Músicas inéditas de Jimi Hendrix e outros itens do seu espólio — faturas da lavandaria, folhas de pagamento, recibo da compra de tapetes persas de luxo, ordem de despejo, por exemplo — vão pela primeira vez a leilão público, no próximo dia 15 de novembro. Nunca antes os fãs do ícone da música rock puderam licitar artefactos que remontam ao período da curta carreira do artista, entre meados da década de 60 e o ano 1970, quando morreu de uma aparente overdose.
50 anos depois, o que ainda falta saber sobre a morte de Jimi Hendrix?
Entre os mais de 400 artigos de vários músicos que vão ser leiloados ganham destaque demos de 1968 de Hendrix que alegadamente são versões “muito diferentes em sonoridade e duração” de músicas já bem conhecidas pelo público, refere o The Guardian. Nomeadamente, Up From the Skies, Ain’t No Telling, Little Miss Lover, músicas do segundo álbum dos Jimi Hendrix Experience, e Stone Free, que era o lado B de Hey Joe, primeiro single que o músico lançou no Reino Unido, em 1966. Espera-se que a bobine com a gravação que contém os três temas do segundo álbum da banda possa ser comprado por 200 mil libras (quase 240 mil euros).
Estas adaptações “são muito mais depuradas e suaves. Ouve-se mais guitarra, que é obviamente aquilo por que Hendrix era famoso. Os peritos que nos visitaram e ouviram as gravações todos concordam que estas são muito superiores a quaisquer outras versões das músicas em questão”, disse Mark Hochnam, consultor de música e de posters da Propstore, organizadora do leilão, ao The Guardian. Tirando este disco que é composto por demos — uma espécie de rascunhos musicais, que servem para dar uma ideia do produto final pretendido —, “todas as faixas do Hendrix disponíveis na venda são faixas master [versões acabadas] com gravações originais”, sublinhou Hochnam ao Observador.
A coleção que estará disponível é parte do arquivo de Patricia “Trixie” Sullivan, assistente pessoal de Mike Jeffrey, o produtor musical de Hendrix. No final da década de 60, ela lidava com a banda, marcava sessões em estúdios de música e planeava os itinerários das tours.
Aquando da morte de Jeffrey em 1973, Trixie recolheu material que encontrou no escritório do patrão, no centro de Londres. A existência do arquivo foi revelada no início deste ano e, entretanto, a Propstore tem vindo a avaliá-lo.
Até ao leilão a 15 de novembro, serão conhecidos em melhor detalhe os artigos que estarão pela primeira vez disponíveis ao público. No catálogo em breve disputado encontram-se 50 bobines — não só de Hendrix, mas também de outras bandas de rock inglesas como os Animals e Soft Machine. Há um total de quatro centenas de peças musicais, associadas também a artistas como Michael Jackson, Oasis, Queen, ArcticMonkeys e John Lennon.
Contudo, fazem parte do catálogo outros artigos que remetem para questões mais privadas da vida de Hendrix. A coleção inclui documentação pessoal que dá a conhecer “vários detalhes sobre a sua vida fora dos palcos” e as “complexidades da gestão financeira das lendas do rock”, segundo o comunicado à imprensa da Propstore.
No catálogo estão vários recibos de todos os membros da banda, passados por um médico da Harley Street, em Londres. “Dá para imaginar sobre o que eram no fim dos anos 60… acho que era para as drogas deles” afirmou Hochman, consultor de música e de posters da leiloeira.
Outro documento revelador é uma nota da editora discográfica de Hendrix, informando-o que será despejado do apartamento de Ringo Starr, em Londres, no qual vivia, por reclamações de outros inquilinos.
Pode-se encontrar no acervo o primeiro contrato de sempre da banda, tal como um documento que mostra que a banda ia receber valores na casa dos milhões de libras por uma atuação, ainda que metade fosse para o produtor, Mike Jeffrey.
Vão estar também em licitação um formulário escrito à mão em que Hendrix pede a certidão de nascimento — para obter um passaporte, que o permitisse ir em tour — e recibos de limpezas a seco de alguns dos conjuntos psicadélicos que usava em concertos e que se tornaram sua imagem de marca.
“Quando tivemos pela primeira vez a oportunidade de explorar este arquivo, ficámos imediatamente cativados pela profundidade e importância do material. É uma coleção incrível que não reflete apenas a vida pessoal do Jimi Hendrix mas também nos remete a um momento fundamental da história da música”, afirmou Hochman.
Três colecionadores voaram dos Estados Unidos da América para examinar a coleção e mais três empresas de produção audiovisual estão a equacionar produção de documentários e filmes a partir dos artefactos, segundo o The Guardian.
Para o uso público das gravações agora resgatadas do esquecimento terá de ser feita uma negociação com os responsáveis pela herança de Hendrix. Até lá, quem comprar as cassetes “vai ter a sorte de ter as suas próprias músicas do Jimi Hendrix que apenas eles poderão ouvir”, remata Hochman.