Treze veículos ligeiros e cinco motociclos foram incendiados durante a noite na zona de Lisboa e três edifícios sofreram danos, em mais uma noite de desacatos pela morte de Odair Moniz, baleado por um polícia na Amadora, anunciou a PSP. “O grosso dos incidentes” concentraram-se na freguesia de Benfica, onde é possível ver um rasto de caos.

Segundo a polícia, as ocorrências de incêndio em mobiliário urbano e em veículos ligeiros e motociclos, na Área Metropolitana de Lisboa, ocorreram nos concelhos do Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures e Vila Franca de Xira, “sendo que o grosso dos incidentes se concentrou numa só ocorrência na freguesia de Benfica”, em Lisboa.

Nas redes sociais, a Junta de Freguesia de Benfica colocou 20 imagens, que o Observador reproduz, com a destruição de carros e os danos em edifícios, cuja remoção estava a ser feita esta manhã pelos bombeiros.

Num post publicado ao final da manhã no Instagram, a Junta diz lamentar “profundamente os graves incidentes ocorridos”, que “afetaram de forma muito significativa a nossa comunidade”. E descreve “vários veículos, incluindo viaturas e motas”, que foram “incendiados, resultando em elevados prejuízos para os seus proprietários”, bem como “danos materiais nos prédios atingidos” que levaram à “evacuação temporária de moradores de suas residências”.

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No post, assinado pela Junta, mas com a identificação de Ricardo Marques, o presidente socialista da Junta, pode ainda ler-se: “Estamos solidários com todos os que foram atingidos por esta onda de violência gratuita sem precedentes no nosso bairro”. A Junta dá ainda a garantia de estar a trabalhar em conjunto com as autoridades para a tomar todas as medidas para “que ações de vandalismo como estas não se repitam”. E anuncia “reuniões com os moradores afetados, administrações de condomínio, associações de moradores e representantes das forças policiais” já para este domingo e nos próximos dias para “reforçar a segurança e apoio à comunidade, além de identificar medidas de prevenção, em conjunto com as autoridades, que promovam a tranquilidade” no bairro.

O comunicado da Junta de Benfica, que agradece aos Sapadores Bombeiros e à PSP pela sua rápida intervenção, bem como às equipas de higiene urbana da Junta de Freguesia de Benfica pela limpeza das ruas, diz ainda que “a violência e o vandalismo gratuito não são nunca soluções para qualquer problema e que muito menos os resolvem” e que espera por isso “que o bom senso impere”.

Um suspeito detido e outro identificado

Neste novo balanço, a PSP referiu que na última noite foram ainda incendiados sete contentores de lixo e um sofá deixado na via pública, além de ter sido bloqueada uma artéria com mobiliário urbano. A polícia deteve um suspeito e identificou outro.

Segundo a PSP, estas ocorrências foram registadas depois do balanço feito na noite de sexta-feira, relativo a incidentes verificados desde o início dos distúrbios e até sexta-feira. Nesse balanço, a PSP indicou 123 ocorrências, a detenção de 21 cidadãos e a identificação de 19 entre segunda e sexta-feira.

A PSP indicou ainda que nesse período foram feridas sete pessoas, entre elas dois polícias que foram apedrejados e cinco cidadãos esfaqueados ou queimados, nomeadamente um motorista da Carris Metropolitana, que, segundo a empresa de transportes, ficou em estado grave, embora já fora de perigo de vida.

Tinham sido detidos 21 suspeitos e identificadas 19 pessoas.

A PSP destacou que foram danificadas cinco viaturas policiais (baleadas, incendiadas e apedrejadas), incendiados 16 veículos ligeiros e dois motociclos, além dos danos causados em cinco autocarros, dos quais quatro foram incendiados e um apedrejado.

Foi também verificado um “atentado” contra uma esquadra da PSP, através do arremesso de engenhos pirotécnicos.

“A PSP repudia e não tolerará os atos de desordem e de destruição praticados por grupos criminosos, apostados em afrontar a autoridade do Estado e em perturbar a segurança da comunidade, grupos esses que integram uma minoria e que não representam a restante população portuguesa, que apenas deseja e quer viver em paz e tranquilidade”, sublinhou a polícia.

Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.

A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.