É na Casa da Música que começa a ‘sinfonia’ das quatro estações da Linha Rosa do Metro do Porto, um conjunto de sons mais industrial fruto de um trabalho contínuo que tem de estar terminado daqui a um ano.

Em pleno verão portuense, é por debaixo da Avenida de França que se desenha uma imponente mas nada clássica colunata com cerca de 200 estacas de 20 metros cada, que suportam o trânsito à superfície, antes passarem a permitir fugir a ele quando a obra estiver concluída.

“Para fazer esse desvio de trânsito, tivemos que utilizar o que nós denominamos o método invertido, quase começámos a estação pelo telhado, ou seja, fizemos a laje de cobertura da estação”, explica à Lusa Pedro Lé Costa, gestor de projeto da Linha Rosa (Casa da Música – São Bento) do Metro do Porto.

Foi “para poder suportar essa laje de cobertura e permitir depois a posterior escavação até uma profundidade de cerca de 20 metros” que foi construída a estacaria, sendo que algumas das estacas são “definitivas e outras provisórias”.

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É um postal digno daquilo que será a futura maior estação da rede do Metro do Porto, já que além das atuais e da Linha Rosa, albergará também a Linha Rubi (Casa da Música – Santo Ovídio) e com uma entrada comum à Rosa, batizada de ‘cavernão’ por um projetista brasileiro que trabalha na obra.

“Essa mega caverna é uma caverna com cerca de 23 metros da largura, 65 metros de comprimento e 20 metros de altura. Na realidade, vai albergar quatro linhas de metro: duas para a linha Rosa e duas para a linha Rubi”, detalha Pedro Lé Costa.

A estação, que já viu cerca de 90 a 95% dos 200 metros cúbicos previstos escavados, tem também projetado um acesso ao El Corte Inglés que deverá ser construído no local dos atuais estaleiros da obra, na antiga estação ferroviária da Boavista.

A viagem prossegue até à estação da Galiza, a primavera da Linha Rosa, por ser a que está com os trabalhos mais adiantados, ainda que falte algum tempo para voltar a albergar o poético Jardim de Sophia, bem acompanhado pela estátua de Rosalía de Castro.

À superfície faltam poucas semanas para implementar um novo desvio de trânsito, por cima da laje de cobertura da estação, para “permitir fazer os dois acessos nascente, do lado das bombas de gasolina”, e lá dentro, onde já são visíveis degraus, em breve deverão ser concluídas as salas técnicas.

A estação da Galiza tem cerca de metade da dimensão da Casa da Música, com cerca de 70 metros cúbicos de volume de escavação e 20 a 25 metros de profundidade, e para esta semana está prevista a conclusão da escavação do túnel até ao Hospital Santo António, a próxima estação.

A mais invernal e misteriosa das estações em construção fica por debaixo do Jardim do Carregal, já que é utilizado o método mineiro para a sua construção, onde os locais são de difícil acesso.

“Das quatro estações que temos aqui, se calhar a estação do Carregal é uma das mais complexas. Por uma questão de não provocar impacto na superfície, tivemos de optar por uma técnica que foi um ataque da estação a partir de dois poços”, explica Pedro Lé Costa

Hospital Santo António “é uma estação com recobrimento muito baixo”, e “apesar de estar a uma profundidade de cerca de 25 metros, no volume nós temos uma caverna de cais que são cerca de 15/16 metros de altura e 20 metros de largura”.

A chegada do material à estação envolveu “um trabalho de logística trabalhado desde a primeira hora pelo empreiteiro, em que a escavação dos poços já é feita a pensar exatamente em que equipamentos é que vão entrar e depois vão poder continuar o trabalho de escavação da estação”, e posteriormente a saída de terras e materiais.

Em zona hospitalar, foram feitos alguns transplantes de árvores, estando todas as espécies do Jardim do Carregal identificadas e monitorizadas.

“No final, teremos de restituir o jardim da mesma forma que estava como o encontrámos. A Metro do Porto tem uma larga experiência no passado nesse aspeto”, lembrando Pedro Lé Costa a construção da estação do Marquês, na Linha Amarela.

Por fim, a Lusa percorreu a pé, por entre piso quase pronto para receber o carril e outro mais selvagem, o percurso até à nova estação de São Bento, na Praça da Liberdade.

As diferentes características do percurso são também espelho dos vários métodos abordados nesta estação, desde o método invertido na zona do Largo dos Loios e Rua dos Clérigos, até à ligação com um dos braços do rio da Vila na zona da Rua 31 de Janeiro e Praça Almeida Garrett.

“No núcleo central da estação temos o grande corpo, que foi feito num método mais tradicional de escavação da superfície até à cota de fundo, e agora estamos a montar as estruturas internas da estação, para fechar a laje de cobertura”, detalhou.

A nova estação fica a 25 metros de profundidade e contará com um grande mezanino “desde os Loios até São Bento”, ligando às atuais estações de metro e ferroviária, com uma ligação pedonal parcialmente inspirada no antigo túnel dos Congregados.

O grande desafio foi que “a quantidade de vestígios arqueológicos encontrados foi muito superior ao esperado”, entre os quais a Fonte da Natividade, que de um outono histórico passará a ser fonte de inspiração para as poetas na Praça da Galiza.