Esgotou uma vida, esgotou outra vida, esgotou todas as vidas. O Manchester United aguentou tudo o que foi possível aguentar desde que Erik ten Hag assumiu o comando da equipa mas a última série com apenas uma vitória em oito jogos de várias competições acabou por ditar o fim de linha para o técnico neerlandês em Old Trafford – e quase por ironia do destino o último encontro, no Estádio Olímpico com o West Ham, foi talvez a derrota menos merecida entre tantas exibições aquém que os red devils foram fazendo. Rei morto, rei quase posto: Rúben Amorim é o homem que se segue, com a ideia de colocar o treinador do Sporting logo na partida de domingo frente ao Chelsea a sair gorada perante a intransigência dos leões em cederem o técnico. Assim, e até à paragem para as seleções na segunda semana de novembro, tudo vai ficar “congelado”.
Ruud van Nistelrooy, que pode ou não ser o elemento do próprio clube na equipa técnica que acompanhará Amorim em Inglaterra (Carlos Fernandes e Adélio Cândido estão certos, o cientista desportivo Paulo Barreira é uma hipótese forte, subsiste ainda a dúvida sobre quem poderá mais sair), ficará como interino no próximo ciclo de quatro jogos, que terá as receções ao Chelsea e ao Leicester para a Premier e ao PAOK para a Liga Europa. Antes, o mesmo Leicester iria a Old Trafford numa partida para a Taça da Liga. E se 921 dias depois não havia Erik Ten Hag, também não foram muitas as mexidas no encontro de “pré-viragem de era”.
Num Teatro dos Sonhos como sempre cheio mas com os adeptos a mostrarem aquele olhar de quem quer voltar ao passado, não gosta do que vê no presente e tem esperança em melhorar no futuro, o ex-avançado (muito aplaudido pelos adeptos a caminho da zona técnica) fez quatro trocas em relação ao último encontro: Bayindir trocou com Onana na baliza tratando-se de outra competição, Lisandro Martínez jogou à esquerda da defesa por troca com Mazraoui, Ugarte rendeu Eriksen no meio-campo e Zirkzee foi a unidade mais avançada em vez de Höjlund. Mais do que nomes, jogadores ou táticas, era na resposta que seria dada pela equipa que entroncava a maior curiosidade, ainda para mais numa partida sem margem de erro.
O que mostrou este ensaio para Rúben Amorim ver? Se a identidade de jogo não será diferente daquela que o técnico gosta de ver nas suas equipas, o sistema tático para interpretar a mesma poderá ou não sofrer as suas diferenças em relação ao habitual 3x4x3 que enraizou desde que chegou ao Sporting. Casemiro é uma (boa) razão para isso, jogadores com características como as de Lisandro Martínez na defesa abrem o leque de soluções, trabalhar o jogo pelas alas é o principal desafio para dar outra largura ao jogo do United – além de recuperar o real rendimento de nomes como Rashford, que continua a ser uma sombra do que já fez. Uma coisa é certa: Bruno Fernandes, capitão de equipa, será a bússola preferencial para ditar o novo rumo.
Primeiro problema ainda antes do apito inicial? As lesões. Conforme era esperado, os oito jogadores de fora por questões físicas voltaram a ficar fora da ficha de jogo entre Leny Yoro (um dos melhores centrais Sub-21 da atualidade), Harry Maguire, Luke Shaw, Tyrell Malacia, Kobbie Mainoo, Mason Mount e Antony. Não tendo um leque pequeno de jogadores, são demasiadas ausências entre as opções à disposição, o que tende também a dificultar as escolhas em microciclos com jogos de três/quatro em três/quatro dias. Segundo problema a partir do apito inicial? Como serenar a equipa no plano emocional. Aí, houve uma resposta.
Os minutos iniciais mostraram um United longe daquela vertigem ofensiva que os principais candidatos à conquista da Premier League conseguem imprimir no seu jogo mas a ser montado para estabilizar de trás para a frente. Assim, e até aos 15 minutos, aquilo que se viu foi uma formação dos red devils mais focada em dar passos seguros no jogo do que em experimentar passos seguros para a frente; depois do golo inicial da partida, com um remate fortíssimo de fora da área ao ângulo de Casemiro para o 1-0, tudo mudou (15′). Não foi um daqueles jogos arrebatadores de encher o olho mas a forma como o brasileiro e Ugarte colaram os setores deu o equilíbrio que tantas vezes faltou à equipa, com Casemiro a ser ainda providencial num passe em profundidade no corredor direito para Diogo Dalot cruzar rasteiro e Garnacho fazer o 2-0 (28′).
Os habituais erros que custam golos do adversário, numa imagem que Rúben Amorim utilizava em alguns jogos da temporada de 2022/23, voltaram a aparecer sempre na sequência de bola parada: El Khannouss reduziu para 2-1 na sequência de uma segunda bola após cruzamento desviado pelo guarda-redes Bayindir (33′), o central Conor Coady também aproveitou um livre para aparecer na área e rematar de primeira para novo golo do Leicester (45+3′). O que valeu? A eficácia que tantas vezes tem faltado e que agora foi quase de 100%: Bruno Fernandes beneficiou de um desvio num defesa contrário num livre direto perto da meia lua e voltou aos golos (36′), Casemiro teve tempo para após cruzamento de Rashford na esquerda cabecear ao ferro no segundo poste e ir depois fazer a recarga ao primeiro (39′). Tirando a goleada ao Barnsley também na Taça da Liga, o United marcou tantos golos em 45 minutos como em cinco jogos em Old Trafford…
O segundo tempo trouxe outro jogo, outra face do United e outra equipa do Leicester em campo, muito mais ofensiva e capaz de chegar ao último terço para criar aproximações de perigo. No entanto, e numa das raras vezes até aí em que tinha chegado à baliza contrária, os visitados sentenciaram de vez a partida, com Bruno Fernandes a conseguir intercetar um passe errado em zona proibida, a sentar Danny Ward e a atirar de baliza aberta para o 5-2 (59′). Ainda houve uma bola na trave desviada com a ponta dos dedos pelo guarda-redes Bayindir mas a história estava contada antes do grande teste a Van Nistelrooy chamado Chelsea.