A chama olímpica apagou-se em Paris, José Manuel Constantino partiu, 79 dias depois o seu legado prova que vai perdurar para sempre. O Comité Olímpico de Portugal encontra-se numa espécie de antecâmara do próximo sufrágio, com várias incógnitas e movimentações sobre quem poderá avançar com candidaturas à liderança do órgão, mas durante pouco mais de meia hora foi apenas e só o palco para homenagear alguém que deixou com o seu trabalho o rumo que deve ser seguido a breve, médio e longo prazo não só em termos de movimento olímpico mas também no desporto nacional. Foi isso também que enalteceu Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional que se deslocou a Lisboa para esse momento de evocação.

“Reunimo-nos aqui hoje para honrar e recordar José Manuel Constantino, um homem cuja dedicação e liderança ao desporto português e ao movimento olímpico de Portugal era profunda. Ao longo dos anos, como presidente do Comité de Portugal, o José Manuel teve um grande e duradouro impacto duradouro no ambiente desportivo nacional e era também um fabuloso embaixador do olimpismo e todos os ideais do movimento”, começou por recordar o alemão de 70 anos que foi campeão olímpico e mundial de esgrima na segunda metade da década de 70 e que lidera o Comité Olímpico Internacional desde setembro de 2013.

“Um dos seus maiores feitos foi liderar Portugal às suas melhores prestações em Jogos Olímpicos [Tóquio-2020 e Paris-2024] mas também no acompanhamento dedicado aos atletas, criando todas as condições de apoio para que tivessem oportunidades para competir ao mais alto nível. No entanto, a sua contribuição não se resume a medalhas e sucesso desportivo. Sob a sua liderança, o Comité Olímpico de Portugal deu passos significativos na direção dos valores do movimento olímpico”, salientou, antes de dar alguns exemplos.

“Em 2022, assinou o quadro Sport for Climate Action, demonstrando grande comprometimento com o desenvolvimento sustentável e com os valores olímpicos. Também defendeu iniciativas importantes, promovendo a salvaguarda da igualdade de género e a preservação da herança olímpica de Portugal. Os seus esforços para incutir valores olímpicos nas gerações mais jovens, através de programas de educação para crianças em idade escolar, ajudaram a moldar não apenas atletas, mas futuros cidadãos. É graças à sua demonstração do espírito de colaboração e generosidade que nos encontramos aqui em Portugal para a Assembleia Geral dos Comités Olímpicos Nacionais (ANOC). O seu desejo de reunir a comunidade desportiva global não foi uma questão de reconhecimento pessoal mas sobre promover a unidade, partilhar conhecimento e apoiar o desenvolvimento do desporto em todo o mundo. Sediar esta importante reunião reflete o seu profundo comprometimento em ajudar os outros e promover o movimento olímpico. A sua liderança e os valores que defendeu continuarão a guiar-nos”, destacou Thomas Bach na intervenção.

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“A morte dele durante os Jogos Olímpicos de Paris-2024 foi uma profunda perda para o mundo inteiro e comunidade desportiva. Hoje recordamo-lo com profunda gratidão por tudo o que deu ao desporto português e ao olimpismo. Toda a sua vida promoveu valores olímpicos como os imaginados pelo nosso fundador, Pierre de Coubertin, e deixou um grande exemplo a todos”, concluiu, antes de atribuir o Troféu do presidente do Comité Olímpico Internacional, com a efígie de Pierre de Coubertin, à viúva de José Manuel Constantino, Manuela Araújo, e aos dois filhos, Pedro e Bruno Constantino, naquele que foi o momento mais aplaudido e também com maior emoção à mistura que encerrou a cerimónia realizada na sede do COP.

“O Comendador José Manuel Constantino pautou-se sempre pela discrição sem nunca abdicar do ativismo cívico. Era um líder sem medo de defender os seus princípios. Fica na história do desporto pela sua liberdade de pensamento, não era influenciado por questões de natureza política ou ideologia partidária. Era um homem livre, tinha uma capacidade de raciocínio, de oratória e sentido crítico absolutamente extraordinário. Era extremamente culto, procurava sempre o conhecimento e aprofundar as questões relacionadas com as políticas do Desporto. Tinha uma visão muito esclarecida, iluminada, de como deveria ser o desenvolvimento desportivo no nosso País. Aliou experiência prática à reflexão teórica, proporcionando uma visão aprofundada e multidisciplinar sobre o relevante papel do desporto na nossa sociedade. Continuaremos a citar o seu nome e a sua extraordinária obra”, frisara antes Pedro Dias, secretário de Estado do Desporto.

“José Manuel Constantino não apenas liderou com visão mas também serviu o desporto com paixão e dedicação e intransigente sentido de missão e serviço público. Sob a sua liderança, Portugal brilhou no cenário desportivo mundial e destacou a importância do trabalho em equipa, da resiliência e da excelência, transformando a missão deste Comité Olímpico nas mais diversas dimensões de valorização social do desporto. Além do seu papel no COP, a sua carreira foi marcada pela liderança das principais instituições de topo do desporto em Portugal. Foi um pensador cimeiro sobre o fenómeno desportivo, autor de livros e artigos, recebeu diversos títulos honoríficos pelas mais reputadas instituições académicas em Portugal. O seu legado intelectual e humano permanecerá como uma fonte de inspiração para todos nós”, vincara Artur Lopes, atual líder do Comité Olímpico de Portugal, no primeiro discurso da cerimónia.