A paisagem que rodeou a vida quotidiana da artista Vivian Suter nas últimas décadas, na Guatemala, foi vertida para mais de 500 obras expostas a partir de quarta-feira no Museu de Arte Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.

Intitulada “Disco”, a exposição vai ser inaugurada ao mesmo tempo que “Rooms”, a primeira individual do artista britânico Anthony McCall em Portugal, indicou esta segunda-feira o curador, Sérgio Mah, também diretor-adjunto do museu.

São duas figuras muito importantes da arte contemporânea, diferentes do ponto de vista técnico e estético, mas ambos com um percurso de tentar explorar e levar ao limite o seu trabalho”, sublinhou, durante uma visita para jornalistas a ambas as exposições, instaladas no edifício novo do MAAT.

“Disco” dá título à exposição da artista suíço-argentina Vivian Suter, na qual explora as possibilidades da pintura e da sua relação com a natureza, enquanto “Rooms” é composta por esculturas de luz sensoriais e imersivas com as quais os visitantes poderão interagir, ambas patentes até março de 2025.

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Em “Disco” — que é também o nome de um dos cães de Vivian Suter, nascida em 1949, na Argentina — estão obras sobretudo criadas na última década, 163 expostas pela primeira vez, espelhando um trabalho desenvolvido ao longo dos últimos 40 anos em Panajachel, na Guatemala.

Suter vive naquela pequena localidade, rodeada de vulcões, lagos e floresta, e este cenário natural tem desempenhado um papel fundamental na sua prática artística, influenciando tanto o seu processo criativo como o resultado das suas pinturas coloridas em grandes telas de tecido de algodão que compra localmente.

“Estive em Portugal há 50 anos, e apresentei aqui o meu trabalho em conjunto com outros artistas por iniciativa de Michael Biberstein [1948-2013]”, disse a artista à agência Lusa, recordando o pintor suíço-americano cuja carreira ficou marcada por três décadas de vida em Portugal.

Vivian Suter usa diversas técnicas e materiais, incluindo acrílico, óleo e pigmentos misturados com cola de peixe, indicou ainda à Lusa, acrescentando que gosta de expor as suas obras frequentemente “quebrando as regras”, colocando-as deitadas no chão, sobrepostas, ou penduradas a balançar com o vento.

Na pintura abstrata de Vivian Suter, é possível notar muitos elementos da realidade em seu redor, como folhas, vulcões, chuva, terra e até as pegadas dos seus cães, “exprimindo a estreita interação entre a artista e o ecossistema em que a obra é gerada”, referiu o curador.

“Nota-se que existe um comprometimento em relação ao mundo, a vida e o meio ambiente”, sublinhou Sérgio Mah sobre o trabalho da artista que viajou na América Latina em 1983 para conhecer as ruínas maias, e foi-lhe dito que na Guatemala descobriria a origem desta civilização.

Depois de passar por Panajachel, escolheu aquela pequena cidade como residência e ali instalou o seu ateliê, onde vive em recolhimento para pintar, em diálogo com o ambiente que a rodeia.

Nenhuma das pinturas reunidas nesta exposição têm título ou são datadas, embora Vivian Suter assuma terem sido feitas nos últimos dez anos.

No entanto, quando são pintadas no exterior, onde muitas vezes permanecem durante dias, semanas ou meses, as telas ficam expostas ao sol, ao vento, à chuva e à humidade, incorporando sujidade, folhas, detritos, restos de insetos e pegadas dos seus cães.

A exposição “Disco” viajará para o Palais de Tokyo, museu de arte moderna em Paris, no verão de 2025, fruto da colaboração entre as duas instituições.

Por seu lado, a obra do artista britânico Anthony McCall, nascido em 1946, baseia-se no cinema e no desenho, criando instalações como esculturas de luz imersivas.

“Nesta obra brilhante há elementos do cinema, como o projetor, um ecrã, escuridão e um foco de luz, mas também há uma desconstrução para criar uma instalação imersiva com a qual os visitantes podem interagir de forma sensorial”, apontou Sérgio Mah, também curador desta exposição.

Nesta exposição são apresentadas quatro obras que marcam a trajetória de McCall, que denomina de “Solid Light Works”, e que foram produzidas entre 2007 e 2020.

“São instalações fílmicas que fluem no espaço como esculturas de luz e fumo imateriais, mas aparentemente tridimensionais”, descreveu Mah, acrescentando que foram concebidas depois do regresso de McCall à produção artística em 2003.

Anteriormente, o artista fez uma interrupção de 24 anos para trabalhar como ‘designer’ gráfico para o meio artístico de Nova Iorque.

A exposição “Rooms” inclui também uma fotografia, “Room with Altered Window (1973)”, que documenta uma das primeiras experiências artísticas de Anthony McCall, seguindo-se a criação daquela que se tornou a mais célebre das suas obras, “Line Describing a Cone”.