A ministra da Justiça no Governo de Pedro Passos Coelho, Paula Teixeira da Cruz, deixou duras críticas à atual Procuradora-Geral da República, dizendo que Lucília Gago não reúne “nenhuma das características de que deve ser dotado o cargo de PGR”.

Em entrevista ao Observador, no programa “Direto ao Assunto”, a ex-ministra da Justiça comentou a audição de Lucília Gago no Parlamento. “Fez o que sempre faz, foi igual a si própria quando está num ambiente não controlado. Refugiou-se em frases feitas, em conclusões vagas, em passa-culpas. Foi sem honra nem brilho“, lamentou. “Se o perfil de Lucília Gago tivesse sido avaliado ela nunca teria sido nomeada Procuradora-Geral.”

A antiga ministra foi desafiada a traçar avançar com o nome de um possível sucessor (ou sucessora) de Lucília Gago, mas preferiu não se alongar em comentários. Em vez disso, Paula Teixeira da Cruz disse o que considera necessário para assumir a posição de PGR.

“Deve conhecer profundamente o Ministério Público, as atividades interrelacionais do Ministério Público, o papel constitucional e de ação do Ministério Público, deve ter ideologia judiciária. É essencial alguém com profunda independência e com conhecimento do mundo”, foi elencando a antiga ministra. Paula Teixeira da Cruz admitiu ainda que existem várias pessoas que “encaixam” no perfil descrito.

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Em relação ao processo de suspeitas de corrupção na Madeira, onde pessoas ficaram detidas mais de vinte dias, Paula Teixeira da Cruz também não poupou críticas a Lucília Gago, que sugeriu que o caso era “uma exceção”. A antiga ministra do governo do PSD refere que não se pode relativizar, nem “se pode dizer [apenas] que é uma exceção”.

A lei atual das escutas telefónicas também foi abordada durante a entrevista, com Paula Teixeira da Cruz a distinguir os planos: uma coisa é o desenho legal (“equilibrado), outra coisa é a sua aplicação. Existe um mau uso. É preciso uma pedagogia da aplicação da lei. O recurso sistemático a escutas como meio de prova radica em algum facilitismo“, disse a ex-ministra.

A ministra de Pedro Passos Coelho elogiou ainda as declarações da atual ministra da Justiça acerca da fuga dos cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus: “A intervenção de Rita Júdice pareceu adequada. Muito assisada na recolha da informação para poder comunicar”, referiu.

Numa última nota, a ex-ministra da Justiça diz não ter existido um desinvestimento no serviço prisional português: “Tenho ouvido dizer que não foi construído mais nenhum estabelecimento prisional desde o Estado Novo. Isso não é verdade. Foi construído, na minha altura, o Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo, e praticamente todos os estabelecimentos prisionais tiveram aumento das respetivas alas. E para isso, contámos muito com o trabalho dos presos, foi fundamental”.

Ouça aqui o Direto ao Assunto com Paula Teixeira da Cruz

Paula Teixeira da Cruz: “Lucília Gago refugiou-se em passa-culpas”