Um foi para o intervalo a perder antes de resolver tudo na última meia hora, outro começou a despachar a missão desde o primeiro minuto (literalmente), ambos acabaram a golear em casa os respetivos adversários alemães na Liga dos Campeões. Na antecâmara do primeiro clássico da temporada, Real Madrid e Barcelona deixaram um cartão de visita como há muito não se via: são capazes de tudo. E se os momentos entre as duas equipas são diferentes, com os catalães a viverem uma temporada bem mais desassossegada e confiante do que os merengues, havia uma certeza que sobrava no Bernabéu: El Clásico voltava a ser o “centro do universo” depois de alguns anos em que deixara de ter o melhor brilho pelo “ocaso” e anos erráticos dos blaugrana em termos institucionais que se foi refletindo na parte desportiva. Agora, tudo voltou ao original.

Eram muitos os pontos de interesse num encontro com audiência potencial de 650 milhões de pessoas. A estreia de Mbappé em jogos grandes em Espanha, a motivação de Vinícius Jr. a 48 horas de poder receber pela primeira vez na carreira a Bola de Ouro, a aura de um Bernabéu que continua a virar jogos impossíveis (“Tudo tem explicação na vida menos o Real Madrid na Liga dos Campeões”, escreveu na rede X o treinador do Elche, Eder Sarabia). A explosão de Raphinha com um hat-trick num jogo em que foi capitão, a melhoria de Lewandowski, o fenómeno Lamine Yamal que não pára de surpreender, o impacto de Hansi Flick. Um favorito teórico? Era difícil e mais complicado se tornava quando se olhava para números e estatísticas.

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A Marca compilou todos os dados das equipas até ao momento. O Barça é uma equipa que em média corre mais do que o Real também pela forma como gosta de pressionar alto os adversários (113-108, mais cinco quilómetros por jogo) ficando muito confortável dando a profundidade nas costas aos adversários a ponto de ter a maior média de foras de jogo dos opositores na última década (6,5 por partida), o Real consegue ter mais posse (51,67%-50,6%), melhor qualidade de passe (88,6%-85,3%) e também maior quantidade de ataques embora pertença aos catalães o registo de oportunidades e golos. Flick traçou uma linha mais vertical no jogo dos catalães sem abdicar da criatividade do meio-campo para a frente, Ancelotti moldou a identidade de jogo às características de um Mbappé a jogar a 9 tendo “sacrificado”o Bellingham goleador. Resumo? De formas diferentes e com armas distintas, cada equipa tinha argumentos para sair por cima.

“Estamos bem, motivados como sempre para um jogo complicado e divertido. O Barça de Flick tem uma ideia de jogo muito claro, é uma equipa com coragem. Torna-se complicado encontrar um favorito porque depende de muitas coisas, da forma como se controla o encontro, dos momentos que cada equipa terá. Controlar os momentos do jogo será muito importante”, dissera Ancelotti no lançamento. “Vamos ter o nosso plano, tal como tínhamos com o Bayern e agora teremos de adaptar ao Real Madrid. Confio nos jogadores, melhorámos nas combinações e no que fazemos com e sem bola mas também temos consciência de que temos de melhorar. Jogar El Clásico é o que toda a gente quer”, comentara também Hansi Flick.

O início da partida começou por confirmar sobretudo aquilo que o Barça tem feito de bom com Hansi Flick, entre a capacidade de deixar o ataque contrário em fora de jogo e a qualidade para levar bola ao último terço com poucos passes. Foi dessa forma que surgiram os primeiros lances de perigo, com Mbappé a tentar um chapéu que saiu por cima da baliza de Iñaki Peña e logo na resposta Lamine Yamal a rematar para defesa de Lunin quando podia ter feito melhor. Só mesmo por uma ocasião o Real conseguiu “enganar” a linha que estava desenhada pelos catalães atrás, com Vinícius Jr. a surgir em boa posição na área para o remate ao lado (22′). Do outro lado, Lunin voltou a brilhar na baliza a remate de Pedri antes de um corte monstruoso de Éder Militão (28′) mas o intervalo chegaria mesmo sem golos depois de Mbappé ter conseguido mais uma vez surgir nas costas da defesa contrária a rematar com êxito antes de o lance ser anulado pelo VAR (30′).

O segundo tempo começou com menos motivos de interesse, com ambas as equipas a perderem capacidade de risco nas ações do meio-campo para a frente quase à espera daquilo que o jogo poderia trazer, mas bastou um golo para mudar toda essa narrativa. Herói do costume? Lewandowski. Numa época onde recuperou a alegria de jogar e voltou aos números que o notabilizaram na Bundesliga, o polaco aproveitou um erro no desenho da linha defensiva do Real para surgir isolado e bater Lunin (54′). A partir daí, o encontro entrou numa espiral em que uns falhavam e outros pouco ou nada perdoavam: Lewandowski aumentou quase de seguida após um cruzamento de Alejandro Baldé (56′), Mbappé e Bellingham falharam os lances que podiam dar o mote para nova remontada, Lewandowski acertou no poste e Lamine Yamal, após mais uma assistência de Raphinha, apareceu isolado para bater Lunin e sentenciar de vez a partida (77′) antes da goleada que foi assinada por Raphinha, a fazer um chapéu com classe e a reforçar a liderança do Barça (84′).