O arquiteto catalão Joan Busquets, autor dos planos urbanísticos das estações de alta velocidade em Portugal, considerou esta sexta-feira, em Matosinhos, que o uso da bicicleta não é moda, mas “uma mudança cultural que está a acontecer”.
“Não falo de uma moda, falo de uma mudança cultural que está a acontecer”, disse esta sexta-feira o urbanista na Casa da Arquitetura, em Matosinhos (distrito do Porto), onde foi orador no painel “O novo aeroporto e o comboio de alta velocidade. A questão da mobilidade”, no seminário “O que faz falta: Portugal S, M, L, XL”.
Para o especialista, cujo gabinete já desenhou planos para cidades em Espanha, França ou Países Baixos, “a época do carro vai diminuir” e “hoje em dia, é bastante frequente encontrar que na geração mais jovem há quem nem tire a carta de condução”, pois “têm outra visão”.
“Eu atrever-me-ia a dizer que há 10 anos íamos a Paris e não podíamos imaginar que haveria bicicletas. Hoje em dia está cheia de bicicletas”, observou.
Para Joan Busquets, que está a desenhar os planos urbanísticos junto às estações de alta velocidade de Campanhã (Porto), Santo Ovídio (Vila Nova de Gaia), Coimbra e Leiria, “está a emergir uma cultura diferente”, invertendo até algumas tendências.
“Pessoas como eu, que usam gravata, andam de bicicleta em Paris, senão não somos ninguém. Ninguém nos leva a sério, temos que ir de bicicleta”, acrescentou.
Questionado, no painel, sobre se as estações de alta velocidade podem mudar hábitos de mobilidade de quem as utiliza, Joan Busquets concordou, considerando que “têm de ser lugares supereficientes do ponto de vista da mobilidade”.
O arquiteto defendeu que as pessoas que cheguem de carro paguem mais dinheiro, ao passo que se forem “de bicicleta ou bicicleta elétrica não pagarão nada”.
De acordo com os planos de Busquets (que podem não ser executados na totalidade), para a estação de Campanhã está previsto um parque de cerca de mil bicicletas, e cerca de 600 na estação de Santo Ovídio, em Gaia.
Assim, defendeu “um mecanismo de discriminação positiva que as autoridades exercerão”, sendo “todo um sistema, uma evolução, que é irremediável, felizmente”.
“A nossa obrigação, como desenhadores, é fazer com que estes intercâmbios sejam o mais fluídos possíveis, que se possam mudar, ser adaptáveis”, acrescentou ainda, referindo-se a mais meios de transporte.
Segundo o urbanista, “há evoluções que ninguém sabe exatamente quais são”, mas é preciso “estar preparadas para elas”.
Joan Busquets vincou ainda a diferença entre as duas futuras estações na Área Metropolitana do Porto: Campanhã (Porto) e Santo Ovídio (Vila Nova de Gaia).
Se Campanhã “é uma estação histórica, consolidada” e foi, na sua origem “uma localização intermodal ferroviária” que deixou o centro para São Bento, a futura estação de Santo Ovídio, em Gaia, tem potencial para ser “totalmente distinta”.
A futura estação gaiense estará “num lugar onde não há nenhuma atividade de mobilidade”, tirando uma linha de metro (Amarela) e os autocarros, e ganhará mais uma linha de metro (Rubi), uma estação ferroviária subterrânea e um terminal de autocarros.
“Eu penso que haverá mais capacidade de inovação que as estações produzem, historicamente”, destacou Joan Busquets.
A primeira fase (Porto-Soure) da linha de alta velocidade em Portugal deverá estar pronta em 2030, estando previsto que a segunda fase (Soure-Carregado) se complete em 2032, com ligação a Lisboa assegurada via Linha do Norte.
Haverá estações preparadas para receber a alta velocidade em Campanhã (Porto), Santo Ovídio (Gaia), Aveiro, Coimbra, Leiria e Lisboa.
Já a ligação do Porto a Vigo, na Galiza (Espanha), prevista para 2032, terá estações no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Braga, Ponte de Lima e Valença (distrito de Viana do Castelo).
No total, segundo o anterior governo, os custos do investimento no eixo Lisboa-Valença rondam os sete a oito mil milhões de euros.