Os primeiros rumores começaram ainda na quarta-feira, dois dias depois do dérbi de Alvalade perdido para o Benfica, mas a confirmação só apareceu ao início da tarde de sexta-feira. Num comunicado curto, sem grandes explicações, o Sporting anunciava que tinha chegado a acordo com Mariana Cabral para a revogação do contrato da treinadora — ou seja, com apenas três jornadas disputadas na Liga BPI, as leoas ficavam sem comando técnico.
Uma decisão que, a ser do próprio Sporting, causava alguma estranheza. Afinal, apesar de ter perdido o dérbi da passada segunda-feira e de ter falhado o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões, Mariana Cabral conquistou a Supertaça contra o Benfica no final de agosto e o já referido apuramento escapou para o Real Madrid. Além disso, até à receção às encarnadas, somava duas vitórias em duas jornadas para o Campeonato.
Fim de linha: Sporting chega a acordo para rescindir contrato com treinadora Mariana Cabral
Depressa se percebeu, portanto, que a decisão tinha mesmo partido da própria treinadora. E está mais relacionada com questões de organização, de investimento e de prioridades do que propriamente com pontos desportivos. Tudo começou ainda no início de agosto, quando Joana Martins fraturou a clavícula num jogo de preparação contra o Sevilha, ficando desde logo de fora da Supertaça — com Mariana Cabral, logo na altura, a não esconder algum desconforto com o facto de a jogadora só ter sido operada duas semanas depois.
“A Joana Martins lesionou-se contra o Sevilha, logo no início do jogo, fraturou a clavícula e ainda não foi operada. Só vai ser operada na próxima semana e isso preocupa-me. Uma jogadora estar duas semanas com dores, à espera de ser operada… Isso é preocupante. Preocupa-me por elas, é difícil, e só depois pela equipa. Também fazem falta à equipa, claro. Mas temos soluções, temos outras alternativas e faz parte do futebol. É nestes momentos que elas têm de agarrar as oportunidades”, explicou, na altura, a treinadora de 37 anos.
A gota de água, porém, apareceu no recente playoff de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. O Sporting começou por perder com o Real Madrid em Alcochete, numa primeira mão muito disputada onde só sofreu o golo decisivo nos descontos, e levava otimismo para Espanha. O problema, contudo, foi transportado na bagagem: Mariana Cabral não gostou do facto de a equipa só ter viajado para Madrid na véspera do jogo, num voo marcado para as primeiras horas da manhã que obrigou toda a comitiva a acordar ainda de madrugada.
Com contrato válido até 2025, Mariana Cabral demitiu-se no dia em que regressou de Madrid, a escassos dias do dérbi de Alvalade — ou seja, enfrentou o Benfica já com a certeza de que era o último jogo que cumpria no comando técnico do Sporting. As leoas perderam, num jogo onde nunca tiveram propriamente hipótese de assumir a frente do marcador, e a treinadora lembrou no rescaldo que a equipa vinha de uma semana difícil.
“Foi uma semana complicada, não foi fácil para ninguém. Praticamente não treinámos, tivemos tempo só de recuperar as jogadoras. Queríamos muito ganhar em Alvalade, não conseguimos, mas não podemos sofrer os dois golos: o primeiro de um lançamento lateral, o segundo com tempo para travar a jogada. Pesou a nível anímico”, atirou. Já na sexta-feira à noite, horas depois de a demissão ser tornada pública, Mariana Cabral recorreu às redes sociais para se despedir do clube que representou durante oito anos, entre juniores, equipa B e equipa principal.
“Desde as noites frias do Estádio Universitário às tardes e manhãs quentes de Alcochete, foram 8 anos a representar o futebol feminino do Sporting Clube de Portugal, com profissionalismo e dedicação. Hoje, entendemos que as nossas convicções já não são as mesmas e, por isso, os nossos caminhos separam-se. Mais do que os troféus conquistados, nas juniores, equipa B e equipa principal, ficará comigo a experiência de ter trabalhado com tantas mulheres e homens de grande competência, assim como o enorme orgulho de ter ajudado tantas raparigas a crescer, não só para se tornarem jogadoras profissionais, mas mulheres livres e confiantes. Agradeço a todas as jogadoras, treinadores e restante staff com quem me cruzei nestes anos e desejo as maiores felicidades a todas e todos”, escreveu no Instagram.
No comunicado onde anunciou a revogação do contrato de Mariana Cabral, o Sporting anunciou desde logo que seria João Mateus, adjunto que também está de saída, a orientar a equipa no jogo deste sábado contra o Torreense: jogo que as leoas venceram, em Torres Vedras, com golos de Telma Encarnação e Maiara Niehues. A próxima equipa técnica deve ser anunciada ao longo da próxima semana, sendo que o Sporting volta a entrar em campo no domingo e contra o Damaiense.