As organizações sindicais na transportadora Carris não se entendem acerca da greve marcada para 18 de setembro e enquanto um sindicato contesta a “discriminação” de direitos entre trabalhadores, outro receia que as exigências levem a um “beco sem saída”.

“Os trabalhadores têm a legitimidade e o direito de conseguir mais e melhores condições, mas não nos revemos na forma como está a ser feito”, que pode levar os trabalhadores para “um beco sem saída”, afirmou Manuel Oliveira, vice-presidente do Sindicato Nacional de Motoristas e outros Trabalhadores (SNMOT).

O também coordenador do SNMOT falava à Lusa na sequência do pré-aviso de greve, para 18 de setembro, pelo Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal (STRUP), por falta de resposta da administração da Carris – Companhia Carris de Ferro de Lisboa, às reivindicações de aumentos salariais e do subsídio de refeição e evolução para as 35 horas semanais, com inclusão dos tempos de deslocação.

O dirigente do SNMOT salientou que a sua organização assinou um acordo, juntamente com o Sitra – Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes e o Sitese – Sindicato dos Trabalhadores do Setor de Serviços, que prevê uma redução do horário de trabalho para as 37,5 horas semanais.

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Nesse sentido, Manuel Oliveira discorda dos motivos na base da anunciada greve, considerando que o STRUP perdeu “personalidade” na Carris, ao trocar a sua exigência de 70 euros de aumento salarial e 12 de subsídio de refeição pela reivindicação de 100 euros e 15 de subsídio, após ter sido “trucidado” por um “movimento inorgânico” num plenário de trabalhadores.

“Não estou a colocar em causa a legitimidade que os trabalhadores têm para conseguir melhores condições de trabalho e remuneratórias”, reiterou o coordenador do SNMOT, criticando, no entanto, o tal “movimento inorgânico” de trabalhadores, que diz querer “unir os trabalhadores e expulsa os que têm uma opinião diferente”.

Para Manuel Oliveira, a reivindicação de 100 euros na tabela salarial acrescidos de 15 euros de subsídio de refeição neste momento “não é possível” e, por isso, quando a empresa disse aceitar 60 euros e 10 de subsídio, o SNMOT aceitou o aumento na tabela salarial, acrescido de “cerca de 13 euros por mês” do subsídio de refeição, para compensar a não aceitação dos 70 euros no salário.

As divergências, contudo, não passam só por aqui, pois como confirmou o dirigente do SNMOT, todas as condições do acordo assinado com o operador público da capital, que está para ser publicado, “serão exclusivamente aplicados aos associados” das organizações que o subscreveram.

O STRUP, em comunicado, lamentou que o conselho de administração da Carris não tenha aceitado as reivindicações e considerou inadmissível, “por vontade expressa das organizações” que assinaram a revisão do acordo de empresa, “a efetivação de qualquer discriminação de direitos, entre os trabalhadores”.

As discriminações incidirão “na aplicação de mais um e dois dias de férias aos trabalhadores com 15 e 30 anos de antiguidade, na redução do tempo máximo de permanência no escalão E e na integração total na tabela, do subsídio de atividades complementares”, lê-se na nota do sindicato filiado na Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans).

“Entendemos que quaisquer evoluções, mesmo que fique aquém de outras propostas, deverão ser aplicadas a todos os trabalhadores, sem qualquer discriminação”, advogou Manuel Leal, dirigente do STRUP, acrescentando que, na Carris, os progressos alcançados por via da discussão com os trabalhadores foram sempre “aplicados a todos”.

Questionado sobre a existência de um “movimento inorgânico” na Carris, o dirigente do STRUP desvalorizou, considerando que “o que houve foi uma discussão muito viva por parte dos trabalhadores”, admitindo que alguns empregados utilizam “uma forma mais expedita” de comunicação “através das redes sociais”.

No comunicado, o STRUP atribuiu à “firmeza e determinação dos trabalhadores nas lutas levadas a cabo” o abandono pelo conselho de administração “das propostas quanto à eliminação dos complementos de reforma e das alterações à clausula da assistência médica e medicamentosa”.

Para já, a direção do sindicato espera que na próxima reunião, em 10 de setembro, se possa evoluir “ao encontro das reivindicações centrais”, evitando a greve anunciada para 18 de setembro.