Em cena até 22 de setembro, RE: Antígona oferece uma nova perspetiva, um “reply” ao passado repleto de questões sem respostas, transformando a figura de Antígona — representada em palco por cinco atores – num desafio ao presente.

“É uma peça que tenta complexificar. Ao mesmo tempo que não é sobre nada, é sobre muitas coisas ao mesmo tempo. É uma tentativa de complexificação de um processo artístico para que este não seja utilizado em prol de uma determinada ideia de moral ou bem”, contou à agência Lusa o encenador André e. Teodósio, que nesta peça é também autor e ator.

Numa tentativa de contrariar uma política artística unívoca predominante, onde a lógica é “ser sobre alguma coisa ou ‘anti’ alguma coisa”, o espetáculo não procura produzir nada, mas marcar presença e desconcertar, matando simbolicamente Antígona, de “todas as formas que se lembrar”, para conceder-lhe a morte a que nunca teve direito.

“O público vai ver muitas coisas complexas [em palco]. A complexificação do que é o bem e o mal, da alta cultura e baixa cultura, do bonito e do feio, do vernacular e do elitista. E vai encontrar essas Antígonas, que são muitas coisas e que, tal como nós, são boas como são más”, desvendou.

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Em palco, as cinco ‘Antígonas’ exploram e questionam conceitos e pré-conceitos, abordando temas contemporâneos e desafiando o público a refletir sobre eles.

“Se a Antígona foi uma heroína contra o Estado, então temos de aceitar que todas as pessoas de extrema-direita que são contra o Estado e que invadiram o senado nos Estados Unidos também são heróis?”, questiona André e. Teodósio, acrescentando que a peça aborda ainda questões como a identidade de género e os seus direitos e a imigração.

A recriação tem lugar numa espécie de “laboratório/garagem”, criado a partir da instalação de Tiago Alexandre, onde se confronta “a híper cultura contemporânea das motas e da velocidade” com o estático e o antigo das esculturas que se encontram sobrepostas.

Nesta recriação, os autores procuram dar a Antígona a mesma complexidade da vida real, recuperando “a lógica de espetáculos que está na génese do Teatro Praga”.

“Procuramos atribuir-lhe a mesma vida que nós temos. Nós conseguimos fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Podemos estar tristes, mas fingir que estamos bem no trabalho, podemos estar na praia e a pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. A nossa vida já é tão complexa que ela acaba por ser uma experiência mais intensa e desafiadora do que a leitura única de que Antígona é boa e o [Rei] Creonte é mau”.

RE:Antígona tem interpretação de André e. Teodósio, Inês Vaz, Maria João Vaz, Paula Diogo e Paulo Pascoal, sendo uma criação dos Teatro Praga em coprodução com o Teatro Nacional de São João (TNSJ) e o Centro Cultural de Belém (CCB).

Depois da estreia no Porto, a peça segue em digressão pelo país com apresentações em Coimbra, no Teatro Académico Gil Vicente, a 27 de setembro, e em Lisboa, no CCB, de 04 a 06 de outubro.

Estreada em 442 a.C., Antígona, a obra-prima de Sófocles, conta a história de uma mulher que se insurge contra o poder e as leis dos homens, enfrentando e desafiando Creonte, rei de Tebas, para poder enterrar o irmão proscrito, morto numa guerra fratricida. Apesar da sua condição de mulher, Antígona vai contra a vontade do rei tirano e garante o funeral, sabendo que terá de pagar a desobediência com a vida.