(em atualização)

Quando a entrevista de Luís Filipe Vieira à CMTV foi anunciada surgiu uma dúvida: o antigo presidente do Benfica ia apoiar Rui Costa, atual presidente do Benfica que apoiou nas últimas eleições, ou criticar Rui Costa? E nem sequer foi preciso esperar dez minutos para perceber qual seria a resposta certa.

Depois de garantir que não estava a reaparecer para “lavar roupa suja”, Luís Filipe Vieira defendeu que o Benfica está em “crise desportiva e financeira” e pediu desculpa aos adeptos encarnados por ter apoiado Rui Costa nas eleições de outubro de 2021. “Sabia que o Rui poderia ter dificuldades em gestão e, por isso, disse-lhe que não poderia mexer nos quadros do Benfica. Ele entendeu mexer e teve consequências. Agora, surpreende-me a forma como geriu a parte desportiva. Delfim? Não era delfim… Peço desculpa aos benfiquistas porque enganei-me no que aconselhei. Ainda hoje me culpam pelo mesmo: ‘Foste tu que escolheste, foste tu que escolheste'”, começou por dizer.

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“Ao vir aqui hoje não é para lavar o que quer que seja. É para falar para os benfiquistas. Já que me fecharam a porta do Benfica tenho de ter um local para falar. Era proibido falar do meu nome no Benfica. Depois do célebre discurso nem uma palavra me deu”, atirou, recordando o primeiro discurso de Rui Costa como presidente do Benfica, onde não mencionou o antecessor. “Eu sou benfiquista, não tenho de lavar roupa suja. O presidente do Benfica, eleito pelos sócios do Benfica, tem de estar sujeito à crítica. Estou aqui para falar para os benfiquistas e dizer verdades. Se estas situações continuarem, o Benfica pode ter um problema grave. O Benfica está em crise, desportiva e financeira, principalmente desde que o Domingos Soares de Oliveira saiu”, acrescentou.

Mais à frente, ainda sobre a liderança de Rui Costa e abordando a relação quem tem com Rui Pedro Braz, diretor desportivo, Luís Filipe Vieira defendeu que “já se viu” que o presidente encarnado “não é líder”. “É natural que não exista capacidade de liderança. A experiência empresarial leva a isso. Se quer continuar a liderar o Benfica tem de mudar de posição dentro do Benfica. Não pode permitir que o tratem por Rui, nunca permiti que me tratassem por tu. Nunca chamei um diretor desportivo por ‘mano’. Sei de quem ouviu isso. Ele é presidente da maior instituição do país, não pode permitir que o tratem por Rui e não pode tratar pessoas, por mais ligadas que sejam, por ‘mano'”, explicou, garantindo que se ainda fosse presidente do Benfica o diretor desportivo “não tinha a liberdade que tem”.

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Num autêntico chorrilho de críticas a Rui Costa, Luís Filipe Vieira acusou Rui Pedro Braz de indicar aos empresários que as decisões só passam pela direção desportiva e disse que o atual presidente “não aguenta a pressão”. “Acho que fez bem ao ir de férias, desde o início da época que foi tudo muito violento. Conheço-o bem. Toda a gente sabe que eu não ia de férias, mas ele não tem a minha pedalada. Sei que estava com uma pressão enorme e parece que já chegou hoje, não há problema”, afirmou.

Numa análise mais desportiva, sobre o recente despedimento de Roger Schmidt e a escolha de Bruno Lage, Luís Filipe Vieira garantiu que teria despedido o treinador alemão mais cedo. “Na segunda época, para além de correr tudo mal, houve o facto de destratar a massa associativa do Benfica. Também me faziam o mesmo a mim, mandavam-me garrafas de água, faz parte. Para mim, quando disse aos adeptos para ficarem em casa, ficava ali. Falava logo com o departamento jurídico. Não valia a pena. Foi tão baixo, tão baixo. Nenhum treinador fez isto à massa associativa do Benfica. Comigo, era logo naquela altura. Ou então ia até ao final da época. Mas cada um lidera à sua forma, a minha decisão estava tomada, comigo tinha acabado”, acrescentando que Bruno Lage “acusou a pressão” na primeira passagem pela Luz e sublinhando que, neste momento, teria contratado Leonardo Jardim.

Sobre o mercado de transferências, já depois de defender que “faltou convicção” na apresentação de Bruno Lage, o antigo presidente do Benfica criticou a venda de João Neves. “Era um jogador fabuloso, como nunca tinha visto. Ele provava isso dentro do campo. Desta raça nunca tinha visto. O Rúben Dias era igual. Não conseguimos ser apurados para a Liga dos Campeões e tivemos que o vender. Sobre o João Neves, aquilo que me contaram foi que lhe ofereceram um ordenado que não chega a nada. Posso assegurar que ele não queria sair do Benfica. Se estivesse a ganhar dois milhões ou dois milhões e meio, mais anos, ele ficava. O que ele significava… Não fizemos o que devíamos fazer para ele ficar. O Benfica não tinha tesouraria… Tenho a certeza que foi isso. Mais valia terem vendido três ou quatro monos que andam lá”, disparou.

“A época foi muito mal planeada. Nunca tivemos uma pré-época destas. Sai um brasileiro que era um craque porque era uma oportunidade de negócio, o David Neres foi uma grande perda para o Benfica. João Mário? Foi muito importante no primeiro título. Nunca vou perceber como é que ninguém fala com um jogador seriamente quando é assobiado. Acho que tinha qualidade suficiente”, acrescentou, recordando que o Benfica vai à Liga dos Campeões “não por mérito, mas por sorte”.

Já na reta final da entrevista, Luís Filipe Vieira reiterou a ideia de que não será candidato à presidência do Benfica em outubro do próximo ano, mas não afastou por completo uma candidatura no futuro. “Tudo o que fizeram… Destruíram muito a minha família. Destruíram a minha família, os meus filhos, os meus netos… Para mim é imperdoável. Há homens que não sabem o lugar onde estão e não merecem lá estar. Tenho de proteger os meus. Estragaram-me a vida, perseguiram-nos… Sabem o que é ter um neto a perguntar-nos se roubámos o Benfica?”, continuou, emocionando-se.

“Nem sei quantas mensagens já recebi a pedirem para avançar. As pessoas devem saber que eu sofri e que estou muito magoado. Quem me conhece e que trabalhava comigo… Voltando ao presidente. Não sei se aprendeu alguma coisa, mas era o primeiro que tinha que dar o passo. ‘Nunca’ é uma palavra que nunca se diz. Se houvesse algo tinha que haver uma conversa muito profunda… Estou disponível para ajudar o Benfica em determinadas discussões, em ideias, contributos. Tudo o que fiz partiu muita coisa da minha cabeça. No início quem estruturou e resolveu fui eu. Isso sei fazer”, explicou, recordando que só saiu do Benfica porque apresentou a demissão, não “pela Justiça”, e garantindo que só irá eventualmente apoiar um candidato em agosto de 2025.

Ainda sobre as eleições, Luís Filipe Vieira revelou que foi contactado por “presidentes de duas grandes empresas” no sentido de os apoiar e confessou ter certezas de que, se voltasse a ser candidato, voltaria a ganhar. “Ganhava, não tenho dúvidas nenhumas. Quem tem a obra feita? Quem ganhou os títulos que tenho? Quem recuperou o Benfica da falência? Quem profissionalizou? Por amor de Deus… Quando conheci o Domingos [Soares de Oliveira] disse que tinha a quarta classe e que não sabia falar inglês, mas que sabia perfeitamente o que queria para o Benfica. Quando ele disse que era sportinguista eu disse que não havia problema, queria era competência”, atirou.