Foi uma das quatro promessas de Pinto da Costa na altura da primeira candidatura à presidência do FC Porto ainda em 1982, tornou-se realidade pouco tempo depois, perdura no tempo sem que a mudança na liderança do clube belisque o seu estatuto. A revista Dragões tornou-se um dos meios de comunicação privilegiados do clube, sempre com um editorial assinado pelo líder do clube que é aproveitado para deixar mensagens para dentro e para fora. O que mudou com a chegada de André Villas-Boas nesse aspeto? Basicamente, nada. Ou melhor, o tamanho dos textos. E se o anterior número 1 dos azuis e brancos costumava ter cerca de quatro a cinco parágrafos por edição mensal, o atual presidente expõe ideias de forma bem mais detalhada.

“Auditoria tem trazido resultados surpreendentes. Vamos continuar a investigar más práticas nos últimos anos”, garante Villas-Boas

Na publicação deste mês, André Villas-Boas faz uma longa reflexão sobre o estado do desporto em geral, com referências ao estudo mais recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre a perceção do fenómeno da corrupção e alusões ao recente caso dos emails a envolver o rival Benfica com uma “notícia” (ou uma confirmação) pelo meio: o FC Porto vai contestar os arquivamentos que considera infundados.

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“A corrupção no futebol é um problema alarmante que compromete tanto a integridade do desporto quanto a confiança dos adeptos e a sustentabilidade dos clubes que acreditam numa competição justa e transparente. A verdade é que o futebol em Portugal tem sido marcado por escândalos que frequentemente culminam em nada ou no limite em decisões judiciais sem consequências disciplinares efetivas, gerando uma sensação de desigualdade no tratamento dado aos clubes. Pelo caminho, as vítimas deste sistema permanecem ignoradas, tratadas como meros danos colaterais das ações de indivíduos que gravitam na órbita dos beneficiados. É inconcebível aceitar que determinadas figuras próximas das cúpulas dos clubes operem sem o conhecimento das lideranças. Esta perceção de favorecimento e a subsequente impunidade mina a essência da meritocracia, valor central do desporto”, começou por escrever André Villas-Boas.

“No FC Porto não seremos coniventes com este estado de coisas. Disso já demos conta aos nossos associados e simpatizantes e temos dado mostras de que estamos aqui para cumprir esse compromisso, contribuindo ativamente para promover a justiça e a transparência no desporto. Nesse sentido, o FC Porto está a estudar em detalhe o despacho de acusação proferido pelo DCIAP no mediático ‘caso dos emails‘ e tem intenção de agir proativamente relativamente à acusação, incluindo a contestação de arquivamentos que consideramos infundados. Comunicámos também as nossas preocupações e intenções à Liga, à Federação e, devido à gravidade que transcende o futebol e a sua indústria como um todo, à Presidência da República, ao Governo e à Procuradoria Geral da República”, acrescentou a esse propósito o líder portista.

“Mais do que nunca, precisamos de um futebol justo e transparente. Todos concordaremos que somente com instituições vigilantes e mecanismos eficazes de promoção da justiça será possível restaurar a confiança dos adeptos e dos agentes desportivos. A luta contra a corrupção no futebol é um desafio que exige realismo e compromisso, individual e coletivo, e uma vontade real de reformar as práticas que comprometem a integridade e a verdade desportiva. Um estudo recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos revela que a perceção da corrupção sobre os clubes de futebol nacional é alarmante. Segundo esse estudo, os portugueses consideram os clubes como as entidades mais corruptas do país, com uma pontuação preocupante de 8,1 pontos numa escala de 0 a 10. Esse é um problema que ultrapassa rivalidades desportivas e afeta a imagem de toda indústria do futebol”, prosseguiu Villas-Boas, antes de se focar no FC Porto.

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“Quanto ao compromisso, falamos por nós. Iniciámos reformas internas para promover a transparência e a responsabilidade: ações concretas que visaram combater a fraude na venda de bilhetes e auditorias forenses para identificar e responsabilizar, nos locais adequados, atos e comportamentos de quem prejudicou ou se serviu indevidamente do clube; atuámos contra quem atentou contra a liberdade de sócios; instituímos canais de denúncia e lançámos o Portal da Transparência, para que, a todo o tempo, os sócios possam estar informados das decisões estratégicas, da forma como são cuidados os seus ativos – atletas, património, ativos financeiros – e como estamos a construir o futuro do clube”, referiu.

“Externamente, continuaremos a colaborar em processos onde possamos contribuir para a clarificação de suspeitas que pairam sobre competições, atletas, dirigentes e outros agentes, além de acionar todos os mecanismos policiais e judiciais, nacional e internacionalmente, para proteger os jovens jogadores em formação das malhas de redes criminosas. Intervimos em fóruns onde reafirmamos o nosso compromisso, como aconteceu recentemente, na nossa cidade do Porto, na presença de representantes do Governo de Portugal e de ministros do desporto europeus e ainda na reunião magna da Associação Europeia de Clubes (ECA), onde o FC Porto voltou a estar condignamente representado, tendo tido a oportunidade de sublinhar a nossa posição e compromisso com a integridade e a credibilidade do futebol”, salientou.

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“No que ao FC Porto respeita, temos avançado com determinação e atuação diligente. Estamos na linha da frente e connosco queremos todos aqueles que vejam neste combate um desígnio. Seremos incansáveis na procura de um compromisso coletivo e uma vontade política real de reformar a indústria, valorizando os seus atores e, em especial, os amantes deste desporto-rei. É por isso que interpelámos os poderes públicos e do futebol e as entidades de gestão do futebol, instando a que promovam mudanças e reformas estruturais através de revisões legais, regulatórias, de fiscalização e disciplinares, pois os impactos para o ecossistema do futebol, para a sociedade e para a economia decorrentes do atual estado de coisas são profundamente preocupantes”, destacou André Villas-Boas, entre algumas questões: “Alguém foi sancionado pelos tribunais com penas dissuasivas que desincentivem a repetição destes comportamentos? Por que é que alguns comportamentos muito graves, que comprometem a verdade desportiva e são comprovados judicialmente, não têm reflexo condizente nos órgãos de justiça e disciplina desportiva?”.

“Estas situações não podem resultar de uma ‘ardilosa sabedoria’ em navegar no sistema judicial e disciplinar o qual deveria funcionar como um motor de desenvolvimento e não de entrave. Não queremos sequer imaginar um país que, anos à frente, ainda se depare com casos de corrupção ativa e passiva em tribunais civis e criminais sem a devida repercussão nos órgãos de justiça desportiva ou o teatro de sombras que transforma colaboradores diretos em ‘meros conhecidos’ que, por simpatia, corrompem para beneficiar os ‘amigos’ sem censura ou reprovação; ou entidades fiscalizadoras e de regulação ignorem ou tratem superficialmente esquemas financeiros suspeitos ou não questionem a origem dos capitais envolvidos. Fazer justiça, punir os prevaricadores e restaurar a verdade desportiva significa ser exigente com todo o sistema de justiça e disciplinar. E sermos consequentes”, concluiu o presidente dos dragões.