Depois de um acidente que o deixou tetraplégico, Noland Arbaugh passou os últimos oito anos sem capacidades motoras dos ombros para baixo. Com isto, uma das poucas coisas que podia continuar a fazer era jogar xadrez. Tudo mudou aos seus 30 anos, quando se tornou na primeira pessoa a receber o implante cerebral da Neuralink, empresa fundada por Elon Musk. Graças ao empresário sul-africano, Arbaugh passou de ter de recorrer à sua boca para manusear as peças do tabuleiro, para a sua mente.

Elon Musk anuncia que Neuralink instalou o seu primeiro implante cerebral

Esta última semana, Noland Arbaugh abriu o Campeonato Mundial de Xadrez Rápido, com uma impressionante demonstração da tecnologia implantada no seu cérebro, num momento que ficou registado, não só para a história do campeonato, mas também da inovação tecnológica.

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Arbaugh recebeu o chip em janeiro deste ano e, de acordo com o próprio, foi “a coisa mais fixe” que já lhe aconteceu. Em declarações ao Telegraph, a cobaia de Elon Musk revelou que o implante o tornou “muito mais independente”, que se sente capaz de retomar a sua educação e conseguir um emprego, coisas que não se imaginava a fazer se não fosse a iniciativa da Neuralink. “Pela primeira vez em quase dez anos, sinto-me tão capaz como qualquer outra pessoa.”

Foi enquanto nadava num lago que o então jovem de 22 anos sofreu um “acidente anormal” que limitou, em larga escala, a sua qualidade de vida. Bateu com a cabeça e ficou imóvel dos ombros para baixo. Passou a necessitar de ajuda permanente dos pais a comer, a beber e a fazer todas as coisas que requerem alguma mobilidade, tanto de braços como de pernas.

O chip, descrito como sendo “cosmeticamente invisível“, usa “fios” finos e flexíveis, equipados com mais de mil elétrodos que registam a atividade neuronal no córtex motor, a região cerebral responsável pela execução de movimentos voluntários. Tem o tamanho de uma moeda e conecta, através de estímulos elétricos e ligação Bluetooth, os seus neurónios a um computador. A administração do implante é feita por um robô porque, segundo a empresa, consegue realizar a operação de uma forma mais precisa e eficaz.

O processo dos ensaios clínicos pós-operação é relativamente simples: reuniões de quatro horas, cinco dias por semana, com a equipa técnica, incluindo Elon Musk, para monitorizar todas as operações e o estado do produto. De acordo com Arbaugh, Musk deveria ter presenciado a operação no Instituto Neurológico Barrow, no estado do Arizona, mas um problema no seu avião limitou o contacto a um simples Face Time entre os dois.

A empresa publicou um vídeo do primeiro paciente a jogar xadrez com a mente um mês após a operação inovadora. Pouco tempo depois, os “fios condutores” do implante ficaram “retraídos”, o que reduziu a velocidade e eficácia dos seus comandos. Arbaugh revelou ao Telegraph que ficou abalado psicologicamente após este retrocesso tecnológico. “Foi difícil porque estava numa fase tão positiva, e depois disseram-me que perderam controlo do implante e não sabiam como o resolver”.

Apesar de mais lento, o chip continuou a recolher informação importante para a aplicação de futuros implantes, o que deixou Arbaugh esperançoso para os próximos pacientes do programa que revitalizou a sua qualidade de vida. O problema foi entretanto resolvido e um segundo paciente recebeu o chip, já sem a possibilidade de ser afetado pelo mesmo problema.

Elon Musk anuncia implante bem-sucedido de segundo chip cerebral Neuralink

A primeira etapa do ensaio termina um ano depois da instalação e será seguido de cinco anos mais autónomos. A tecnologia deverá progredir neste segundo período, possibilitando atualizações e aprimoramentos na qualidade do implante.

Numa vertente mais pessoal, devido a ter-se tornado no primeiro autointitulado “ciborgue”, Arbaugh tornou-se uma celebridade, tendo já sido entrevistado no popular podcast de Joe Rogan — The Joe Rogan Experience —, e juntado mais de 100 mil seguidores na rede social X, onde divulga atualizações sobre o estado dos ensaios e como se está a adaptar.

Tornou-se também num símbolo de esperança para a comunidade tetraplégica, sendo um dos seus objetivos tornar-se num porta-voz da Neuralink e incentivar a sua aplicação em mais indivíduos em condições semelhantes às suas. Arbaugh espera, um dia, que seja criada a cura para as paralisias — mas “não deposita todas as suas esperanças nisso”.