Atípica. Foi desta forma que se viveu a partida desta terça-feira no Estádio Santiago Bernabéu. É certo que estamos a falar da melhor competição de clubes do mundo. Também é certo que se trata de um embate entre as duas equipas mais tituladas. E não é menos certo que o Real Madrid tem um fetiche especial pela Liga dos Campeões. Ainda assim, a situação devastadora que se vive em Espanha fazia deste um jogo com muitas particularidades e demasiado atípico, com os próprios jogadores a manifestarem a sua falta de vontade por jogar devido à tragédia que assola a Comunidade Valenciana.

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Depois de o jogo do fim de semana ter sido adiado, precisamente em casa do Valência, a equipa de Carlo Ancelotti chegou a esta partida frente ao antigo clube, no qual ganhou a Champions como jogador e treinador, sem competir há dez dias e altamente desmoralizada pela goleada sofrida na receção ao rival Barcelona (0-4). Ainda assim, os merengues procuravam segurar a invencibilidade em casa na prova milionária, que já perdurava há 15 jogos, com a última derrota a distar de abril de 2022 (2-3 contra o Chelsea). Para a partida frente ao Milan, o técnico italiano contava com uma grande novidade, já que Rodrygo recuperou da lesão muscular e estava apto para o duelo. Em sentido inverso, Courtois continuava de fora, o que obrigadva Lunin a continuar a defender as redes blancas.

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“O futebol é uma festa. Pode-se festejar quando se está bem. Quando as pessoas não estão bem, não é preciso festejar-se. É uma semana difícil porque o ambiente não é normal, mas não é por causa da Bola de Ouro. A gala já passou e o ambiente diferente é por causa do que aconteceu em Valência. É uma pena que tenhamos tido tempo para preparar este jogo. Preparação? Foi difícil. Não se tem a cabeça no trabalho. Tem sido inacreditável, terrível. Vamos tentar jogar e ganhar, porque é isso que temos de fazer”, partilhou Ancelotti numa conferência de imprensa totalmente anormal, em que preferiu “não falar de futebol”.

Do outro lado estava um conjunto rossoneri a precisar urgentemente de pontos da Liga dos Campeões, já que chegou ao Bernabéu com apenas uma vitória (3-1 ao Club Brugge). Com Álvaro Morata em destaque na antecâmara do reencontro com o clube que o formou, a formação de Paulo Fonseca apresentava-se inconstante, ocupando apenas o sétimo lugar da Serie A. Sem Florenzi, Jovic e Gabbia, mas com Abraham a ameaçar a presença no onze inicial, a única certeza do português era a titularidade de Rafael Leão.

“A motivação é grande. Sabemos que vamos jogar contra o principal candidato à conquista da Liga dos Campeões. Para nós é uma oportunidade de provar o nosso valor, de continuar a crescer enfrentando os melhores jogadores, a melhor equipa, sem medo de nada e com coragem porque acreditamos que podemos fazer um bom jogo. Rafael Leão vai jogar de início e esperamos que seja decisivo no jogo. O empate seria um resultado positivo? Sinceramente, penso e tento transmitir aos jogadores sempre a vontade de ganhar. Em Madrid não será diferente. Penso sempre em ganhar, sabendo que o Real é uma grande equipa”, assumiu Fonseca no lançamento do encontro.

Face a El Clásico, Ancelotti fez apenas uma alteração no onze inicial, com Modric a render Camavinga e a disputar o jogo 550 com a camisola madrilena. Para além disso, confirmou-se a recuperação de Rüdiger, que atuou ao lado de Militão no centro da defesa. Já Fonseca juntou Pulisic a Leão e Morata no ataque, com Thiaw e Musah a aparecerem na equipa em relação ao jogo com os belgas. Antes da partida, o Santiago Bernabéu registou uma sentida homenagem em homenagem às vítimas da DANA, com os jogadores do Real Madrid a entrarem em campo com uma camisola que dizia: “Somos todos Valência”. Os futebolistas utilizaram braçadeiras negras no equipamento e as bancadas exibiram em grande plano a bandeira da Comunidade Valenciana.

A partida começou de feição para o Milan que, contra todas as expectativas, inaugurou o marcador logo na fase inicial, com Pulisic a cobrar um canto na esquerda para a cabeça de Thiaw, que não precisou de muito para ganhar nas alturas (12′). Contudo, o campeão europeu respondeu e, logo na jogada seguinte, Mbappé obrigou Maignan a aplicar-se com um remate rasteiro. Na sequência da jogada, Bellingham atirou para as mãos do francês (13′). Pouco depois, Vini foi rasteirado por Emerson Royal dentro da área e, na cobrança, o internacional brasileiro fez o empate (23′).

Apesar do golo sofrido, a equipa de Paulo Fonseca conseguiu voltar a superiorizar-se e, através de um remate de fora da área de Reijnders, voltou a criar perigo, com Lunin a esticar-se para impedir o golo (31′). Adivinhava-se novo tento visitante e ele acabou por aparecer ainda no primeiro tempo, numa jogada em que Morata combinou com Pulisic e, depois de uma defesa incompleta do ucraniano a remate de Leão, encostou para dentro (39′). A fechar a primeira parte ainda houve tempo para Mbappé voltar a testar Maignan (44′).

Na etapa complementar, o Real Madrid entrou com tudo e, através de Bellingham, ficou perto de voltar a empatar o jogo na fase inicial (48′). Com vinha sendo apanágio, os rossoneri responderam de pronto, com Leão a cabecear para uma defesa de grande nível de Lunin em cima da linha de golo (52′). As oportunidades continuaram a surgir nas duas balizas, mas nem Mbappé (62′) nem Morata (69′) tiveram pontaria. Contudo, já na parte final do encontro, Reijnders voltou a subir à área e, desta feita, dilatou a vantagem, depois de mais uma grande arrancada do internacional português (73′). Até ao apito final, Rüdiger ainda reduziu, mas o golo acabou anulado por fora de jogo de Rodrygo (82′).

Paulo Fonseca voltou a apresentar-se em grande nível nas competições europeias e ajudou o Milan a triunfar em casa do Real Madrid 15 anos depois. Com este triunfo, os italianos subiram 18.º posto e igualaram os espanhóis na classificação, com seis pontos. Na próxima ronda, o rossoneri vão viajar até ao reduto do Slovan Bratislava, ao passo que os merengues terão pela frente mais um grande embate, desta feita em casa do Liverpool.