O reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, pediu esta quarta-feira “encarecidamente” aos estudantes para cuidarem da praxe, para que não se percam tradições que são distintivas deste estabelecimento de ensino superior.
“Se não houver a capacidade de praxar sem que isso signifique atropelos aos mais básicos direitos humanos e valores humanísticos, então não se admirem que um dia esses comportamentos desviantes acabem com a praxe, pagando o justo pelo pecador”, alertou.
Na cerimónia de abertura solene das aulas de 2024/25, Amílcar Falcão admitiu que lhe chegaram relatos, por fontes oficiais, que configuram “situações inaceitáveis” relacionadas com intolerância e discriminação.
“É certo que não aconteceu dentro das instalações da UC, coisa que eu não permitiria que sucedesse e levaria a processo de inquérito e eventual processo disciplinar. No entanto, aconteceu em espaço público, envolvendo membros da comunidade da UC, portanto, mancham a imagem e os valores pelos quais pautamos a nossa vida pessoal e coletiva”, referiu.
O reitor da Universidade de Coimbra lembrou, aos estudantes que frequentam a instituição e aos que acabaram de chegar, que “a liberdade tem de ser defendida todos os dias”.
“Os valores da UC não se coadunam com este tipo de comportamentos onde existe uma manifesta distorção do conceito de liberdade e de praxe“, acrescentou.
No seu entender, ao criarem a Semana de Acolhimento e Integração, um “formato único no país”, deram sinal para aquilo que julgam ser um processo de acolhimento e integração pela positiva.
“Tudo o que resvala para outros patamares configura comportamentos inaceitáveis”, vincou.
Segundo o reitor da UC, situações de humilhação são em si mesmas atos de abuso moral inaceitável.
“Pior ainda quando o que é dito encerra em si mesmo, implícita ou explicitamente, mensagens de intolerância”, disse.
Ao longo da sua intervenção, aludiu ainda à problemática da falta de habitação estudantil, um “assunto preocupante”, uma vez que “cerca de 75% dos estudantes da UC têm residência permanente fora do distrito de Coimbra”.
O reitor apontou o impacto nefasto que o mercado paralelo, sem contratos ou recibos, tem em Coimbra, trazendo “problemas de atratividade”, quando “aparentemente, parece que existe uma grande quantidade de casas sem ocupação”.
“São anos e anos sem ninguém querer agir, levando a uma situação insustentável e que carece de uma mobilização forte, especialmente das autoridades competentes, para conseguirmos acabar com este flagelo. Faço um apelo para que possamos, definitivamente, acabar com uma das principais raízes do problema da crise do alojamento estudantil”, concluiu.
Já o presidente da Associação Académica de Coimbra, Renato Daniel, aproveitou a cerimónia de abertura solene das aulas de 2024/25 para mencionar “uma série de desafios globais que precisam de ser compreendidos e abordados de forma urgente”.
“Um dos maiores obstáculos que os estudantes enfrentam atualmente é o crescimento do populismo e a disseminação do ódio. A UC tem a responsabilidade de continuar a ser uma guardiã da verdade, privilegiando sempre os espaços de reflexão e debate onde se educam os estudantes para discernirem entre factos e manipulações e para resistirem ao apelo simplista do populismo”, indicou.
Renato Daniel também destacou o papel da praxe na integração dos novos estudantes, que deve servir para “acolher na vida académica e na rotina da cidade, criando laços de camaradagem e pertença”.
“É fundamental sublinhar o seu caráter voluntário, regido por um código que defende a dignidade e o respeito por todos os que a praticam. A praxe de Coimbra é, acima de tudo, um fenómeno de inclusão e partilha, onde cada estudante participa de forma livre e responsável, preservando assim uma tradição que, ao longo dos tempos, tem unido gerações e mantido vivo o espírito académico desta cidade”, realçou.