O julgamento da “Operação Vórtex” começa esta quinta-feira — e com uma confissão: o empresário Francisco Pessegueiro, acusado de 13 crimes, vai prestar declarações no arranque das sessões para confirmar as suspeitas de corrupção contra os ex-autarcas Joaquim Pinto Moreira e Miguel Reis, também acusados no processo, escreve o Correio da Manhã. O empresário garante ainda que era controlado pelos políticos, que lhe exigiam dinheiro, e não o contrário.

Num documento entregue ao Tribunal de Espinho pelos advogados de Francisco Pessegueiro (João Medeiros e Rui Costa Pereira, que se envolveram em vário processos mediáticos nos últimos anos, como a Operação Marques e o caso EDP) lê-se que os “factos descritos na acusação” do Ministério Público “correspondem de forma genérica à verdade”.

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E ainda que “as alegadas contrapartidas prometidas a Joaquim Pinto Moreira e Miguel Reis foram solicitadas pelos próprios”, sendo que, “na verdade eram os decisores políticos que lhe solicitavam [a Francisco Pessegueiro] ou impunham as suas condições” e não o contrário, apesar de as escutas telefónicas aparentarem que era o empresário que controlava os ex-autarcas.

Segundo Francisco Pessegueiro, Joaquim Pinto Moreira pediu-lhe 50 mil euros “pelas ‘démarches’ a realizar por este autarca para efeitos de aprovação, enquanto empreendimentos de caráter estratégico, dos projetos urbanísticos para o Lar Hércules e 32 Nascente”.

Em relação a Miguel Reis — ex-autarca de Espinho que foi obrigado a renunciar ao cargo na sequência da sua detenção em janeiro de 2023, foi acusado de nove crimes e c0ntinua agora em prisão domiciliária — Pessegueiro garante que Reis lhe disse “que poderia intervir nos processos em questão, visando acelerar o processo de aprovação, tendo, a este respeito, insinuado que tal intervenção teria um custo associado no montante de 50 mil euros”. O ex-presidente da câmara, segundo Pessegueiro, pediu “um adiantamento” deste pagamento no valor de 5.000 euros (que apelidou de “taxas de urgência”).

As declarações de Francisco Pessegueiro fazem parte da contestação à acusação apresentada pelos seus advogados. Todos os arguidos têm de apresentar a sua versão sobre a acusação antes do início da primeira audiência de julgamento.

O que leva “alguém a mentir descaradamente”?

Contudo, os antigos autarcas negam a versão de Francisco Pessegueiro em requerimentos enviados aos autos. Inclusivamente, Miguel Reis, antigo presidente de Espinho, diz que a confissão do empresário é “falsa” e que foi “arrancada sob a promessa de libertação imediata”.

Criticando as declarações de Francisco Pessegueiro, a defesa do ex-autarca Miguel Reis diz desconhecer os motivos que levam “alguém a mentir descaradamente, afirmando que lhe entregou quantias em dinheiro ou a confessar nos autos factos que não ocorreram”.

“Apenas encontrando explicação na necessidade de autopromoção e alimentação de ego, vendendo e exibindo uma influência e poder que não se tem, ou na necessidade de obter quantias para vícios e gastos pessoais, atribuindo-lhe um destino falso”, escreveram os defensores, citados pelo Correio da Manhã.

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Já Joaquim pinto Moreira considera que as afirmações de Francisco Pessegueiro são “totalmente falsas”, sendo “atentatória” da sua “dignidade” a acusação de ter recebido 50 mil euros deste empresário.

Ambos os visados nas declarações de Francisco Pessegueiro salientam a coincidência entre a primeira confissão do empresário e a alteração da medida de coação a que estava sujeito — passou de prisão preventiva para prisão domiciliária.

A Operação Vórtex conheceu a ‘luz do dia’ a 10 de janeiro de 2023 com a detenção do então presidente da Câmara de Espinho, Miguel Reis, o chefe da Divisão de Urbanismo e Ambiente daquela autarquia, um arquiteto e dois empresários por suspeitas de corrupção ativa e passiva, prevaricação, abuso de poderes e tráfico de influências.

O caso envolve estes dois antigos presidentes da Câmara Municipal de Espinho, Miguel Reis e Pinto Moreira, mas não só. No total, o Ministério Público acusou oito arguidos individuais e cinco pessoas coletivas em julho de 2023. Só Miguel Reis e Pinto Moreira foram acusados de um total 14 crimes económico-financeiros.

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