeto.

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Tiago Braga acrescentava ainda que a obra foi “fortemente condicionada pelo exíguo espaço disponível”.

“O trabalho desenvolvido foi muito para além da implementação de uma nova tipologia de transporte, servindo também para a reabilitação infraestrutural de uma das artérias mais importantes da cidade do Porto”, acrescentou.

Esta terça-feira, Rui Moreira afirma que as considerações feitas na resposta da Metro “não correspondem à verdade” e critica o “mau planeamento” da empresa na condução da empreitada num ambiente urbano “altamente densificado” como é a Avenida da Boavista.

Dizendo não questionar a importância da implementação de novos sistemas de mobilidade e que estes inevitavelmente causam constrangimentos na execução, Rui Moreira afirma, no entanto, que uma intervenção da envergadura do metrobus “carece de toda a atenção possível” e de uma meticulosa preparação para que o impacto seja o menor possível.

Para o autarca independente, a solução inicialmente prevista pela Metro – ocupar uma via em cada sentido e das duas vias centrais, deixando livre uma via de trânsito em cada sentido – teria “impactos significativos na atividade económica, estabelecimentos de ensino, acesso a garagens e habitações, e todas as interseções ao longo daquela artéria”.

“Para que seja possível equacionar o impacto que a empreitada iria gerar, sem a intervenção do município do Porto, a Metro pretendia implementar o corte da saída da Via de Cintura Interna (VCI) para a Avenida da Boavista (sentido nascente)”, refere, acrescentando que tal seria “uma sentença de morte à cidade do Porto”.

Rui Moreira afirma também que cabe ao município determinar as condições para todas as intervenções na cidade e à Metro do Porto “respeitarem as condições impostas”.

Na missiva, Rui Moreira tece ainda comentários à frente de obra na Avenida Marechal Gomes da Costa, onde o projeto foi alterado para contemplar a construção de uma caixa de pavimento com uma profundidade de um metro abaixo do nível da via pública, que acarretou “um atraso adicional de dois meses”.

“Fica a questão se neste caso a Metro do Porto pode alegar a imposição do município como condicionante para o atraso das obras”, observa.

Contactada pela Lusa, a Metro do Porto não quis comentar.