Foi uma vitória que valeu três pontos, foi um triunfo que terminou com três golos, foi um sábado que deixou três motivos de reflexão para os próximos três meses (pelo menos). Depois da derrota a abrir a Primeira Liga em Famalicão, o sucesso do Benfica na receção ao Casa Pia encheu o balão encarnado neste início de época mas nem por isso o oxigénio chegou para fazer a face a todos os problemas. Problema 1: a contestação que ainda se vai sentindo a Roger Schmidt, assobiado quando o nome foi anunciado antes do jogo. Problema 2: os problemas que se voltaram a viver na bancada do topo sul onde estão os No Name Boys e também no acesso interior a essa parte do estádio com a polícia. Problema 3: a incapacidade de criar oportunidades mais flagrantes, em quantidade e qualidade, até à quebra física e mental dos gansos nos últimos 20 minutos.

Benfica-Estrela. Di María e Renato lançados no jogo (1-0, 71′)

Por um lado, o técnico alemão saiu com boas notícias. Tiago Gouveia, que estava prestes a sair também da Luz, entrou para resolver numa versão tipo de jogador que todos os candidatos precisam para ser saca-rolhas de encontros mais complicados. Carreras, Kökçü e Marcos Leonardo mexeram com o jogo cada um à sua maneira para tornar o coletivo melhor. Pavlidis voltou a marcar e mostrou que será o avançado referência da equipa. No entanto, nem tudo foi bom e, além da lesão de Beste, a forma como João Mário saiu acabou por “riscar” um elemento que continuava a ser preponderante para Schmidt mas que caiu da convocatória.

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“Claro que falo sempre com os meus jogadores, ainda mais com os jogadores-chave, pela responsabilidade que têm. Não quero comentar muito esse tema, já falámos sobre isso na época passada. O que posso é dizer que falamos de um jogador muito importante para mim nos últimos dois anos, um dos capitães da equipa, que esteve envolvido em muitos golos, que joga sempre a um nível muito alto. Esses temas não são para discutir aqui. Percebemos o que aconteceu mas o João Mário é um jogador fantástico”, defendeu na conferência o técnico germânico, sem anunciar então que o médio ficaria de fora apenas por opção técnica.

“Não vou revelar o onze inicial mas fiquei muito feliz com a resposta dos jogadores que entraram no último jogo. Houve jogadores que mostraram muita qualidade, Marcos [Leonardo], Tiago [Gouveia]… Trouxeram uma energia renovada à equipa. Vamos ver. Estiveram bem, estão em forma, mas não quero revelar muito. Os suplentes contam sempre para a equipa. Como treinador tenho uma perspetiva um pouco diferente dos jogos. É importante marcar golos mas contra o Casa Pia os primeiros 60 minutos foram bons, não fiquei desiludido com os jogadores que começaram o encontro. Tenho de avaliar os parâmetros que os jogadores apresentam, eles não estão todos ao mesmo nível. Tenho o meu pensamento, tiro as minhas conclusões e depois tomo a melhor decisão para a equipa”, acrescentara sobre as dúvidas em relação ao onze.

Ao contrário do que se poderia pensar, Tiago Gouveia começou novamente no banco e foi Kökçü que entrou de início para o lugar de João Mário. Mais um médio com características de corredor central numa equipa que tem laterais de características ofensivas mas que fica muitas vezes refém da falta de unidades com esse pendor de dar maior largura ao jogo encarnado. Também para essas questões táticas que nem Roger Schmidt parece ter uma solução fechada, o turco foi a resposta aos problemas. Começou na esquerda, passou depois para a direita, andou pelo meio e aos 90′ ainda andava a encher o campo em todos os corredores, marcando o único golo da partida e lutando também contra os azares que continuam a tirar jogadores por lesão aos encarnados (agora Aursnes e mais tarde Tiago Gouveia). Que o Benfica foi sempre melhor, ninguém tem dúvidas; que o Benfica terá de jogar e marcar mais, também não. E esse é o dilema que fica para o futuro, sendo certo que Kökçü, que chegou a ficar de fora por reclamar o posição ao meio, só precisa de ter lugar…

O encontro começou com essa curiosidade de perceber como iriam posicionar-se todos os jogadores do meio-campo para a frente do Benfica em campo. Aursnes andou mais a cair na direita tal como Kökçü na esquerda mas em busca de espaços entrelinhas por dentro, Prestianni foi partindo do meio para qualquer zona menos inflacionada de adversários para procurar o 1×1, Leandro Barreiro acabou por ser a maior surpresa por estar muitos metros à frente de Florentino Luís em relação ao que se tinha visto com o Casa Pia. Não havendo um rol extenso de oportunidades claras ou situações na área, os encarnados iam dominando por completo o jogo e conseguiam tirar referências defensivas ao conjunto da Amadora, sem capacidade de colocar também a posse nas unidades atacantes para fazer a equipa “respirar” com bola e subir alguns metros no campo.

De forma natural, era Benfica, Benfica e Benfica mesmo não sendo um grande Benfica com uma diferença em relação ao último encontro: sem rematar muito, a vantagem chegou cedo. Tomás Araújo deixou um primeiro aviso de cabeça ainda longe da baliza para defesa de Bruno Brígido (4′), Kökçü teve um remate com perigo na sequência de uma mini diagonal da esquerda para o meio com nova intervenção do guarda-redes visitante (12′), o mesmo Kökçü arriscou um golo de bandeira após cruzamento de Leandro Barreiro que só terminou algures nas bancadas da Luz (15′). No entanto, e naqueles pormenores que definem muitas vezes aquilo que são e que podem ser os jogadores, o turco não se mostrou propriamente afetado pelo insucesso das tentativas iniciais, voltou a arriscar um tiro cruzado após passe de Pavlidis à entrada da área e inaugurou mesmo o marcador num lance em que Bruno Brígido não ficou bem na fotografia do lance (19′).

Pavlidis ainda marcaria em período de descontos mas cometendo falta sobre o guardião do Estrela, o que não impediu que o Benfica fosse pela primeira vez esta temporada na frente para o descanso. Ainda houve mais duas tentativas de Prestianni que não encontraram o alvo, um desvio de cabeça de Tomás Araújo no canto que viria depois a dar o golo anulado ao grego e pouco mais, sendo que os visitantes tiveram apenas uma tentativa na sequência de um livre lateral com Miguel Lopes a rematar ao lado. Havia um Benfica q.b. a dominar as operações entre pouco da equipa da Amadora e muito azar da parte dos encarnados, que mais uma vez perderam um jogador por lesão antes do intervalo (Aursnes, que deu lugar a Tiago Gouveia aos 31′). Sobrava um Bah com pulmão inesgotável, um Kökçü crente em tudo o que fazia e os movimentos de Pavlidis.

O segundo tempo trouxe uma história diferente. Schmidt fez algumas correções de posicionamentos e saídas em zonas de pressão mas foi sobretudo na intensidade e na agressividade com e sem bola que surgiu a versão mais conseguida do Benfica, a ter um primeiro remate perigoso por Pavlidis logo a abrir para defesa de Bruno Brígido (48′) e a oportunidade mais flagrante até essa fase com Tiago Gouveia a aproveitar um ressalto na área para rematar de primeira e ver o guarda-redes do Estrela desviar para canto (53′). Ainda houve mais uma tentativa de Prestianni que saiu ao lado após passe de Gouveia (63′) e um remate de Álvaro Carreras à figura de Bruno Brígido (65′) mas essa capacidade de “sufocar” o adversário começava a perder força sem que o golo do descanso chegasse para serenar todos os ânimos na Luz com 20 minutos por jogar.

Até quando o Estrela falhava, havia Brígido para corrigir o erro como aconteceu nessa fase, com Pavlidis a perder tempo antes de ficar rodeado de adversários e rematar contra a muralha, Tiago Gouveia a atirar para defesa do guarda-redes do Estrela e Álvaro Carreras, na terceira e última insistência, a ver Brígido desviar ainda com a ponta dos dedos para canto. Schmidt não esperou mais e lançou em campo Renato Sanches, no regresso à Luz oito anos depois, e Di María, tentando dar outra magia e frescura à equipa do meio-campo para a frente. Nem assim o Benfica voltou a acender a faísca em termos ofensivos para fechar em definitivo o encontro, sendo que foi nesse período que perdeu mais um jogador por lesão com Tiago Gouveia a torcer-se de dores do cotovelo/ombro direitos, mas sobrou o triunfo pela margem mínima entre os problemas.