A Fenprof considerou esta quinta-feira que o plano do Governo para reduzir o número de alunos sem professores “fica muito aquém das expectativas e necessidades das escolas”, porque representa menos professores do que os que irão aposentar-se este ano letivo.

O plano, apresentado na semana passada pelo ministro da Educação, “depende da existência de 3.400 interessados e com habilitação própria” e “parece sobrecarregar aqueles que nas escolas já apresentam índices elevados de stress ou burnout”, alertou o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, em conferência de imprensa em Lisboa.

“Vai pedir-se aos professores que levem a cama para a escola?”, questionou Mário Nogueira, depois de analisar algumas das 15 medidas aprovadas na sexta-feira em Conselho de Ministros, como a que prevê a possibilidade de os professores trabalharem mais dez horas extraordinárias por semana.

O plano do Ministério prevê mais 3.400 professores nas escolas, entre professores aposentados e outros que adiem a data de reforma, “um número abaixo do dos professores que se prevê que se aposentem no ano escolar”, alertou Mário Nogueira.

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Segundo as contas da Fenprof, este ano letivo deverão aposentar-se 3.600 professores.

O sindicalista defendeu que a falta de professores nas escolas “exige medidas a pensar no futuro”, mas “a vista curta do plano” do Governo “procura apenas resolver alguns problemas imediatos”.

Numa análise ponto por ponto, o dirigente sindical salientou que o plano do Governo prevê recuperar 500 docentes que abandonaram a carreira, atrair 200 já aposentados e tentar que outros mil adiem a data de aposentação.

A estes 1.700 somam-se outros 1.700 que o plano prevê atrair, desde mestres, a doutorados, bolseiros de doutoramento ou professores imigrantes. A soma fica abaixo do valor médio anual de aposentações nos últimos anos, alertou Mário Nogueira.

Com um número que não atinge sequer o das aposentações como é que se resolve o problema? Como é que se vai reduzir em 90% o número de alunos sem todos os professores”, questionou, recordando o objetivo do programa do Governo.

Segundo Mário Nogueira, o plano é “sobrecarregar ainda mais” os professores que já estão nas escolas, com medidas como “mais dez horas letivas, às quais é preciso acrescentar mais cinco horas não letivas”, porque haverá “mais reuniões, mais turmas e mais alunos”.

Estimando que o horário de trabalho irá subir para “cinquenta horas semanais”, o Mário Nogueira alertou que “mexer nisto é ilegal”, sendo precisas negociações sindicais para realizar “qualquer alteração”, uma vez que são mudanças que colidem com o Estatuto da Carreira Docente.

Quando é que o ministério convoca a negociação?”, questionou, anunciando ter enviado na segunda-feira um ofício ao ministro para marcar com urgência uma reunião para as matérias negociais.

Além do aumento do horário de trabalho, a Fenprof considera que existem outras matérias que podem obrigar a negociações, como a maior mobilidade entre escolas e agrupamento ou a agilização de contratação de escola. Medidas às quais “a Fenprof não dará acordo”.

“O senhor ministro não pode pensar que apresenta um powerpoint, coloca na lei e já está. Não pode”, alertou, defendendo que “o plano tem muito por esclarecer e muito por negociar”, além de ficar “muito aquém” das necessidades das escolas e de conseguir dar resposta à falta de professores.

No início deste ano letivo, mais de 320 mil alunos começaram as aulas sem todos os professores e a 31 de maio havia ainda mais de 20 mil estudantes nessa situação, segundo dados apresentados na semana passada pelo ministro.

Questionado sobre se o plano do Governo poderá traduzir-se no arranque de mais um ano letivo marcado por protestos, Mário Nogueira disse que “vai haver um ano letivo marcado por agitação, que serão as escolas agitadas à procura de professores”.